quinta-feira, 21 de março de 2024

O Caminho da Beleza 18 - Ramos da Paixão do Senhor

A Palavra se fez carne e armou sua tenda entre nós (Jo 1, 14).

Ramos da Paixão do Senhor             

Is 50, 4-7                 Fl 2, 6-11                 Mc 15, 1-39

 

ESCUTAR

“O Senhor Deus deu-me língua adestrada para que eu saiba dizer palavras de conforto à pessoa abatida” (Is 50 4).

“Encontrado com aspecto humano, humilhou-se a si mesmo, fazendo-se obediente até a morte, e morte de cruz” (Fl 2, 7-8).

“Nesse momento a cortina do santuário rasgou-se de alto a baixo, em duas partes. Quando o oficial do exército, que estava bem em frente dele, viu como Jesus havia expirado, disse: Na verdade, este homem era Filho de Deus!” (Mc 15, 38-39).

 

MEDITAR

Jesus de Nazaré não morreu como um estoico, com uma serenidade desprovida de paixões, o mais possível sem dor. Muito pelo contrário, experimentou grandes tormentos, expressos no grito final. O cristão não tem que esconder o seu medo e pode estar certo – ouvindo ainda o grito de Jesus – de que o seu medo será abraçado por um Deus, pelo Deus do amor.

(Hans Kung)

Quando o amor vos chamar, segui-o, embora seus caminhos sejam agrestes e escarpados; e quando ele vos envolver com suas asas, cedei-lhe, embora a espada oculta na sua plumagem possa ferir-vos; e quando ele vos falar, acreditai nele, embora sua voz possa despedaçar vossos sonhos como o vento devasta o jardim. Pois, da mesma forma que o amor vos coroa, assim ele vos crucifica. E da mesma forma que contribui para vosso crescimento, trabalha para vossa poda.

(Kalil Gibran)


ORAR

    Temos o costume de nomear este domingo como uma entrada triunfal de Jesus em Jerusalém e, para tanto, acrescentamos todos os ingredientes que a nossa imaginação possa inventar: mobilização das massas, entusiasmo incontido, adornos faustosos, cantos, gritos e aplausos vibrantes. Aprendemos que a grandeza de Deus só pode ser celebrada com mantos reais, coreografias espetaculosas e cortejos imponentes. No entanto, para Jesus, o triunfo é o da humildade, da modéstia, da mansidão, pois todas as suas conquistas foram obtidas com a força do amor. Jesus, até hoje, não se interessa pelos aplausos e gritarias que beiram a histeria, mas sim pelos corações convictos dos seus seguidores. Neste domingo, o Cristo quer ser reconhecido como um rei na sua debilidade desarmada, na sua aceitação da perseguição e no fato de ter resistido à violência, aos insultos e às torturas brutais. O nome de Jesus que invocamos é um nome que foi desacreditado pelos detentores do poder civil e religioso. Neste domingo, não podemos ficar perplexos e desconcertados diante da realidade da Cruz e embaraçados com uma fé sem profecia que nos impede de conquistar a esperança que faz atingir o mais além de nós mesmos. Somente o olhar da fé permite superar o muro do escândalo e acreditar que podemos ver de outra maneira os acontecimentos da nossa vida. E devemos estar lúcidos de que a única resposta ao excesso do mal e da violência é a superabundância de amor que nos conduz, se preciso, até o dom da própria vida.  Jesus não tinha dinheiro. Não tinha autoridade religiosa oficial, por não ser nem sacerdote e nem escriba. Jesus levava apenas em seu coração o fogo do amor pelos que eram injustiçados e até mortos pela violência dos poderosos. A mensagem de Jesus era direta e sem rodeios: os que desprezamos, excluímos e exploramos são os prediletos de Deus. Celebrar a Semana Santa é uma conversão constante para que os nossos corações sejam capazes de olhar e atender aos que sofrem, identificando-nos, cada vez mais, com eles. Nestes tempos, amordaçamos os gritos de indignação e nos acomodamos a tudo o que é tranquilizador, que não exija nada da inteligência e que seja um refúgio que nos proteja do vazio existencial. Queremos e construímos um tipo de religião que não intranquiliza ninguém, que não tem nenhuma agonia, que perdeu a tensão do seguimento de Jesus, pois não nos chama à responsabilidade alguma, pelo contrário, exonera-nos dela. No nosso cristianismo atual, escutamos cantos que abafam o grito dos pobres; estamos mergulhados em muita alegria e júbilo que não nos sobra tempo para os que sofrem; conclamamos nossos filhos e filhas a “botar fé” para a sua fartura emocional e não os evangelizamos para que tenham fome e sede de justiça para com todos seus irmãos e irmãs, filhos e filhas do mesmo Pai. Neste domingo de ramos, celebramos o Messias da Cruz, desprezado, traído e abandonado. Neste domingo, devemos estar atentos ao sinal de Deus para que sejamos humildes e compassivos, pois é o outro – o estrangeiro, o diferente de nós, o pagão – que faz a sua profissão de fé, não no momento arrebatador do triunfo, mas no escândalo da derrota: “Na verdade, este homem era Filho de Deus!”. Por esta razão, devemos sempre testemunhar a esperança de que todos os humilhados da terra um dia se levantarão do seu túmulo para obter a reparação e a recompensa da violência sofrida em suas vidas: a bem-aventurança no Reino e a vida eterna. Amém!

(Manos da Terna Solidão/Pe. Paulo Botas, mts e Pe. Eduardo Spiller, mts)


CONTEMPLAR

A Entrada de Cristo em Jerusalém, c. 1842, Jean-Hippolyte Flandrin (1809-1864), afresco, Igreja de Saint-Germain-des-Prés, Paris, França.   



 

Um comentário:

  1. Pisando ramos, aí vem o guerrilheiro da Paz! Que a dialética vida-morte-ressurreiçâo esteja entranhada na nossa caminhada.

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