terça-feira, 26 de julho de 2011

O Caminho da Beleza 37 - XVIII Domingo do Tempo Comum

O Caminho da Beleza 37
Leituras para a travessia da vida


A beleza é a grande necessidade do homem; é a raiz da qual brota o tronco de nossa paz e os frutos da nossa esperança. A beleza é também reveladora de Deus porque, como Ele, a obra bela é pura gratuidade, convite à liberdade e arranca do egoísmo” (Bento XVI, Barcelona, 2010).

Quando recebia tuas palavras, eu as devorava; tua palavra era o meu prazer e minha íntima alegria” (Jr 15, 16).



XVIII Domingo do Tempo Comum            31.07.2011
Is 55, 1-3                 Rm 8, 35.37-39                Mt 14, 13-21


ESCUTAR

“Ó vós todos que estais com sede, vinde às águas; vós que não tendes dinheiro, apressai-vos, vinde e comei, vinde comprar sem dinheiro, tomar vinho e leite sem nenhuma paga” (Is 55, 1).

“Quem nos separará do amor de Cristo? Tribulação? Angústia? Perseguição? Fome? Nudez? Perigo? Espada? Em tudo isso, somos mais que vencedores, graças àquele que nos amou!” (Rm 8, 35-37)

“Eles não precisam ir embora. Dai-lhes vós mesmos de comer!” (Mt 14, 16).


MEDITAR

“O templo tornou-se uma vasta companhia de seguros para a vida eterna, com o mínimo de risco, com uma técnica de consolação e de truques apropriados para cada caso. Prega-se a fé cristã como o melhor investimento da vida, oferece-se a Santa Ceia como um comprimido de eternidade. O que pôs a perder o cristianismo histórico foi o otimismo da beatice vazia de toda a existência trágica” (Paul Evdokimov, O amor louco de Deus).

 “A vocação de toda criatura não é suportar a sua existência, mas fazer dela uma oferenda e um dom” (Maurice Zundel, Le problème que nous sommes).


ORAR

            Deus pede a todos os homens e mulheres que peçam: “Ó vós todos...”, pois devemos nos dar conta de que a fome e a sede nos conduzem ao risco de morrer por sermos incapazes de pedir o que precisamos para viver. Estar sedento é provocar um desejo intenso. Deus é gratuito, mas não é supérfluo e oferece seus dons sob o signo da gratuidade: “Comprai sem dinheiro... comei e bebei sem pagar”.
            Quantos de nós O temos considerado supérfluo e decorativo na nossa existência? Quantos de nós O consideramos custoso e difícil e tentamos pagar por Sua proteção com uma sobretaxa monetária depositada nos envelopes do dízimo ou nas caixas dominicais como se a sua bênção estivesse na razão direta da quantia dada?
            Para os que pensam que tudo e todos têm um preço, um Deus gratuito, mas não supérfluo é embaraçoso e até insuportável. Enquanto tentamos regatear com Ele num infindável toma lá dá cá. Ele apenas nos conclama: “Vinde todos!”.
            O Evangelho de hoje revela que os cristãos não podem assumir uma postura demissionária, como a dos apóstolos, de indiferença e estranheza: “Despede as multidões, para que possam comprar comida”. O desejo mais profundo de Jesus, cheio de compaixão, antes de efetivar a multiplicação dos pães, é realizar o milagre da multiplicação de discípulos responsáveis e solidários: “Dai-lhes vós mesmos de comer!”. Ele os faz cair em contradição e os deixa indignados. Jesus sabia que haviam contrariado a sua ordem e que teriam que gastar as moedas de prata que angariaram para comprar os alimentos e saciar a fome das pessoas
            Jesus no deserto conheceu a fome e por esta razão quer que a sua Igreja nunca coma primeiro do que os outros que têm tanta fome quanto ela. A Igreja de Jesus depois de ter servido a todos os outros, quaisquer que sejam, deve comer por último do que sobrou, pois o milagre de Deus é fazer sobrar sempre em abundância.
            Milagre é se deixar envolver na situação do outro, comover-se pela dor alheia, sentir-se questionado por suas necessidades, compadecer-se de suas misérias e ser sensível a uma situação desesperadora. Jesus nos testemunha que cada um de nós é responsável pela fome do outro: fome de pão, fome de amor, fome de amizade, fome de compreensão, fome de escuta e fome de justiça. Não temos o direito de fazer do culto a Deus um espetáculo e enterrarmos nas catacumbas dos nossos corações os nossos desmazelos inconfessáveis.
            Para o cristão jamais soa a hora de despedir quem quer que seja, porque sempre será a hora de acolher, de estar vigilante e de se comprometer. Paulo revela que se estamos ligados ao amor do Cristo, este vínculo é mais forte do que qualquer contrariedade ou divisão. Por esta razão nenhum cristão será alguém que despede, pois para os cristãos jamais existe a hora da separação. Se dermos as costas aos famintos do mundo, aos que não sabem o que é viver com pão e dignidade, perderemos a nossa identidade samaritana, seremos desleais ao Cristo, desonraremos a sua Palavra e nos converteremos em réus nas celebrações eucarísticas.
            Escutemos as palavras de João Crisóstomo: “Quereis honrar o Corpo do Salvador? Então não O desprezeis quando O virdes coberto de andrajos. Depois de O teres honrado na igreja com vestes de seda, não O deixes do lado de fora, sofrendo frio, miséria e abandono. Deus não precisa de cálices de ouro, mas de almas e vidas de ouro. Que importa que a mesa do Cristo cintile com cálices de ouro se Ele próprio morre de fome e sede? Aliás, saibam que o templo deste irmão é mais precioso do que o de Deus”.


CONTEMPLAR

A Alimentação dos Cinco Mil, Daniel Bonnell, s.d., óleo sobre tela, 24” x 48”, Coleção Particular, Estados-Unidos.




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