quinta-feira, 4 de julho de 2024

O Caminho da Beleza 33 - XIV Domingo do Tempo Comum

A Palavra se fez carne e armou sua tenda entre nós (Jo 1, 14).

XIV Domingo do Tempo Comum                

Ez 2, 2-5                  2 Cor 12, 7-10                    Mc 6, 1-6

 

 

ESCUTAR

 

“Assim diz o Senhor Deus: Quer te escutem, quer não – pois são um bando de rebeldes – ficarão sabendo que houve entre eles um profeta” (Ez 2, 4-5).

 

“Irmãos: para que a extraordinária grandeza das revelações não me ensoberbecesse, foi espetado na minha carne um espinho, que é como um anjo de Satanás a esbofetear-me, a fim de que eu não me exalte demais (...). Pois, quando eu me sinto fraco, é então que sou forte” (2 Cor 12, 7.10).

 

“Jesus lhes dizia: Um profeta só não é estimado em sua pátria, entre seus parentes e familiares” (Mc 6, 4).

 

 

MEDITAR

 

É preciso começar deixando de concentrar a atenção sobre nós mesmos, para nos perguntarmos o que Ele quer de nós. É preciso começar aprendendo a amar, isto é, a desviar o olhar de nós mesmos para olhar para Ele. Se, nessa perspectiva, cessarmos de nos perguntar o que podemos obter, nos deixando simplesmente guiar por Ele, nos perdemos em Cristo, nos deixando levar, esquecendo de nós mesmos; então ficará claro como nossa vida coloca-se novamente nos trilhos, porque superamos a restrição egoística, a qual até então nos levava a nos concentrar sobre nossa pessoa. Quando, por assim dizer, saímos do aperto, só então começamos a perceber a grandiosidade da existência.

(Bento XVI)

 

ORAR

 

Os textos das Escrituras deste Domingo nos conduzem a fazer um elogio da fraqueza: Ezequiel deve afrontar um povo rebelde; Paulo se debate com um espinho na carne e Jesus é desprezado e proscrito, em Nazaré, a sua própria terra. O profeta Ezequiel é incisivo: “E tu, filho de Adão, não tenhas medo deles, não tenhas medo do que disserem, mesmo quando te rodearem espinhos e te sentares sobre escorpiões” (Ez 2, 6). O Senhor não garante nenhum êxito, mas exige que se pronuncie a palavra, pois o seu resultado não depende da competência do profeta. A palavra do Senhor deve semear inquietudes e nenhum profeta pode reduzir a Palavra ao que as pessoas gostam de ouvir, pois a palavra profética é imperiosa, confrontadora e, na maioria das vezes, a sua glória vem da sua derrota. Jesus se depara com a mentalidade mais estreita, com a mesquinharia e com os preconceitos, mas sem se deixar bloquear ou paralisar por eles, “percorre os povoados da redondeza, ensinando”. Jesus dá o testemunho de que devemos nos libertar do entorno sufocante dos mesquinhos e semear a palavra em outra parte, em campos abertos onde sopra o vento que renova sempre o ar. Jesus testemunha ainda que o maior escândalo é o profeta perseguido na sua própria terra, difamado pelos seus e proscrito pelos que O conheceram desde que nasceu: “Este homem não é o carpinteiro, filho de Maria e irmão de Tiago, de José, de Judas e de Simão? Suas irmãs não moram aqui conosco?”. É mais fácil acolher a Palavra de Deus quando ela aparece de uma maneira prodigiosa; é muito mais difícil reconhecê-la na fragilidade e fraqueza de um homem. A palavra profética torna-se perigosa quando ameaça a estabilidade, a ordem existente e os equilíbrios enganosos. O profeta não teme a solidão e continuará a proclamar em alta voz, quase aos gritos, a Palavra. Ele assim o fará para que não ceda ao cansaço e ao desânimo; para que ele mesmo se converta sempre cada vez que a ouve sair da sua garganta, comprometendo a sua vida e existência. O verdadeiro profeta não se preocupa quando os ouvintes se afastam e, mesmo que não sobre ninguém, continuará a proclamar a Palavra. Deixemos gravado em nosso coração o poema de Drummond: “Eu preparo uma canção que faça acordar os homens e adormecer as crianças”. 

 

(Manos da Terna Solidão/Pe. Paulo Botas, mts e Pe. Eduardo Spiller, mts)

 

 

CONTEMPLAR

 

Lamentação sobre o Cristo (detalhe), 1436-1441, Fra Angelico (c. 1390/5-1455), têmpera e ouro sobre painel, 109 x 166 cm, Museu de São Marco, Florença, Itália.




 

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