quinta-feira, 6 de junho de 2024

O Caminho da Beleza 29 - X Domingo do Tempo Comum

A Palavra se fez carne e armou sua tenda entre nós (Jo 1, 14).

X Domingo do Tempo Comum                     

Gn 3, 9-15               2 Cor 4, 13-5, 1                  Mc 3, 20-35

 

ESCUTAR

“A mulher que tu me deste por companheira, foi ela que me deu o fruto da árvore, e eu comi” (Gn 3, 12).

“Por isso, não desanimamos. Mesmo se o nosso homem exterior se vai arruinando, o nosso homem interior, pelo contrário, vai-se renovando dia a dia” (2 Cor 4, 16).

“Os parentes de Jesus saíram para agarrá-lo, porque diziam que estava fora de si” (Mc 3, 21).

 

MEDITAR

Homens políticos, homens de Igreja ou cidadãos comuns, estamos sempre repetindo as mesmas falas, sempre moendo a mesma farinha. Trata-se de falta de fé no desconhecido, no incognoscível. Não caminhamos em direção ao novo. Repetimos a mesma ladainha (...). Mas seria isso fé na vida, no sentido de que, de qualquer forma, ela é sempre risco e exige audácia? Não seria antes uma certeza, uma segurança que adormece a vida em insignificância e irresponsabilidade?

(Françoise Dolto)

 

ORAR

Nossos mecanismos de fuga são revelados. Adão responde: “A mulher que tu me deste” e Eva afirma “A serpente me enganou”. Desta forma, inicia-se o ciclo das culpabilidades que percorrem nossa travessia: transferências, projeções e uma enxurrada acusatória e impiedosa. Tudo é culpa de alguém e somos todos vítimas indefesas. A vida é madrasta e por isso cabe a nós a vitimização das nossas “pessoinhas”, para que nos escondamos por detrás das culpas dos outros. “Onde estás?” É a indagação simples que devemos aprender para que possamos nos apresentar na verdade/nudez do nosso ser, sem subterfúgios e ridículas justificativas. No Evangelho, Jesus é apresentado como desequilibrado, fora de si. E “fora de si” significa dizer que Jesus está fora “deles”, dos seus modelos, previsões, seguranças e costumes. É necessário construir um ethos do amor distante da atitude tomada pelos parentes de Jesus: a defesa de seus próprios interesses, esquemas e rotinas. Muitas vezes não nos dispomos a “estar fora” das modas, das ideologias, da competição e das vaidades. Desejamos “estar dentro” do poder, dos negócios, da carreira, dos privilégios, da popularidade e do espetáculo que está na moda. E, no entanto, a loucura evangélica deveria ser a enfermidade hereditária, contagiosa da “nova família” do Cristo: “Quem faz a vontade de Deus, esse é meu irmão, minha irmã e minha mãe”. Loucura das loucuras! A blasfêmia contra o Espírito Santo é a pretensão de seguir a Cristo “sem perder a cabeça” (Cura d’Ars). É recusar a loucura do amor, o componente essencial da santidade a que somos chamados.  Amar demais é o nosso destino. O pecado sem perdão é a presunção de querer mudar o mundo sem ser sinal de contradição e colocando o Espírito sob liberdade vigiada. Não foram os grandes pecadores que assassinaram Jesus, mas pessoas medíocres, míopes guardiões dos dogmatismos e intolerâncias. Vivemos imersos em mundos e igrejas onde existem a rasura da iniquidade e a negação da verdade e do amor. Mais do que nunca, devemos proclamar que fora da loucura não há salvação!

(Manos da Terna Solidão/Pe. Paulo Botas, mts e Pe. Eduardo Spiller, mts)

 

CONTEMPLAR

Dom Hélder Câmara, foto, s.d., autoria desconhecida.




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