A Palavra se fez carne e armou sua tenda entre nós (Jo 1, 14).
Ramos da Paixão do Senhor
Is 50, 4-7 Fl
2, 6-11 Mc 15, 1-39
ESCUTAR
“O Senhor Deus deu-me língua
adestrada para que eu saiba dizer palavras de conforto à pessoa abatida” (Is 50
4).
“Encontrado com aspecto
humano, humilhou-se a si mesmo, fazendo-se obediente até a morte, e morte de
cruz” (Fl 2, 7-8).
“Nesse momento a cortina do santuário rasgou-se de
alto a baixo, em duas partes. Quando o oficial do exército, que estava bem em
frente dele, viu como Jesus havia expirado, disse: Na verdade, este homem era
Filho de Deus!” (Mc 15, 38-39).
MEDITAR
Jesus de Nazaré não morreu
como um estoico, com uma serenidade desprovida de paixões, o mais possível sem
dor. Muito pelo contrário, experimentou grandes tormentos, expressos no grito
final. O cristão não tem que esconder o seu medo e pode estar certo – ouvindo
ainda o grito de Jesus – de que o seu medo será abraçado por um Deus, pelo Deus
do amor.
(Hans Kung)
Quando o amor vos chamar,
segui-o, embora seus caminhos sejam agrestes e escarpados; e quando ele vos
envolver com suas asas, cedei-lhe, embora a espada oculta na sua plumagem possa
ferir-vos; e quando ele vos falar, acreditai nele, embora sua voz possa
despedaçar vossos sonhos como o vento devasta o jardim. Pois, da mesma forma
que o amor vos coroa, assim ele vos crucifica. E da mesma forma que contribui
para vosso crescimento, trabalha para vossa poda.
(Kalil Gibran)
ORAR
Temos o costume de nomear
este domingo como uma entrada triunfal de Jesus em Jerusalém e, para tanto,
acrescentamos todos os ingredientes que a nossa imaginação possa inventar:
mobilização das massas, entusiasmo incontido, adornos faustosos, cantos, gritos
e aplausos vibrantes. Aprendemos que a grandeza
de Deus só pode ser celebrada com
mantos reais, coreografias espetaculosas e cortejos imponentes. No entanto,
para Jesus, o triunfo é o da humildade, da modéstia, da mansidão, pois todas as
suas conquistas foram obtidas com a
força do amor. Jesus, até hoje, não se interessa pelos aplausos e gritarias que
beiram a histeria, mas sim pelos corações convictos dos seus seguidores. Neste
domingo, o Cristo quer ser reconhecido como um rei na sua debilidade desarmada,
na sua aceitação da perseguição e no fato de ter resistido à violência, aos
insultos e às torturas brutais. O nome de Jesus que invocamos é um nome que foi
desacreditado pelos detentores do poder civil e religioso. Neste domingo, não
podemos ficar perplexos e desconcertados diante da realidade da Cruz e
embaraçados com uma fé sem profecia que nos impede de conquistar a esperança
que faz atingir o mais além de nós mesmos. Somente o olhar da fé permite
superar o muro do escândalo e acreditar que podemos ver de outra maneira os
acontecimentos da nossa vida. E devemos estar lúcidos de que a única resposta
ao excesso do mal e da violência é a superabundância de amor que nos conduz, se
preciso, até o dom da própria vida.
Jesus não tinha dinheiro. Não tinha autoridade religiosa oficial, por
não ser nem sacerdote e nem escriba. Jesus levava apenas em seu coração o fogo
do amor pelos que eram injustiçados e até mortos pela violência dos poderosos.
A mensagem de Jesus era direta e sem rodeios: os que desprezamos, excluímos e
exploramos são os prediletos de Deus. Celebrar a Semana Santa é uma conversão
constante para que os nossos corações sejam capazes de olhar e atender aos que
sofrem, identificando-nos, cada vez mais, com eles. Nestes tempos, amordaçamos
os gritos de indignação e nos acomodamos a tudo o que é tranquilizador, que não
exija nada da inteligência e que seja um refúgio que nos proteja do vazio
existencial. Queremos e construímos um tipo de religião que não intranquiliza
ninguém, que não tem nenhuma agonia, que perdeu a tensão do seguimento de
Jesus, pois não nos chama à responsabilidade alguma, pelo contrário,
exonera-nos dela. No nosso cristianismo atual, escutamos cantos que abafam o
grito dos pobres; estamos mergulhados em muita alegria e júbilo que não nos
sobra tempo para os que sofrem; conclamamos nossos filhos e filhas a “botar fé”
para a sua fartura emocional e não os evangelizamos para que tenham fome e sede
de justiça para com todos seus irmãos e irmãs, filhos e filhas do mesmo Pai.
Neste domingo de ramos, celebramos o Messias da Cruz, desprezado, traído e
abandonado. Neste domingo, devemos estar atentos ao sinal de Deus para que
sejamos humildes e compassivos, pois é o outro – o estrangeiro, o diferente de
nós, o pagão – que faz a sua profissão de fé, não no momento arrebatador do
triunfo, mas no escândalo da derrota: “Na verdade, este homem era Filho de
Deus!”. Por esta razão, devemos sempre testemunhar a esperança de que todos os
humilhados da terra um dia se levantarão do seu túmulo para obter a reparação e
a recompensa da violência sofrida em suas vidas: a bem-aventurança no Reino e a
vida eterna. Amém!
(Manos da Terna Solidão/Pe. Paulo Botas, mts e Pe. Eduardo Spiller, mts)
CONTEMPLAR
A Entrada de Cristo em Jerusalém, c. 1842, Jean-Hippolyte Flandrin (1809-1864), afresco, Igreja de Saint-Germain-des-Prés, Paris, França.
Pisando ramos, aí vem o guerrilheiro da Paz! Que a dialética vida-morte-ressurreiçâo esteja entranhada na nossa caminhada.
ResponderExcluir