A Palavra se fez carne e armou sua tenda entre nós (Jo 1, 14).
IV Domingo da Páscoa
At 4, 8-12 1 Jo 3, 1-2 Jo 10, 11-18
ESCUTAR
“Jesus é a pedra que vós, os construtores, desprezastes e que se tornou a pedra angular” (At 4, 11).
“Amados, vede que grande presente de amor o Pai nos deu: de sermos chamados filhos de Deus! E nós o somos!” (1 Jo 3, 1-2).
“Eu dou a minha vida pelas ovelhas” (Jo 10, 15).
MEDITAR
Eu sou o Amor sem limites. Não conheço nenhum limite no tempo. Não conheço nenhum limite no espaço. Não há nenhum lugar em que eu não me encontre. Não há nenhum momento em que eu não exprima o que sou, quem eu sou. Eu sou a origem e a raiz mais profunda, e o impulso do que vós sois. Eu sou a vossa verdadeira vida.
(Um monge da igreja oriental)
ORAR
Muitas vezes, nós pastores, obedecemos a lógica do mercenário quando cedemos ao prestígio pessoal, ao êxito, à popularidade; quando camuflamos, pelo paternalismo, o desejo de centralizar o poder; quando, ao invés de servir nos servimos das pessoas e nos relacionamos com elas sob a ótica da utilidade. Não criamos uma comunidade, mas uma corte de bajuladores que repartem entre si os cargos de maior visibilidade na igreja. Jesus se apresenta como o Bom Pastor, mas também como o Cordeiro (Jo 1, 29) e o cordeiro sempre nos invoca a imagem de debilidade mais do que a de força; de vítima mais do que a de guerreiro e conquistador; de modéstia mais do que a de arrogância. O evangelista João reafirma que o Cordeiro de Deus não se afastou, nem discriminou os pecadores e doentes, mas se tornou plenamente solidário com todos, sem exceção. Entre nós existe apenas uma raça que não está comprometida pela ameaça da extinção: a dos lobos e mercenários sem escrúpulos, que transitam livremente entre os rebanhos que estão muitas vezes à mercê deles como “ovelhas sem pastor”. Apascentar significa vigiar, nutrir, ensinar e sustentar. O bom pastor não apascenta a si mesmo, caso contrário será um “amor” ladrão que toma posse do que pertence a Deus e trai a confiança nele depositada; será ainda um “amor” feroz que usa da voracidade, da violência e da chantagem afetiva para submeter o outro e negar-lhe o direito à liberdade de amar. A comunidade criada pelo Cristo só a Ele pertence e não está encerrada em nenhuma instituição e nem restrita a uma cultura específica. O Cristo distribui os dons plurais e diversos para que nasçam comunidades fraternas e amorosas espalhadas por estas veredas de Deus e que um dia serão um único rebanho de um só pastor. Temos manipulado nossos jovens e nos servido deles para preencher os ginásios, as praças e os campos de futebol a fim de ostentar, com o poder dos números, a presença massiva em nossas igrejas. No entanto, Pedro alerta: quando aparecer o pastor supremo (1 Pd 5, 4), Ele não nos pedirá contas dos resultados faraônicos obtidos na colheita e no pastoreio, mas nos questionará sobre a paciência amorosa com a qual nos revestimos para semear e pastorear. O terreno do Juízo Final não será o ruidoso espaço das praças e ginásios, mas o pedaço minúsculo do nosso coração. A Igreja de Jesus não está construída sobre preciosos mármores ou cenários monumentais. A Igreja de Jesus está alicerçada sobre “uma pedra desprezada pelos construtores”. Somos herdeiros de Pedro, o pescador, e não de Constantino, o imperador. A comunidade cristã se nutre da disponibilidade de amar e de dar a vida uns pelos outros ainda que seja por meio de orações e intercessões. Somos parte deste Corpo Místico do Cristo em que o menor gesto ecoa e faz vibrar a totalidade deste mesmo Corpo. Se as ovelhas não valem a nossa vida, erramos de redil e nos perdemos, clamorosamente, nas estatísticas burocráticas de uma instituição eclesiástica. O mistério pascal se expressa no ato de entregar a vida e no aceitar, se preciso for, a morte. Jesus neste evangelho lança um desafio crucial: realizamos o nosso serviço aos irmãos como funcionários/mercenários ou como pessoas comprometidas com as comunidades que nos foram dadas por Deus? Se vingarmos a nossa presença como mercenários e não como samaritanos, viveremos na angústia de uma consciência infeliz que engana e, então, todos sairão perdendo: o pastor, as ovelhas, mas, sobretudo, a Igreja de Jesus.
(Manos da Terna Solidão/Pe. Paulo Botas, mts e Pe. Eduardo Spiller, mts).
CONTEMPLAR
O Bom Pastor, Daniel Bonnell, óleo sobre tela, 24” x 48”, Carolina do Sul, Estados-Unidos.
Paz e amor - obrigado pelas belas frases da homilia. Pedro
ResponderExcluirLindo isso: Jesus é, ao mesmo tempo, o Bom.Pastor e o Cordeiro Pascal!
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