Como
se visse o Invisível, mantinha-se firme (Hb 11, 27).
Pentecostes
At 2, 1-11 1
Cor 12, 3b-7.12-13 Jo
20, 19-23
ESCUTAR
“Todos ficaram confusos,
pois cada um ouvia os discípulos falar em sua própria língua” (At 2, 6).
“A cada um é dada a
manifestação do Espírito em vista do bem comum” (1 Cor 12, 7).
“E depois de ter dito isso,
soprou sobre eles e disse: ‘Recebei o Espírito Santo’” (Jo 20, 22).
MEDITAR
Deve-se estar sempre embriagado. Nada mais conta. Para
não sentir o horrível fardo do Tempo que esmaga os vossos ombros e vos faz
pender para a Terra, deveis embriagar-vos sem tréguas. Mas de quê? De vinho, de
poesia ou de ternura, à vossa escolha. Mas embriagai-vos. E se algumas vezes,
nos degraus de um palácio, na erva verde de uma vala, na solidão baça do vosso
quarto, acordais já diminuída ou desaparecida a embriaguez, perguntai ao vento,
à vaga, à estrela, à ave, ao relógio, a Deus, a tudo o que foge, a tudo o que
geme, a tudo o que rola, a tudo o que canta, a tudo o que fala, perguntai que
horas são; e o vento, a vaga, a estrela, a ave, o relógio e Deus vos
responderão: “São horas de vos embriagardes! Para não serdes os escravos
martirizados do Tempo, embriagai-vos sem cessar! De vinho, de poesia ou de
ternura, à vossa escolha”.
(Charles Baudelaire)
É isto, o espírito. Esta capacidade de não submeter
sua existência, mas de assumi-la no amor para fazer dela uma oferenda luminosa
e universal.
(Maurice Zundel)
ORAR
Tentemos deixar fluir, ao
menos uma vez na vida, o sopro do Espírito dentro e no meio de nós. Deixemos
que sejam varridos das cabeças todos os símbolos do poder: coroas, solidéus,
mitras, com todas as máscaras e disfarces que ornam e corrompem as liturgias.
Permitamos que o sopro arranque as páginas dos nossos códigos, que leve para o
mais longe as sandices dos nossos discursos políticos, sociais e religiosos e
assistamos ao fogo se ocupar de queimá-los para que nunca mais pretendam nos
submeter. Com certeza, será um ganho para todos nós. Ele não sopra para
garantir a ordem, para avalizar decisões que prejudiquem o Bem Comum e nem
desempenha a função de juiz em nossos jogos com as regras determinadas por nós
e para o nosso sucesso. Façamos, ao menos uma vez, com plena confiança no
Espírito da Liberdade, a prova de acolher este mesmo Espírito como elemento
perturbador, verdadeira inspiração, desmonte das regras fixadas de antemão e
portador de coisas jamais vistas, ouvidas e experimentadas antes. Tenhamos a
coragem de sermos habitados pelo vento e pelo fogo. É o Espírito da Verdade que
vem a nós e nos produz como homens e mulheres que não temem as travessias
plurais da vida. O Ressuscitado abre o futuro, abre a porta e abre a esperança
do possível. Pentecostes é a festa de todos os possíveis. O Espírito acende em
nós uma paixão e uma nova criação nasce de um colossal incêndio que nos deixa
enamorados e nos surpreende com as palavras apaixonadas que por falso pudor
nunca nos permitimos, publicamente, dizer. O Espírito – vento e fogo – rompe os
limites das alcovas e das salas e brinca, diverte-se e ri da nossa sisudez e
pretensa seriedade. Vento e fogo são incontroláveis, imprevisíveis e a nova
aliança que trazem nos faz orbitar fora de nós e encontrar os outros conhecidos
e desconhecidos num abraço amoroso e livre. Os discípulos foram considerados
embriagados, pois novamente despertavam entusiasmados, cheios de Deus, para
anunciar, em todas as línguas, as maravilhas do Senhor. Toda a tentativa
hipócrita de administrar a ação do Espírito e falar em seu nome será um contrassenso.
O Espírito de Jesus se encontra na oração, na solidariedade, no perdão, na
palavra comprometida e na misericórdia que superam todas as fórmulas e as
frases de conveniência, os conselhos moralizantes e as respostas
pré-fabricadas. Jesus nos fala de um pecado contra o Espírito que nunca terá
perdão. É a blasfêmia de conceder ao Espírito apenas uma sutil e vigiada
fissura ao invés de janelas e portas abertas dos corações. O pecado irreparável
é a pretensão de falar da coragem cristã e oferecer ao Espírito um pouco menos
da metade de todo o resto que concedemos ao medo e a angústia. O pecado sem perdão
é falar de Pentecostes sem nunca nos permitir experimentar e viver até as
últimas consequências a sua embriaguez.
(Manos da Terna Solidão/Pe. Paulo Botas, mts e Pe.
Eduardo Spiller, mts)
CONTEMPLAR
Nuvens
de Fogo em Pôr-do-Sol, 2013, autor e local
desconhecidos.
Manos! Cada publicação é um convite a verdadeira dimensão humana. Parabéns pelas maravilhosas e marcantes publicações.
ResponderExcluirSempre em sintonia!
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