sexta-feira, 29 de março de 2024

O Caminho da Beleza 19 - Páscoa da Ressurreição

 A Palavra se fez carne e armou sua tenda entre nós (Jo 1, 14).

Domingo de Páscoa                  

At 10, 34.37-43                 Cl 3, 1-4                   Jo 20, 1-9

 

ESCUTAR

“Ele andou por toda parte, fazendo o bem e curando a todos os que estavam dominados pelo demônio, porque Deus estava com ele” (At 10, 38).

Vós morrestes e a vossa vida está escondida, com Cristo, em Deus (Cl 3, 3).

Entrou também o outro discípulo, que tinha chegado primeiro ao túmulo. Ele viu e acreditou.

 

MEDITAR

A grande tragédia da vida não é que o homem pereça, mas que ele cesse de amar.

(Somerset Maugham)

 

ORAR

      Neste domingo da Ressurreição, é proclamado que só quem ama é capaz de acreditar e ter esperança. O primeiro dia se inicia num cenário nupcial: “Procurei o amado da minha alma. Procurei-o pelas ruas e pelas praças... procurei-o e não o encontrei” (Ct 3, 1). O papa Bento XVI escreve: “Agora o amor torna-se cuidado do outro pelo outro. Já não se busca a si próprio, não busca a imersão no inebriamento da felicidade; procura, em vez disso, o bem-amado: torna-se renúncia, está disposto ao sacrifício, antes, procura-o” (Deus caritas est). Pedro, ao ver “as faixas de linho deitadas no chão”, compreende que o próprio Jesus deixara o sinal de que estava vivo: dobrara o pano que cobria a sua cabeça e não o seu rosto, como era costume fazer com os mortos. A totalidade da humanidade de Jesus incluiu também a sua morte. Jesus morreu, mas não é um cadáver. Madalena, Pedro e João sabem que será inútil buscá-Lo no sepulcro. Ele não está mais ali. A nossa vida, como a Dele, quando entregue por amor aos outros, supera e vence a morte. A ressurreição de Jesus não deve ser compreendida como uma volta à vida biológica que enraizaria a existência humana numa dependência do mundo físico. Devemos ir, com a fé e a esperança no mais íntimo de nós, além da visibilidade dos corpos inertes, dos corpos devorados pela esclerose e dos olhares perdidos em espaços vazios. Jesus é Presença como Dom absoluto e a sua ressurreição nos garante que podemos atingir o segredo interior, o espaço ilimitado e a presença que faz da própria existência um dom. Somos chamados a sermos eternos e não imortais. Deus promete aos que amam a ressurreição da carne e a vida eterna e não a imortalidade da alma. O Espírito nos transforma, cotidianamente, em fonte e dom. Cada menor gesto de solidariedade, cada abandono da estabilidade pessoal, cada passo em direção aos que sofrem é uma ressurreição vingada, pois “se em minha vida negligencio completamente a atenção ao outro, importando-me apenas com ser ‘piedoso’ e cumprir meus ‘deveres religiosos’, então definha também a relação com Deus. Nesse caso, trata-se de uma relação ‘correta’, mas sem amor” (Bento XVI, Deus caritas est). Somente como fonte e dom, poderemos viver no Espírito do Ressuscitado e nos tornarmos o círio pascal que ilumina a todos com o esplendor da vida. Poderemos ser os artesãos que carregam em seus gestos e tramas do viver cotidiano a Luz do triunfo do Cristo sobre a morte e proclamar que não somos herdeiros de um túmulo vazio e que “Deus não é um Deus dos mortos, mas um Deus dos vivos” (Mt 22, 32). Neste domingo de Páscoa devemos responder, no mais íntimo de nós, a pergunta de Jesus à Marta: “Crês nisto?...Se creres verás a glória de Deus” (Jo 11, 40) e, então, deixarmos nosso espírito balbuciar em gemidos de amor: “Eu sou para o meu amado e meu amado é para mim, ele que apascenta entre os lírios” (Ct 6, 3).

(Manos da Terna Solidão/ Pe. Paulo Botas, mts e Pe. Eduardo Spiller, mts)


CONTEMPLAR

“Que o Cristo está morto..., que ele foi enterrado, e que ele ressuscitou ao terceiro dia (1ª epístola aos Coríntios, 15)”, 1964, Salvador Dalí (1904-1989), aquarela, Coleção Biblia Sacra, Chant V/99, Editora Rizzoli, Milão, Itália.




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