quinta-feira, 18 de agosto de 2011

O Caminho da Beleza 40 - Assunção de Nossa Senhora

O Caminho da Beleza 40
Leituras para a travessia da vida


A beleza é a grande necessidade do homem; é a raiz da qual brota o tronco de nossa paz e os frutos da nossa esperança. A beleza é também reveladora de Deus porque, como Ele, a obra bela é pura gratuidade, convite à liberdade e arranca do egoísmo” (Bento XVI, Barcelona, 2010).

Quando recebia tuas palavras, eu as devorava; tua palavra era o meu prazer e minha íntima alegria” (Jr 15, 16).



Assunção de Nossa Senhora             21.08.2011
Ap 11, 19; 12, 1.3-6.10                1 Cor 15, 20-27                  Lc 1, 39-56


ESCUTAR
“Abriu-se o Templo de Deus que está no céu e apareceu no Templo a arca da Aliança. Então apareceu no céu um grande sinal: uma mulher vestida de sol, tendo a lua debaixo dos pés e sobre a cabeça uma coroa de doze estrelas” (Ap 11, 19.12, 1).
“Cristo ressuscitou dos mortos como primícias dos que morreram (...) O último inimigo a ser destruído é a morte” (1 Cor 15, 20.26).
“Bendita és tu entre as mulheres e bendito é o fruto do seu ventre”(Lc 1, 42).

MEDITAR
“Ser grande é prosseguir; prosseguir é estar longe e estar longe é voltar” (Lao Tsé).
“Pai, rogo-te que me guardes nesse silêncio para que eu aprenda dele a palavra da tua paz, a palavra da tua misericórdia e a palavra da tua mansidão para com o mundo. E que por mim, talvez, tua palavra de paz possa ser ouvida onde, por muito tempo, não foi possível a ninguém ouvi-la” (Thomas Merton).

ORAR
            A encarnação de Jesus é nupcial e significa uma nova criação esponsal: “Já não são dois, mas uma só carne” (Mt 19, 5). Maria é fecundada pelo Espírito do Senhor e faz uma só carne, como uma união nupcial, com o seu Filho Jesus e de Deus com a humanidade.
            A festa de hoje nos assegura que não estamos caminhando para a morte, mas para a ressurreição e a vida eterna. O céu não representa uma ameaça nem uma chantagem, pois é uma possibilidade inaudita e uma chamada à liberdade.
            Hoje celebramos a festa do corpo e um corpo destinado à imortalidade. Os maniqueísmos estão derrubados e a totalidade do nosso ser – corpo, alma e mente (soma, pneuma e psique) – participa da glória. Maria, no seu Magnificat, recupera o sentido do corpo nessa experiência do céu na terra que é a oração.
            Orar significa desatar-se. Significa virar do avesso nosso corpo: arrancar a máscara da sisudez dos rostos e rir; estender as mãos encolhidas e retesadas num gesto de dom; caminhar com os pés na direção do amor, da amizade, da paz e não mais em qualquer direção. Orar é desatar-se, pois uma oração que nos mantenha rígidos, endurecidos pelo hábito, entediados com o reto tono das invocações não é uma oração. Deus não quer mais rituais de devoção com holocaustos e sacrifícios. Ele quer o homem e a sua resposta pela oração. Bento XVI nos diz: “a oração, a abertura do espírito humano para Deus é o verdadeiro culto. Quanto mais o homem se torna palavra – ou melhor, se torna resposta a Deus com a sua vida inteira –, tanto mais ele realiza o culto justo” (Jesus de Nazaré, vol. 2).
            Davi dançou diante da Arca (2 Sm 6, 14) e nós que proclamamos ter encontrado Deus nos assemelhamos a múmias enfaixadas e sem rosto. A Sabedoria exclama, ao estar com Deus, no momento da criação, que “dançava sem cessar” (Pv 8, 30-31). Mesmo João, o Batista, o homem austero que caminhava pelo deserto e se alimentava de gafanhotos e mel, deu cambalhotas no ventre de sua mãe Isabel assim que sentiu, no abraço visceral entre elas, a presença do mistério escondido no corpo de Maria.
            A Arca da Aliança não está mais colocada no marco solene do Templo, rodeada de símbolos quase indecifráveis e objeto de ritos solenes. A Arca da Aliança é, desde a encarnação, uma mulher de carne e osso que leva um filho em suas entranhas. O encontro de Isabel e Maria, grávidas, acontece conforme os ritos cotidianos da hospitalidade, mas significa muito mais do que isto. O encontro de Maria e Isabel é uma silenciosa cumplicidade e um diálogo de entranhas. O corpo de Maria se faz tabernáculo da divindade, pois Deus tem pressa para vir ao encontro dos homens e mulheres concretos e caminhar, lado a lado, com eles. O Emmanuel – Deus Conosco – tem urgência para entrar em casa e estar no meio de Deus como uma tenda de luz armada no meio do sofrimento e das trevas do mundo e dar a conhecer o Seu rosto de compaixão, de ternura e de misericórdia.
            Seguirá os nossos passos para que possamos seguir os Dele; chorará as nossas lágrimas para que possamos chorar com os nossos irmãos e irmãs que são Ele próprio; amará o nosso amor para que jamais esqueçamos Dele em cada ser humano que nos interpela: “Tive fome...tive sede...estava nu...sem casa...; me deste de comer...me deste de beber...me vestiste...me hospedaste!” (Mt 24, 31-46). E nos congrega em torno da Eucaristia para que nos alimentando com o Pão da Vida e o Cálice da Salvação, ingressemos, eternamente, com nossos amados e amadas, no Reino preparado para nós.
            O corpo de Maria resplandece o Espírito de Ternura por ela ter consentido com o desígnio do Senhor e, na sua Assunção, ela não entra na posse da sua própria glória, mas da glória do Senhor. E esta glória do Senhor será de geração em geração, pois Maria esposou a misericórdia de Deus em profunda comunhão com as gerações e seu destino.
            O Livro do Apocalipse desvela que a Arca da Aliança apareceu no Templo de Deus, que está no céu, e nos deu um grande sinal: “uma mulher vestida de sol, tendo a lua debaixo dos pés e sobre a cabeça uma coroa de doze estrelas”.
            Maria nos entrega este Cristo presente em todos os momentos da história dos homens e nos permite tocar o Alfa e contemplar o Ômega, o começo e o fim desta “travessia perigosa, mas é a da vida”(Guimarães Rosa).
            Está na hora de sermos nós mesmos o nosso próprio milagre e virarmos do avesso nossas vidas ao converter a nossa escuridão e angústia numa grande luz; a nossa secura de amar em encontros férteis de amor e a nossa desesperança em horizontes sem fim. Basta que aprendamos, com Maria, a dizer: “Que a sua palavra se cumpra em mim”(Lc 1, 38).

CONTEMPLAR
O Encontro de Maria e de Elizabeth (Isabel), Jean-Marie Pirot (Arcabas), 1986, acetato de polivinil, óleo sobre tela de linho, 65 x 54 cm, França.



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