quinta-feira, 1 de junho de 2023

O Caminho da Beleza 28 - Santíssima Trindade

Peguei da mão do anjo o livrinho e comi-o. Na boca era doce como mel, mas, quando o engoli, meu estômago tornou-se amargo (Ap 10, 10).

Santíssima Trindade               

Ex 34, 4-6-6.8-9               2 Cor 13, 11-13                   Jo 3, 16-18

 

ESCUTAR

“Moisés gritou: ‘Senhor, Senhor! Deus misericordioso e clemente, paciente, rico em bondade e fiel’” (Ex 34, 6).

“Irmãos, alegrai-vos, trabalhai no vosso aperfeiçoamento, encorajai-vos, cultivai a concórdia, vivei em paz, e o Deus do amor e da paz estará convosco” (2 Cor 13, 11).

“Deus amou tanto o mundo que deu o seu Filho unigênito, para que não morra todo o que nele crer, mas tenha a vida eterna” (Jo 3, 16).

 

MEDITAR

Quem não consegue mais ouvir o irmão, em breve também não conseguirá mais ouvir a Deus. Estará sempre falando, também, perante Deus. Aqui começa a morte da vida espiritual, e no fim restará só o palavreado piedoso, a condescendência clericalesca que sufoca com palavras piedosas.

(Dietrich Bonhoeffer)

Não é o clero, mas sim a comunidade, a Igreja concretamente reunida, que celebra a Ceia comemorativa na qual o Senhor se faz presente e incorpora os reunidos transformando-os em seu próprio corpo.

(Hans Urs von Balthasar)

 

ORAR

    A festa da Santíssima Trindade não é uma simples formalidade nem uma representação dogmática. Ela nos convida a nos insurgir contra a nossa insensibilidade com relação à urgência de Deus e à envergadura do seu Mistério. Neste domingo, devemos entrar neste mistério adorável de saber que a dinâmica da Trindade é o Amor. É uma eterna comunicação, pois não existe nem um olhar-para-si, mas sempre e eternamente um olhar-para-o-outro. O Pai é um eterno olhar para o Filho assim como o Filho é um olhar eterno para o Pai e toda a Luz divina brota desta troca como a visibilidade de um dom eternamente realizado. Meditemos as palavras do dominicano Eckhart escritas no século XIV: “O Pai sorri para o Filho e o Filho sorri para o Pai e o sorriso faz nascer o prazer, o prazer faz nascer a alegria e a alegria faz nascer o amor”. Toda a alegria brota do dom nesta dança eterna em que qualquer posse é impossível, pois a grandeza consiste no dom de si mesmo. A vida de Deus é sempre uma vertiginosa troca, partilha e uma circulação infinita expressa no respirar do Pai, no sangue do Filho, na água e no fogo do Espírito. A vida da Trindade acontece em nós mesmos sem que a percebamos e nela “nem morte nem vida, nem anjos nem potestades, nem presente nem futuro, nem poderes nem altura nem profundidade, nem criatura alguma nos poderá separar do amor de Deus manifestado em Cristo Jesus Senhor nosso” (Rm 8, 38-39). É no silêncio que esta vida se manifesta, pois a alegria verdadeira começa quando, enfim, com os olhos fechados e os lábios cerrados percebemos a dinâmica amorosa do Pai, pelo Filho e no Espírito Santo. Esta festa exige uma profunda revisão de vida e a perguntarmos sobre a esterilidade de um amor que se debruça sobre si mesmo e de um hedonismo que se idolatra. O Cristo nos revelou a Trindade para fazer surgir em nós uma liberdade total ante os olhos do egoísmo mortal que assola o mundo, aniquila as culturas, domina os mais fracos, corrompe os poderes civis e religiosos, e que, sobretudo, pela ganância, destrói a natureza criada para o bem de toda a humanidade por todos os séculos. Eis o mistério: Deus para nós, Deus em nós e Deus conosco.

(Manos da Terna Solidão, Pe. Paulo Botas, mts e Pe. Eduardo Spiller, mts)

 

CONTEMPLAR

A Trindade, José de Ribera, c. 1635, óleo sobre tela, 226 x 181 cm, Museu do Prado, Madrid, Espanha.



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