Peguei da mão do anjo o livrinho e comi-o. Na boca era doce como
mel, mas, quando o engoli, meu estômago tornou-se amargo (Ap 10, 10).
X Domingo do Tempo Comum
Os 6, 3-6 Rm
4, 18-25 Mt 9, 9-13
ESCUTAR
“Quero amor e não sacrifícios, conhecimento de Deus
mais do que holocaustos” (Os 6, 6).
“ Irmãos, Abraão, contra toda a humana esperança,
firmou-se na esperança e na fé (Rm 4, 18).
“‘Quero misericórdia e não sacrifício’. De fato, eu
não vim para chamar os justos, mas os pecadores” (Mt 9, 13).
MEDITAR
Homens políticos, homens de Igreja ou cidadãos comuns, estamos sempre repetindo as mesmas falas, sempre moendo a mesma farinha. Trata-se de falta de fé no desconhecido, no incognoscível. Não caminhamos em direção ao novo. Repetimos a mesma ladainha (...). Mas seria isso fé na vida, no sentido de que, de qualquer forma, ela é sempre risco e exige audácia? Não seria antes uma certeza, uma segurança que adormece a vida em insignificância e irresponsabilidade?
(Françoise Dolto)
ORAR
A comunidade eclesial não pode se
acomodar num oásis de fervor religioso por não suportar a aventura da fé no
deserto de Deus. A vida sacramental é muito mais que a mera administração
normativa dos sacramentos e, mais ainda, do que a estatística sociológica e
rudimentar dos fiéis
aglomerados e pegajosos como uma massa sem fermento. Temos que testemunhar,
como Jesus, que os sacramentos são gestos de amor e misericórdia para todos. O
próprio Jesus, na sua mesa acolhedora, converte-se em comida e bebida para os
que dele necessitam e seu Corpo e Sangue, entregue e derramado, são o sinal
desta comunidade escatológica e messiânica que reúne e une todos os povos num
só corpo e num só espírito. Caso as igrejas não puderem ser isto, não serão
igrejas de Jesus e se nossas ceias celebrativas não forem isto não serão a
eucaristia do Senhor. É por um dom de
Deus que nos preservamos da mentira e da injustiça e, mais do que nunca,
é necessário manter a retidão no pensar
e no fazer para cumprir o que
nos foi inspirado por Deus. Como nos alerta Tiago: “Sede cumpridores da palavra e não somente ouvintes, enganando-vos a vós
mesmos” (Tg 1, 22). Cada vez que fazemos o bem, Deus opera em nós e
conosco. De nada adianta a velocidade nas estradas da vida se não formos
capazes de parar para contemplar a beleza que Deus nos coloca diante olhos. De
nada adianta o que acumulamos de bens se humilhamos nossos irmãos, impondo a
eles o ritmo das nossas decisões autoritárias. De nada adianta, se, iludidos
pela nossa estatura de ricos, não conseguimos camuflar a mesquinha
amargura em que está mergulhada a perda irreparável da alegria de viver.
Meditemos as palavras de Etty Hillesum, morta nos campos de concentração pelos justos e saudáveis nazistas: “Devemos estar bem convencidos que o menor
átomo de discriminação, preconceito e ódio que acrescentamos a este mundo nos
faz transformá-lo em mais inospitaleiro do que já é”. Escutemos Jesus: “Em verdade, em verdade vos digo, que os
publicanos e as prostitutas vos precedem no Reino do meu Pai” (Mt 21,
31). Com certeza, os publicanos e as prostitutas de hoje são os que jamais
chamaríamos para sentar nas nossas mesas de cristãos virtuosos.
(Manos da Terna Solidão/Pe. Paulo
Botas, mts e Pe. Eduardo Spiller, mts)
CONTEMPLAR
We are all prostitutes, 2022, Monochrome Photography Awards 2022, Stephen
Burnett, Reino Unido.
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