Peguei da mão do anjo o livrinho e comi-o. Na boca era doce como
mel, mas, quando o engoli, meu estômago tornou-se amargo (Ap 10, 10).
XI Domingo do Tempo Comum
Ex 19, 2-6 Rm 5, 6-11 Mt
9, 36-10, 8
ESCUTAR
“Se ouvirdes a minha voz e
guardardes a minha aliança, sereis para mim a porção escolhida dentre todos os
povos” (Ex 19, 5).
“Já estamos justificados pelo
sangue de Cristo, seremos salvos da ira por ele” (Rm 5, 9).
“Vendo Jesus as multidões,
compadeceu-se delas, porque estavam cansadas e abatidas como ovelhas que não
têm pastor” (Mt 9, 36).
MEDITAR
Não desfaleças, deixa-te absorver
pelo amor. Não podes saber para onde te levo... Não esperes, sobretudo, velhice
tranquila, pacífica, considerada. Teu caminho é luta sem tréguas, até o fim,
até o impossível.
(Padre Lebret, op.)
ORAR
Jesus se
encontra diante de uma multidão amorfa, anônima e impessoal. Números mais do
que rostos. Quantidade mais do que pessoas. Objeto manipulável,
instrumentalizável, suscetível de ser enganado. Estas pessoas estão extenuadas
porque vivem na dispersão e no abandono, não são reconhecidas e são exploradas,
descaradamente, pelos mais diversos interesses. Deus quer um povo que seja, um
organismo vivo, sujeito responsável de uma história, protagonista e
interlocutor. A globalização econômica sem freios criou o caldo de uma cultura
do descarte. A economia não está a serviço do ser humano, pois o ser humano não
é mais meu irmão, mas um instrumento e o seu destino não me diz respeito. É a
globalização da indiferença. Na multidão, cada um leva escondido o seu próprio
mistério e as próprias dores. Jesus envia seus discípulos para transformar as
multidões no novo Povo de Deus. A missão dos discípulos é fazer com que as
pessoas estejam conscientes desta nova realidade: somos chamados a ser povo ao
reconhecermos que podemos realizar o mesmo desígnio divino. Somos portadores de
um amor e não de uma doutrina. O Vaticano II afirma: “Povo de Deus é aquele que
pratica a justiça” (Lumen Gentium 9).
Tenhamos em mente o discurso de Pedro: “Agora eu sei que, de fato, Deus trata a todos de modo igual, pois
aceita a todos, os que O temem e fazem o que é direito, seja qual for a sua
raça” (At 10, 34-35). O olhar de Jesus não era como o dos fariseus radicais que
só viam a impiedade, a ignorância da lei e a indiferença religiosa. Nem o olhar
de João Batista que via no povo o pecado e a perversão diante da chegada
eminente de Deus. O olhar de Jesus estava pleno de carinho, ternura e amor:
“vendo a multidão se compadeceu dela porque estava maltratada e abatida, como
ovelhas sem pastor”. Para Jesus, as pessoas são mais vítimas do que culpadas.
As igrejas se converterão ao Evangelho quando olharem as pessoas com o olhar de
Jesus: mais como vítimas do que culpadas; quando se fixarem mais em seus
sofrimentos do que em seus pecados; quando olharem a todos com menos medo e
mais compreensão. Os valores que nos governam são os da exclusão, não os da
solidariedade; o peso amargo e medroso da vida e não a alegria de viver. O ódio
pelos diferentes, por toda forma de alteridade cresce de um modo vertiginoso,
alimentando a nostalgia de um Nós e
até mesmo o assassinato em nome de Deus dos que são diversos. Não recebemos de
Jesus um ministério da condenação nem da morte. Fomos enviados para acolher e
consolar. Jesus quis discípulos que olhassem o mundo com ternura. Discípulos
dedicados a aliviar a angústia, o sofrimento e a devolver a esperança aos
desesperançados. Devemos gravar em nossos corações a pregação de Paulo: “Porque
há um só pão, nós todos somos um só corpo, pois todos participamos desse único
pão” (1 Cor 10,17). Esta é a nossa herança e nosso destino!
(Manos da Terna Solidão/Pe. Paulo
Botas, mts e Pe. Eduardo Spiller, mts)
CONTEMPLAR
Menino
abraça amigo numa rua de Nápoles, 1944, Henri Cartier-Bresson, França.
Nenhum comentário:
Postar um comentário