domingo, 4 de setembro de 2011

O Caminho da Beleza 43 - XXIV Domingo do Tempo Comum

O Caminho da Beleza 43
Leituras para a travessia da vida


A beleza é a grande necessidade do homem; é a raiz da qual brota o tronco de nossa paz e os frutos da nossa esperança. A beleza é também reveladora de Deus porque, como Ele, a obra bela é pura gratuidade, convite à liberdade e arranca do egoísmo” (Bento XVI, Barcelona, 2010).

Quando recebia tuas palavras, eu as devorava; tua palavra era o meu prazer e minha íntima alegria” (Jr 15, 16).



XXIV Domingo do Tempo Comum                         11.09.2011
Eclo 27, 33-28, 9             Rm 14, 7-9              Mt 18, 21-35



ESCUTAR

“Se alguém guarda raiva contra o outro, como poderá pedir a Deus a cura? Se não tem compaixão do seu semelhante, como poderá pedir perdão dos seus pecados?” (Eclo 27, 3-4).

“Irmãos, ninguém dentre nós vive para si mesmo ou morre para si mesmo. Se estamos vivos, é para o Senhor que vivemos; se morremos, é para o Senhor que morremos. Portanto, vivos ou mortos, pertencemos ao Senhor” (Rm 14, 7-8).

“Senhor, quantas vezes devo perdoar se meu irmão pecar contra mim? Até sete vezes?” (Mt 18, 21).


MEDITAR

“Nosso grande erro é tentar obter de cada um em particular as virtudes que ele não tem e negligenciar o cultivo das virtudes que ele possui” (Marguerite Youcenar).

“Todo grupo humano se enriquece na comunicação, na ajuda mútua e na solidariedade visando o bem comum: o desabrochar de cada um no respeito das diferenças” (Françoise Dolto).


ORAR

            Após recomendar o amor fraterno como constitutivo da comunidade, Jesus convida os seus discípulos para ir mais longe, até o perdão das ofensas, sem limites e sem voltas. Setenta vezes sete é a vingança extrema citada nos velhos contos épicos: “Se a vingança de Caim valia por sete, a de Lamec valerá por setenta e sete (Gn 4, 24).
            Nem Pedro e nem André, seu irmão, frequentaram a escola, pois desde cedo tiveram que aprender, com o seu pai, o ofício de pescador. A pergunta de Pedro a Jesus, sobre quantas vezes teria que perdoar seu irmão, foi uma clamorosa desgraça, pois teria sido mais justo e singelo da sua parte ter perguntado quantas vezes poderia perdoar. E, um pouco antes, Jesus colocara em suas mãos as chaves do Reino de Deus e a responsabilidade de decidir atar ou desatar tanto na terra como no céu (Mt 16, 19). Jesus lhe concedera, com infinita generosidade, esta missão apesar da sua limitação no uso dos verbos.
            Pedro ainda não compreendera que o perdão não é um prêmio, uma imposição, mas uma estupenda possibilidade; não um peso, mas uma libertação. O perdão é uma inacreditável possibilidade que nos é oferecida de fazer o mesmo gesto misericordioso e sem limites do Pai que zera todas as contas e anula todas as dívidas.
            O perdão, e tão somente ele, nos garante a certeza de virar a regra do jogo marcada pela ofensa, pela violência, pelo ódio do adversário, pela vingança, pelo rancor e pelo ressentimento.
            Pedro e André não foram à escola. E Pedro só conseguiu contar até sete na tentativa de regulamentar o perdão ao fixar um teto limite. Pedro fez uma tentativa para dissimular a sua limitação de quantificar a misericórdia e, na maior das boas intenções, tinha medo de “exagerar” e se mostrar generoso e excessivo no perdão, pois, talvez, poderia enfraquecer com isto a sua autoridade.
            Jesus lhe revela que não há cifras para o amor, que não existe “a última vez”, mas somente limites continuamente superáveis. “Sim, o amor é êxtase; êxtase não no sentido de um instante de inebriamento, mas como caminho, como êxodo permanente do eu fechado em si mesmo para sua libertação no dom de si e, precisamente dessa forma, para o reencontro de si mesmo, mais ainda para a descoberta de Deus” (Bento XVI, Deus Caritas Est). No calendário cristão todo o dia é sempre dia de amar e de perdoar sem medidas.
            É o momento de inverter as preocupações e perguntar quantas vezes fizemos danos aos outros, pois também podemos ofender e escandalizar os nossos irmãos e irmãs. Temos que aniquilar o perdão regulamentado porque ele é sempre de mão única e um perdão de superioridade: de cima para baixo e, portanto, um perdão sem as entranhas da compaixão.
            Pedro só descobriu o perdão quando se tornou um devedor insolvente pela negação que fez de Jesus: “Não conheço este homem!” (Lc 22, 57).
            O perdão cristão, como a misericórdia do Pai, não entra em nenhuma medida humana e, por isso, por mais que queiramos, será impossível tomar posse dele e reservá-lo para nós.
            Que não sejamos nós a perguntar ao Cristo: quantas vezes podemos ser generosos como fostes conosco?


CONTEMPLAR

O servo perdoado que não perdoa, Heinrich Füllmaurer, painel do Altar de Mömpelgard, c. 1530-1570, Kunsthistoriches Museum, Viena, Áustria.




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