A Palavra se fez carne e armou sua tenda entre nós (Jo 1, 14).
São Pedro e São Paulo
At 12, 1-11 2 Tm 4, 6-8.17-18 Mt 16, 13-19
ESCUTAR
“O anjo tocou o ombro de Pedro, acordou-o e disse: ‘Levanta-te depressa!’” (At 12, 7).
“Combati o bom combate, completei a corrida, guardei a fé” (2 Tm 4, 7).
“Tu és o Messias, o Filho do Deus vivo” (Mt 16,16).
MEDITAR
Daí, de haver-te alguém querido um dia,
sei que também temos o direito de querer-te.
Mesmo que toda profundeza rejeitássemos:
se uma montanha tem ouro,
e ninguém mais quer explorá-lo,
um dia há de trazê-lo à tona o rio
que em pesado silêncio vai trabalhando
as pedras.
Ainda que não queiramos:
Deus amadurece.
(Rainer Maria Rilke)
ORAR
A Igreja de Jesus, pobre e hospitaleira, nunca poderá estar aprisionada aos grilhões do poder, sejam os da perseguição ou os dos privilégios. Os mistérios foram e são revelados pelo Pai aos pequenos e não aos eruditos ou astutos. Pedro pertence à categoria dos simples seguidores que vivem com o coração aberto. É Jesus quem constrói a Igreja. Ela é sua e Jesus não a constrói sobre a areia. Pedro, como nós, será uma pedra nesta Igreja não por ter a solidez e a firmeza de temperamento. Pedro, honesto e apaixonado, é também inconstante e inconsistente. Seu poder repousa, simplesmente, sobre a sua fé em Cristo. Pedro é libertado da boca do leão, os dois sustentáculos do poder utilizados, em todo tempo, para a submissão de todos: o Estado e a Religião. Pedro exclama: “Agora eu sei, de fato, que o Senhor enviou o seu anjo para me libertar do poder de Herodes e de tudo o que o povo judeu esperava”. A Igreja de Jesus vive da sua dimensão peregrina, diversa e plural. Uma Igreja que durante a sua existência enfrentará situações de dilaceramentos e que nelas forjar-se-á como uma Igreja solidária e portadora da paz para todos os que sofrem perseguição por amor à justiça. Paulo, o que vive na liberdade do Espírito, revela que a travessia é duelo: combater, completar a corrida e guardar a fé. É a de sermos testemunhas vivas de que, apesar de tudo, somos capazes de manter a lealdade à comunidade fraterna de Jesus na qual aquele que se perde é o que se encontra. O Concílio Vaticano II vai consagrar a Igreja do Serviço: “Nenhuma ambição terrestre move a Igreja. Com efeito, guiada pelo Espírito Santo, ela pretende somente uma coisa: continuar a obra do próprio Cristo, que veio ao mundo para dar testemunho da verdade, para salvar e não para condenar, para servir e não para ser servido” (Gaudium et Spes, 3). Devemos ter cuidado ao usarmos metáforas para a Igreja de Jesus, sobretudo a da barca. No final do livro de Atos, todos são salvos não por estarem protegidos na barca, mas pela partilha do pão abençoado na presença de todos, por todos comido e, por isso, animados, alimentados e saciados. A barca encalhou nas correntes de suas próprias âncoras e, ironia do destino, ficou presa em si e por si mesma (At 27, 41). A comunidade eclesial deve ser a comunidade concreta de homens e mulheres, a Igreja de Jesus, que vai ao encontro e ao diálogo com todos os outros homens e mulheres do mundo. Uma Igreja pobre, mas rica de compaixão que não faz nas barcas do poder a sua travessia para a vida eterna, pois o Senhor prevenira que destas barcas sobrarão apenas os pedaços espalhados pelo mar da história.
(Manos da Terna Solidão/Pe. Paulo Botas, mts e Pe. Eduardo Spiller, mts)
CONTEMPLAR
Navegantes, Salvador, 1949, Pierre Verger (1902-1996), Galeria Fundação Pierre Verger, Salvador, Bahia.
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