segunda-feira, 1 de agosto de 2011

O Caminho da Beleza 38 - XIX Domingo do Tempo Comum

O Caminho da Beleza 38
Leituras para a travessia da vida


A beleza é a grande necessidade do homem; é a raiz da qual brota o tronco de nossa paz e os frutos da nossa esperança. A beleza é também reveladora de Deus porque, como Ele, a obra bela é pura gratuidade, convite à liberdade e arranca do egoísmo” (Bento XVI, Barcelona, 2010).

Quando recebia tuas palavras, eu as devorava; tua palavra era o meu prazer e minha íntima alegria” (Jr 15, 16).



XIX Domingo do Tempo Comum                07.08.2011
1 Rs 19, 9.11-13                 Rm 9, 1-5                Mt 14, 22-33


ESCUTAR

“Ouviu-se um murmúrio de uma leve brisa. Ouvindo isto, Elias cobriu o rosto com o manto, saiu e pôs-se à entrada da gruta” (1 Rs 19, 12).

“Não estou mentindo, mas, em Cristo, digo a verdade, apoiado no testemunho do Espírito Santo e da minha consciência. Tenho no coração uma grande tristeza e uma dor contínua” (Rm 9, 1).

“Senhor, se és tu, manda-me ir ao teu encontro caminhando sobre a água. E Jesus respondeu: ‘Vem!’. Mas, quando sentiu o vento ficou com medo e começando a afundar, gritou: ‘Senhor, salva-me!’. Jesus logo estendeu a mão, segurou Pedro, e lhe disse: ‘Homem fraco na fé, por que duvidaste?’” (Mt 14, 28.30-31).


MEDITAR

“Nosso corpo é o primeiro evangelho, pois é por meio da expressão do nosso rosto, da nossa abertura, da nossa terna cordialidade e nosso sorriso que se deve passar o testemunho da Presença Divina. O que devemos viver é permitir Deus passar, comunicar a sua Luz, permitir Deus dar aos outros, por meio da nossa solicitude humana, a Presença adorável do Eterno Amor” (Maurice Zundel).

“Nossa maior ameaça é o medíocre pragmatismo da vida cotidiana da Igreja, no qual, aparentemente, tudo procede com normalidade, mas na verdade a fé vai se desgastando e degenerando em mesquinhez” (Cardeal Joseph Ratzinger).


ORAR

            O profeta Elias vê desaparecer o seu velho Deus do Terror: uma imagem deformada a que estava apegado. O silêncio lhe entrega o verdadeiro Deus que estava no murmúrio de um silêncio sutil. Deus é silêncio, paz, intimidade e uma presença serenante. E Elias sai desta experiência transformado, transfigurado. O profeta guerreiro se converte num homem pacificado e, desde então, pode falar de Deus sem vociferar e invocar o fogo do céu: “O Senhor enviou um raio que incendiou a vítima, a lenha, as pedras e o pó, secando a água do canal (...) Eles os prenderam [os profetas de Baal], Elias os fez descer à torrente Quison e aí os degolou”(1 Rs 18, 38.40).
            O silêncio não profana o mistério, pois somente na calma de um ânimo sereno é possível vislumbrar, como num espelho, a imagem de Deus. Como afirma Raimon Panikkar: “A Palavra é o êxtase do Silêncio”.
            Deus é paz, mas os apóstolos devem atravessar a tempestade e a sua frágil embarcação parece não suportar a fúria de um vento que levanta ondas cada vez mais altas. Na tradição do Antigo Testamento, a expressão vento forte evoca tirania política e, simbolicamente, os apóstolos temem o enfrentamento político e religioso decorrente do seu seguimento a Jesus.
 O encontro de Jesus traz paz; no entanto Pedro, o pescador profissional de outras tempestades, corre o perigo de afundar nas águas que lhe faltaram debaixo dos pés. Pedro/pedra se torna pesado pelo medo e tendo pouca fé é arrastado pelo próprio peso da ambição de se sobressair e se distinguir dos outros.
            O segredo de Jesus é a oração. A oração derrota o medo, liberta de tudo o que pesa. Jesus despede a multidão e se afasta para orar porque sabia que “pensavam proclamá-lo rei” (Jo 6, 15). E retirado para rezar a sós, não se separou das dificuldades e problemas da multidão, pois pela oração estava próximo do Pai e dos homens e mulheres.
            Jesus afirma a sua identidade divina: “Sou eu/Eu sou”: “O mar te viu, ó Deus, o mar te viu e tremeu, as ondas estremeceram” (Sl 77, 17). Devemos caminhar para Jesus ainda que não tenhamos terra firme sob os pés, mas água; ainda que não possamos nos apoiar em argumentos seguros, mas na debilidade da nossa fé, com a certeza e a segurança que, no limite, Jesus sempre nos estenderá a mão.
            Devemos enfrentar nossas crises de secura interior, de indiferença e ceticismo, quando temos a sensação de termos nos perdido de Deus, ou, pior ainda, que Ele tenha se perdido de nós. Nestes momentos e nestas horas, basta uma súplica orante: “Senhor, salva-me!” e sentiremos, como Pedro, a mão estendida a nos segurar e a nos pedir que não duvidemos mais da Sua presença em nós e conosco. Jesus não chama ninguém de incrédulo, mas de ter pouca fé e é esta pouca fé que nos faz duvidar de nós mesmos e, consequentemente, de Deus.
            Temos que aprender esta postura vital de nos prostrar diante do Senhor em oração e dizer com o coração sereno: “Verdadeiramente, tu és o Filho de Deus”. Assim poderemos nos aventurar a dar alguns passos pelo caminho dos homens sem que nos falte terra debaixo dos pés.
            Sejamos ou não fracos na fé, covardes diante do pecado do mundo, omissos perante os enfrentamentos, dissimulados por medo da verdade, Jesus sempre nos estenderá a mão para que na travessia do mar da vida possamos ter a oportunidade da reconciliação.
            Abrir as mentes, abrigar nos corações uma ternura visceral, pois, no meio dos despossuídos, a fome é uma realidade concreta e, por isso, Jesus rejeita a piedade do jejum em favor da prática de ir ao encontro das necessidades humanas reais. Jesus foi orar a sós depois de saciar, pela multiplicação dos pães, a multidão que o seguia e que parecia aos olhos do seu coração como um rebanho de ovelhas sem pastor (Mc 6, 34).


CONTEMPLAR

Cristo andando sobre a água, depois da “Navicella” de Giotto, Antoniazzo Romano, c. 1485, óleo sobre madeira, 190 x 179 cm, Museu do Petit Palais, Avignon, França.




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