quinta-feira, 25 de agosto de 2011

O Caminho da Beleza 41 - XXII Domingo do Tempo Comum

O Caminho da Beleza 41
Leituras para a travessia da vida


A beleza é a grande necessidade do homem; é a raiz da qual brota o tronco de nossa paz e os frutos da nossa esperança. A beleza é também reveladora de Deus porque, como Ele, a obra bela é pura gratuidade, convite à liberdade e arranca do egoísmo” (Bento XVI, Barcelona, 2010).

Quando recebia tuas palavras, eu as devorava; tua palavra era o meu prazer e minha íntima alegria” (Jr 15, 16).



XXII Domingo do Tempo Comum              28.08.2011
Jr 20, 7-9                Rm 12, 1-2              Mt 16, 21-27


ESCUTAR
“Seduziste-me, Senhor, e deixei-me seduzir; foste mais forte, tiveste mais poder” (Jr 20, 7).
“Não vos conformeis com o mundo, mas transformai-vos, renovando vossa maneira de pensar e de julgar para que possais distinguir o que é da vontade de Deus, isto é, o que é bom, o que lhe agrada, o que é perfeito” (Rm 12, 2).
“Se alguém quer me seguir renuncie a si mesmo, tome a sua cruz e me siga. Pois, quem quiser salvar a sua vida vai perdê-la; e quem perder a sua vida por causa de mim, vai encontrá-la” (Mt 16, 24-25).

MEDITAR
“‘A sabedoria deste mundo é loucura para Deus’. Esta loucura é aquela do extremo amor. Se, como cristãos, estamos além do razoável, é porque o clima em que o Cristo nos pediu para viver é o do amor. Se somos loucos, é por amor” (Philippe Dagonnet).
“Amar é esvaziar-se de si, ser pobre de si e fazer de si um espaço onde cada um possa respirar sua vida” (Maurice Zundel).

ORAR
            O profeta Jeremias, seduzido, coloca a descoberto as suas feridas. Não suspira, grita; não se sente culpado por sua debilidade, mas acusa Deus de prepotência. Acusa Deus de tê-lo seduzido e seduzir aqui está no mesmo sentido que compreendemos: iludir, enganar, violentar. Jeremias não diz: “Fascinaste-me!”, mas “enganaste-me e aproveitaste de mim”. Acusa Deus de conseguir o que queria e depois de abandoná-lo, expondo-o à vergonha e ao desprezo dos outros. Jeremias grita que fez papel de bobo, que se deixou seduzir como um estúpido e que perdera a cabeça. A lua de mel acabara: “Quando recebia tuas palavras, eu as devorava, tua palavra era meu prazer e minha íntima alegria” (Jr 15, 16) e agora eram dramáticas as consequências: “A palavra do Senhor tornou-se para mim fonte de vergonha e de chacota o dia inteiro”. Jeremias está em crise porque viveu até as últimas consequências as exigências da sua vocação e agora não pode mais nada porque o Senhor havia tomado posse de sua pessoa como um fogo, uma paixão e uma febre incontroláveis. Jeremias decide continuar liberando o fogo que o consome, pois quando se perde, de verdade, a cabeça por Deus e sua Palavra, é melhor estar exposto aos escárnios do que reencontrar a cabeça.
            Jesus apresenta uma situação desconfortável para os que desejam segui-Lo: negar-se a si mesmo, tomar a sua cruz e perder a vida. É a identidade com o Cristo. Ele mesmo “que devia ir a Jerusalém, sofrer muito da parte dos anciãos, dos sumos sacerdotes e dos mestres da Lei e que devia ser morto e ressuscitar no terceiro dia”.
            Pedro está em desacordo com isto e recusa esta atitude de Jesus. Recusa, de início, a revelação e prefere ficar atrelado aos seus desejos pessoais: tranquilizadoras perspectivas triunfalistas, amplas concessões à ambição e a sedução pelo poder. Pedro e os demais se escandalizam da Cruz. Carregar a cruz é alargar a capacidade de suportar o sofrer por amor aos outros. O cristão não sofre por si mesmo, mas oferece o seu sofrer pelos outros. Uma vida cristã verdadeira confessa e testemunha o amor sem limites e discriminações.
            Pedro, a pedra, se tornou uma pedra de tropeço e de bem-aventurado é rebaixado a Satanás: o adversário. Jesus exige que o discipulado não pense em si mesmo. Tanto Jeremias quanto Pedro testemunham que o desígnio de Deus nunca foi, é ou será confortável. Dietrich Bonhöeffer, teólogo luterano, martirizado nas prisões nazistas escrevia: “Quando Deus chama um profeta, ordena que vá e morra!”.
            Sofremos, tantas vezes, a tentação de calar, de não dizer mais nada, de deixar que o mundo siga o seu caminho e que cada um fique na sua. Como diz o ditado nordestino: “Cada quem com seu cada qual!”. Mas ao desejo de se calar se contrapõe a Palavra que, queimando nossas entranhas, nos desinstala e nos leva a proclamar, custe o que custar, a Boa Nova.  Paulo escreve que devemos oferecer nossos corpos como hóstias vivas e santas. A entrega de nossas vidas faz da existência inteira uma única celebração litúrgica.
            Pedro foge como o diabo da cruz e quase divide a comunidade de Jesus. Os que apostam na divisão temem a cruz porque ela é a união e a força dos que amam. Os que dividem sempre hão de procurar para si saídas e escapes individuais. A cruz é a encruzilhada do divino com o humano e na Sua mesa celebramos as núpcias de Deus com a Humanidade porque o pão e o vinho se transformam em seu Corpo e seu Sangue, comida e bebida, dos que se amam e se fundem em vínculos de amor: “Um é o pão e um é o corpo que formamos, apesar de muitos; pois todos partilhamos o único pão” (1 Cor 10, 17).
            Gravemos na travessia as palavras do poeta: “Cheio de Deus não temo o que virá, pois venha o que vier nunca será maior do que minha alma” (Fernando Pessoa).

CONTEMPLAR
Domine, quo vadis?, Annibale Carraci, 1595, óleo sobre madeira, 77,4 x 56,3 cm, National Gallery, Londres, Reino Unido.


           

           

           




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