quinta-feira, 11 de janeiro de 2024

O Caminho da Beleza 08 - II Domingo do Tempo Comum

 A Palavra se fez carne e armou sua tenda entre nós (Jo 1, 14).

II Domingo do Tempo Comum                    

1 Sm 3,3b-10.19    1 Cor 6, 13-15.17-20        Jo 1, 35-42

 

ESCUTAR

“Fala, que teu servo escuta!” (1 Sm 3, 10).

“Ignorais que o vosso corpo é santuário do Espírito Santo, que mora em vós e que vos é dado por Deus?” (1 Cor, 19).

“Rabi, onde moras?” Jesus respondeu: “Vinde ver” (Jo 1, 38-39).

 

MEDITAR

É uma decisão custosa escolher a vida, mas isso é definitivamente o que os seguidores de Jesus devem fazer. Escolher a vida, agarrar a vida, entrar na vida e clamar pela vida. Isto requer uma nova visão, nascer do Espírito, escapar dos debates sobre superioridade religiosa ou da forma ou lugar mais adequado de se rezar. Esta decisão nos abre a novas dimensões assustadoras do que significa ser humano.

(John Shelby Spong, Bispo Anglicano)

 

ORAR

A primeira leitura nos faz saber que O Senhor não tem uma voz reconhecível, tanto que Samuel a confunde com a do sacerdote Eli. O Senhor não fala a língua dos textos sagrados e nem se obriga a seguir as rubricas de um missal. O teólogo protestante Dietrich Bonhoeffer diz que Ele fala sempre o dialeto do povo. Deus permanece sempre o inesperado. A sua voz é, habitualmente, discreta e contida: “O menino Samuel oficiava com Eli diante do Senhor. A palavra do Senhor naquele tempo era rara e as visões não eram abundantes” (1 Sm 3, 1). O Evangelho revela que Jesus prefere estar fora do cenário religioso e passar por uma vereda qualquer: “João estava com dois de seus discípulos. Vendo Jesus passar, diz: - Aí está o cordeiro de Deus”. Devemos sair do útero protetor da passividade, do costume, dos condicionamentos sociais e religiosos, para afrontar o risco de uma fé consciente e de um consentimento livre à iniciativa divina. Devemos ser capazes de uma experiência vital, sem medo algum de nos entregarmos, pois não nos entregamos a uma ideia ou a um código moral, mas a Alguém: “nesse dia, permaneceram com Ele”. Jesus, a cada pergunta nossa, não responderá jamais com programas, planos pastorais, esquemas detalhados e nem normas preestabelecidas. Jesus nos responde sempre com dois verbos: “Vinde ver!”: um convite e uma promessa. Jesus não aprisiona as pessoas, mas as desinstala para se porem a caminho, pois “ficar com Ele” significa fazer-se itinerante por Ele, com Ele e Nele. A nossa fé cristã não se transmite como um depósito de conceitos, mas por meio de uma palavra viva que acende no outro desejos. As palavras do anúncio não são as aprendidas nos textos, mas as que brotam de uma experiência perturbadora. O encontro com o Cristo não é o de uma doutrina, nem de uma lista de coisas na qual temos que acreditar, mas uma descoberta que transforma as nossas vidas, liberta as nossas mentes, ilumina nossos espíritos, conduz as nossas ações e nos devolve a coragem de ser e existir, apesar de tudo e de todos. Não nos iludamos, somente quem O acompanha, verá. O poema de Camus nos aponta para o verdadeiro encontro com o Cristo: “Não caminhe diante de mim, que não poderei te seguir. Não caminhe detrás de mim, que não poderei te conduzir. Caminhe exatamente junto a mim para, simplesmente, ser meu amigo”. O Evangelho acentua que, paradoxalmente, Simão não é chamado por Jesus, mas conduzido a ele pelo seu irmão André. É o amor fraterno que nos conduz ao Cristo, pois “aquele que não ama não conhece a Deus” (1 Jo 4, 8). E Simão é também chamado para ser-para-os-outros. Paulo reafirma que aquele que escutou a chamada do Senhor “não se pertence mais”, pois se torna com Ele um só Espírito. Desde então, só nos cabe viver por amor, com amor e no amor.

(Manos da Terna Solidão/Pe. Paulo Botas, mts e Pe. Eduardo Spiller, mts)

 

CONTEMPLAR

Camaradagem, 2019, Campo de gado de Mundari, Sudão do Sul, Trevor Cole, Monochrome Photography Awards 2019, Reino Unido.




           

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