A Palavra se fez carne e armou sua tenda
entre nós (Jo 1, 14).
Solenidade da Epifania do Senhor
Is 60, 1-6 Ef
3, 2-3a.5-6 Mt 2, 1-12
ESCUTAR
“Levanta-te,
acende as luzes, Jerusalém, porque chegou a tua luz, apareceu sobre ti a glória
do Senhor” (Is 60, 1).
“Os pagãos são admitidos à mesma herança, são membros do
mesmo corpo, são associados à mesma promessa em Jesus Cristo por meio do
evangelho” (Ef 3, 6).
“O rei Herodes ficou perturbado, assim como toda a
cidade de Jerusalém” (Mt 2, 3).
MEDITAR
Temos de
renunciar ao cristianismo, se nos obrigarem a renunciar a essas dialéticas
esquartejadoras dos sentimentos cristãos, reduzindo-as à escala das
sentimentalidades cômodas. Temos que romper a puerilidade de um cristianismo
que produz homens delicados e frágeis que nunca avançam para uma fé
comprometida, pois ‘vivem tremendo e murados em suas defesas.
(Emmanuel Mounier)
ORAR
Hoje é a festa da luz porque
a manifestação do Senhor, a sua epifania, é inseparável da luz. Quando o Senhor
se manifesta, existem os que ao responder se colocam em caminho e buscam. Há
outros, porém, que se escondem e dissimulam as suas vidas e os seus encontros.
Os magos foram tomados de uma imensa alegria enquanto Herodes ficou perturbado
assim como a Jerusalém do poder e do saber. Os sumos sacerdotes e os escribas
foram convocados para uma reunião de emergência e nela manifestam a sua
inquietude e desconfiança. É significativo que a aparição da “bondade de Deus,
nosso Salvador, e seu amor pelos homens” (Tt 3, 4) suscite perturbação nos que
detêm o poder civil e religioso. A presença de Deus, que se manifesta na
fraqueza, surge como um perigo e uma ameaça para a ordem estabelecida e para as
posições consolidadas. O Cristo constitui uma ameaça para o nosso reino privado
ao colocar em xeque nossos equilíbrios cansados e nossas falsas seguranças. O
Papa Francisco afirma: “Preferem uma vida enjaulada em seus preceitos, em seus
compromissos, em seus planos revolucionários ou em sua espiritualidade
desencarnada” (Homilia 20.12.2013). O cristão lúcido sabe que é melhor a
perturbação do que a indiferença; é melhor o compromisso do que a neutralidade;
é melhor a recusa do que a ambiguidade. O cristão sabe que é necessário um
coração para assombrar-se e alargar-se. O profeta desvela a expansão da luz e a
sua alegria contagiosa. O evangelista, por sua vez, dá a conhecer o medo dos sábios
cuja busca finda em suas bibliotecas palacianas, no meio dos pergaminhos
cobertos de pó nos quais procuram sentenças definitivas. O caminho, com as suas
imprevisibilidades e surpresas, não é o seu assunto. O coração dos magos é o
coração dos que buscam, apaixonadamente, abrigar o mistério. O coração dos
detentores do poder é árido, mesquinho e intolerante. Os magos nos revelam que
entre o relâmpago do surgimento da estrela e o seu acompanhamento até o último
trecho do caminho seremos assomados por dúvidas, cansaços, perdas e desilusões,
mas, sobretudo, por esperanças. A estrela surge como uma chispa de fogo, acende
o desejo e só volta a brilhar intensa e permanentemente no final quando o
encontro se realiza. A busca não é nunca uma marcha triunfal: implica numerosas
partidas e recomeços e não devemos dela esperar manifestações espetaculares. O
que conta é a perseverança: a capacidade de não desertar, de não ceder ao
desalento, de não se desviar para cômodos refúgios e nem se contentar com
conquistas provisórias; a obstinação para caminhar quando tudo parece inútil,
absurdo e impossível. E o que mais conta ainda é o discernimento de que para
adorar a Deus é preciso nos deter diante do mistério do mundo e saber olhá-lo
com amor. Quem olha a vida amorosamente começará a vislumbrar as vibrações de
Deus antes mesmo de ser envolvido por elas.
CONTEMPLAR
A Noite
Estrelada, 1889,
Vincent van Gogh (1853-1890), óleo sobre tela, 73 cm x 92 cm, Museu de Arte
Moderna, Nova York, Estados Unidos.
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