Peguei da mão do anjo o livrinho e comi-o. Na boca era doce como
mel, mas, quando o engoli, meu estômago tornou-se amargo (Ap 10, 10).
Páscoa: Ressurreição do Senhor
At 10, 34.37-43 Cl 3, 1-4 Jo 20, 1-9
ESCUTAR
“Ele andou por toda parte, fazendo o bem e curando a
todos os que estavam dominados pelo demônio, porque Deus estava com ele” (At
10, 38).
Vós morrestes e a vossa vida está escondida, com
Cristo, em Deus (Cl 3 3).
Entrou também o outro discípulo, que tinha chegado
primeiro ao túmulo. Ele viu e acreditou.
MEDITAR
Os problemas, as preocupações de todos os dias nos
compelem a nos curvar sobre nós mesmos, na tristeza, na amargura... e aí está a
morte. Não procuramos aí Aquele que está vivo!
(Papa Francisco)
A grande tragédia da vida não é que o homem pereça,
mas que ele cesse de amar.
(Somerset Maugham)
ORAR
Este domingo da Ressurreição é um convite para
rompermos os limites dos nossos grupos, cenáculos, movimentos, para que nos
misturemos às pessoas comuns, unamos nossas vozes com os anônimos e com os
desafinados. É sabermos viver como um mortal comum, mas na liberdade do
Ressuscitado. Hoje, basta de polêmicas e excomunhão; de intolerâncias e
discriminações; de rasuras e miopias. Hoje, aconteceu algo novo e devemos
disponibilizar esta novidade para todos. Deixemos, por um instante apenas, de
sermos estorvos, obstáculos e impedimentos. Removamos a pesada pedra do nosso
coração e deixemos o sol entrar na caverna obscura em que tramamos nossas
dissimulações cotidianas. Hoje, devemos anunciar e não doutrinar; devemos
testemunhar e não inventar moralismos que impedem o contágio da alegria e da
luz. Hoje, devemos ser capazes de firmar um compromisso de fraternidade e de
paz. Neste domingo, é preciso não trapacear com a fé, não blefar com a
esperança e, muito menos, enganar e mentir sobre o amor. O Ressuscitado oferece
a todos as possibilidades de uma vida verdadeira ao aniquilar as mentiras em
que chafurdamos nossa existência: proclamamos religião e pensamos em dinheiro; dizemos igreja e digladiamos com unhas e dentes por carreiras bem
sucedidas; anunciamos serviço e buscamos
privilégios; arrotamos moralidades e
somos doutores em escapatórias e evasões sutis. Hoje, é preciso resgatar o
pudor perdido e deixarmos de sequestrar o coração por interesses espúrios e sem
escrúpulos. Hoje, o Cristo ressuscitou nu, transfigurado em amor e luz: “Pedro
viu as faixas de linho deitadas no chão e o pano que tinha estado sobre a
cabeça de Jesus, não posto com as faixas, mas enrolado num lugar à parte”.
Hoje, somos chamados a nos colocar em movimento, a ser companheiros de aventura
para criar novos mundos, para gerar novos homens e mulheres e não continuarmos
a ser os guardiões imóveis e estéreis de túmulos vazios; de arquivos cheios de
pó, de códigos bolorentos e de pilhas de papéis mofados. Não podemos buscar o
Ressuscitado onde Ele não está: nas batalhas, nas guerras, nas corrupções, nos
ritos sonolentos ou estridentes, nas litanias vazias e nas liturgias
mumificadas. O Cristo não está entre os mortos ainda que caminhem, se ajoelhem
e deem esmolas poucas do muito que lhes sobra. Neste domingo, ao menos uma vez
ao ano, devemos abrir nossos ouvidos para escutar o falar da vida, da paz, do
perdão mais forte do que a vingança, do amor que derrota a indiferença e da luz
que coloca em crise as tramas das trevas. Hoje, o poeta é enfático: “Mundo
mundo vasto mundo, mais vasto é meu coração” (Drummond). Hoje, o desvario das
mulheres só existe para os que desejam que o Cristo permaneça no sepulcro para
legitimar a resignação de viver encerrados em seus medos. Hoje, agora e sempre,
devemos gravar com um grito em nossos corpos a estupefação desafiadora: “Por
que procurais entre os mortos Aquele que está vivo? Não está aqui, ressuscitou”
(Lc 24, 5).
(Manos da Terna Solidão/Pe. Paulo Botas, mts e Pe. Eduardo Spiller,
mts)
CONTEMPLAR
Anastasis, 2003,
Arcabas (Jean-Marie Pirot) (1926-), óleo sobre tela, ouro fino 23 quilates,
1,62 m x 1,35 m, Saint-Pierre-de-Chartreuse, França.
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