A Palavra se fez carne e armou sua tenda entre nós (Jo 1, 14).
II Domingo do Tempo Comum
1 Sm 3,3b-10.19 1
Cor 6, 13-15.17-20 Jo 1, 35-42
ESCUTAR
“Fala, que teu servo escuta!” (1 Sm 3, 10).
“Ignorais que o vosso corpo é santuário do Espírito
Santo, que mora em vós e que vos é dado por Deus?” (1 Cor, 19).
“Rabi, onde moras?” Jesus respondeu: “Vinde ver” (Jo
1, 38-39).
MEDITAR
É uma decisão custosa escolher a vida, mas isso é
definitivamente o que os seguidores de Jesus devem fazer. Escolher a vida,
agarrar a vida, entrar na vida e clamar pela vida. Isto requer uma nova visão,
nascer do Espírito, escapar dos debates sobre superioridade religiosa ou da
forma ou lugar mais adequado de se rezar. Esta decisão nos abre a novas
dimensões assustadoras do que significa ser humano.
(John Shelby Spong, Bispo Anglicano)
ORAR
A primeira leitura nos faz
saber que O Senhor não tem uma voz reconhecível, tanto que Samuel a confunde
com a do sacerdote Eli. O Senhor não fala a língua dos textos sagrados e nem se
obriga a seguir as rubricas de um missal. O teólogo protestante Dietrich Bonhoeffer
diz que Ele fala sempre o dialeto do povo. Deus permanece sempre o inesperado.
A sua voz é, habitualmente, discreta e contida: “O menino Samuel oficiava com
Eli diante do Senhor. A palavra do Senhor naquele tempo era rara e as visões
não eram abundantes” (1 Sm 3, 1). O Evangelho revela que Jesus prefere estar
fora do cenário religioso e passar
por uma vereda qualquer: “João estava com dois de seus discípulos. Vendo Jesus passar, diz: - Aí está o cordeiro de
Deus”. Devemos sair do útero protetor da passividade, do costume, dos
condicionamentos sociais e religiosos, para afrontar o risco de uma fé
consciente e de um consentimento livre à iniciativa divina. Devemos ser capazes
de uma experiência vital, sem medo algum de nos entregarmos, pois não nos entregamos
a uma ideia ou a um código moral, mas a Alguém: “nesse dia, permaneceram com
Ele”. Jesus, a cada pergunta nossa, não responderá jamais com programas, planos
pastorais, esquemas detalhados e nem normas preestabelecidas. Jesus nos
responde sempre com dois verbos: “Vinde ver!”: um convite e uma promessa. Jesus
não aprisiona as pessoas, mas as desinstala para se porem a caminho, pois
“ficar com Ele” significa fazer-se itinerante por Ele, com Ele e Nele. A nossa
fé cristã não se transmite como um depósito de conceitos, mas por meio de uma
palavra viva que acende no outro desejos. As palavras do anúncio não são as
aprendidas nos textos, mas as que brotam de uma experiência perturbadora. O encontro
com o Cristo não é o de uma doutrina, nem de uma lista de coisas na qual temos que
acreditar, mas uma descoberta que transforma as nossas vidas, liberta as nossas
mentes, ilumina nossos espíritos, conduz as nossas ações e nos devolve a
coragem de ser e existir, apesar de tudo e de todos. Não nos iludamos, somente
quem O acompanha, verá. O poema de Camus nos aponta para o verdadeiro encontro
com o Cristo: “Não caminhe diante de mim, que não poderei te seguir. Não
caminhe detrás de mim, que não poderei te conduzir. Caminhe exatamente junto a
mim para, simplesmente, ser meu amigo”. O Evangelho acentua que,
paradoxalmente, Simão não é chamado por Jesus, mas conduzido a ele pelo seu
irmão André. É o amor fraterno que nos conduz ao Cristo, pois “aquele que não
ama não conhece a Deus” (1 Jo 4, 8). E Simão é também chamado para ser-para-os-outros. Paulo reafirma que
aquele que escutou a chamada do Senhor “não se pertence mais”, pois se torna
com Ele um só Espírito. Desde então, só nos cabe viver por amor, com amor e no
amor.
(Manos da Terna Solidão/Pe. Paulo Botas, mts e Pe. Eduardo
Spiller, mts)
CONTEMPLAR
Camaradagem, 2019, Campo de gado de Mundari, Sudão do Sul, Trevor
Cole, Monochrome Photography Awards 2019, Reino Unido.
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