A Palavra se fez carne e armou sua tenda entre nós (Jo 1, 14).
I Domingo do Advento
Is 63, 16b-17.19b;64, 2b-7 1
Cor 1, 3-9 Mc 13, 33-37
ESCUTAR
“Ah! Se rompesses os céus e descesses! As montanhas se
desmanchariam diante de ti... Vens ao encontro de quem pratica a justiça com
alegria, de quem se lembra de ti em teus caminhos” (Is 63, 19; 64, 4).
Nele fostes enriquecidos em tudo, em toda palavra e em
todo conhecimento, à medida que o testemunho sobre Cristo se confirmou entre
vós (1 Cor 1, 5-6).
Para que não suceda que, vindo de repente, ele vos
encontre dormindo. O que vos digo, digo a todos: Vigiai! (Mc 13, 36-37).
MEDITAR
Aquele que ensina o bem aos outros sem o praticar é
como um cego que segura uma lanterna.
(Provérbio Argelino)
ORAR
Somos chamados a acertar os
nossos relógios e calendários e a liturgia de hoje nos oferece para isto dois
acontecimentos. O primeiro, é que o Senhor não esconde mais o seu Rosto e o
segundo é a vinda do Cristo para o Juízo Final. Estes dois acontecimentos não
se referem um ao passado e outro ao futuro, mas dizem respeito ao hoje, ao aqui
e agora. Cristo já veio, mas é também acolhido hoje. Cristo, contudo, deve vir,
mas há de ser esperado aqui e agora e, por esta razão, vigiamos. Devemos
despertar do torpor que temos vivido, pois nunca seremos leais a um Deus em
movimento se não assumirmos uma postura dinâmica que implica uma permanente
conscientização e um compromisso responsável. O Deus da Encarnação e do Juízo é
surpreendente, pois não vem exigir, mas dar: “Nunca se ouviu dizer nem chegar
aos ouvidos de ninguém, jamais olhos viram que um Deus, exceto TU, tenha feito
tanto pelos que Nele esperam” (Is 64, 3). Acolher este Deus não é preparar um
espetáculo colossal, mas nos apresentarmos com nossa pobreza que é,
essencialmente, a disponibilidade para receber. Não cabe delegar a ninguém a
tarefa de vigiar para nos despertar no momento oportuno, pois, aos olhos de
Deus, somos os únicos responsáveis por nossos atos. Todo o dia pode ser o dia e
toda a hora poderá ser a hora e o momento do Advento do Senhor. No coração de
cada um desdobra o infinito dos céus, a beleza da alma e o apelo generoso para
a liberdade. Bernardo de Claraval exortava no seu sermão de Advento: “Não é
necessário atravessar os mares, penetrar as nuvens ou transpor montanhas. Não é
um caminho muito longo que te é proposto: basta entrar em ti mesmo para correr
ao encontro de teu Deus”. Esperamos Alguém e por isto vigiamos e vigiar quer
dizer orar! E orar é ser invadido pelo Espírito do Senhor para que possamos
olhar o mundo, que é a matéria prima do Reino, com os olhos de Deus. O amor de
Deus e a esperança do Homem se entrelaçam no coração do Advento para vingar a
tenda nupcial: “Eu estava dormindo, meu coração vigiando, quando ouço meu amado
que me chama: - Abre-me, amada minha, minha amiga, minha irmã, minha pomba sem
mancha, pois tenho a cabeça orvalhada, meus cabelos, do sereno da noite” (Ct 5,
2). O Esposo e seu amor sempre nos surpreenderão: “vem à tarde, à meia-noite,
de madrugada ou ao amanhecer”. Nestes tempos de espera vigilante, devemos fazer
acontecer uma terceira vinda: a do cristão. A de homens e mulheres
surpreendentes que rompem com um cristianismo irrelevante, banal, repetitivo e
queixoso. Um cristianismo sonolento e impotente para despertar os que dormem e
que repartem entre si os despojos do tédio e da desesperança. Precisaremos
sempre, em todos os lugares e horas, de cristãos que testemunhem que os céus
foram rompidos pelo seu compromisso de fazer vingar a justiça na terra. Cristãos
que não temam o momento a vir e que, vigilantes e despertos, enfrentem a noite
dos desesperados, fazendo-os irromper à soleira da vida com suas faces banhadas
pelo Sol Invencível.
(Manos da Terna Solidão/Pe. Paulo Botas, mts e Pe.
Eduardo Spiller, mts)
CONTEMPLAR
Menino de rua, 2006, São Luiz, Maranhão, Brasil, Araquém Alcântara
(1951-), Brasil.