Peguei da mão do anjo o livrinho e comi-o. Na boca era doce como
mel, mas, quando o engoli, meu estômago tornou-se amargo (Ap 10, 10).
IV Domingo da Páscoa
At 2, 14.36-41 1
Pe 2, 20-25 Jo 10,
1-10
ESCUTAR
“E vós recebereis o dom do Espírito Santo. Pois a promessa é para vós e vossos filhos, e para todos aqueles que estão longe, todos aqueles que o Senhor nosso Deus chamar para si” (At 2, 39-40).
“Caríssimos, se suportais com paciência aquilo que sofreis por ter feito o bem, isso vos torna agradáveis diante de Deus” (1 Pe 2, 20).
“Quem entra pela porta é o pastor das ovelhas. A esse o porteiro abre, e as ovelhas escutam a sua voz; ele chama as ovelhas pelo nome a as conduz para fora” (Jo 10, 2).
MEDITAR
(Vito Mancuso)
ORAR
O final da carta de Pedro nos introduz o tema central desta liturgia: “Andáveis como ovelhas desgarradas, mas agora voltastes ao pastor e guarda de vossas vidas”. Jesus se apresenta como a porta do redil. Uma porta de exclusão para os ladrões e salteadores, ao mesmo tempo, uma porta de inclusão e acesso para os verdadeiros pastores que dão a vida pelas ovelhas. É uma relação vital e não jurídica, doutrinal ou ritual. Tantas vezes, os pastores com suas investiduras legais e títulos de legitimidade jurídica se comportam como ladrões e bandidos e se tornam impotentes para criarem vínculos de confiança, intimidade e partilha. O verdadeiro pastor faz sair as ovelhas e as liberta dos sistemas fechados de dogmas, ritos e ideologia. A vida só está segura no movimento por Cristo, com Cristo e em Cristo, que nos oferece vida em abundância (Jo 10, 10) e não uma vida restrita às falsas seguranças do poder e do dinheiro. As ovelhas “não seguem um estranho, antes fogem dele, porque não conhecem a voz dos estranhos”. Os poderosos são obedecidos, mas não escutados, pois a sua voz tem a obstinação de dominar e não de amar. Não podemos prender Jesus no redil das nossas estreitas vidas como uma coisa que possuímos. Devemos é transformar nossas vidas numa porta sempre aberta para que entrem e saiam, renovados, os que o Senhor colocou em nossas travessias. O amor cristão não prende e nem cerceia, mas nos coloca na dinâmica de uma vida em liberdade. Para o cristão, “dar a vida” não significa entregar-se à morte, mas se arriscar e se expor diante de um perigo que ameaça um outro. Temos uma relação muito empobrecida com o Cristo: não cremos que Ele cuida de nós e que podemos recorrer a Ele quando nos sentimos cansados e sem esperança. Temos vivido em estruturas nas quais Jesus Cristo é confessado de maneira doutrinal, mas distante da comunidade; em que nossos pastores apascentam mais a si mesmos do que as suas ovelhas. Como diz o profeta a estes falsos pastores: “Comeis sua gordura e vos vestis com sua lã; matais as mais gordas. Não fortaleceis as fracas, nem curais as enfermas, nem vendais as feridas; não recolheis as desgarradas, nem procurais as perdidas e maltratais brutalmente as fortes” (Ez 34, 3-4). Neste tempo pascal, como em todos os outros tempos, devemos procurar o Ressuscitado no amor e não na letra morta; na verdade e não nas aparências; na ação criativa e não na passividade e na inércia; no silêncio interior e não na agitação superficial. Temos que nos perguntar se a palavra que escutamos em nossas igrejas provém da Galileia e nasce do Espírito do Ressuscitado para que não substituamos a voz inconfundível do Cristo pelo amontoado de pregações, de escritos teológicos, de exposição de catequistas que só nos causam ruídos e surdez para a voz límpida do Cristo que nos chama pelo nome, nos acolhe e nos perdoa em sua misericórdia.
(Manos da Terna Solidão/Pe. Paulo Botas, mts e Pe. Eduardo Spiller, mts)
CONTEMPLAR
O Bom Pastor, s.d., Daniel Bonnell, óleo sobre tela, 24 x 48 pol, Carolina do Sul, Estados Unidos.
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