Peguei da mão do anjo o livrinho e comi-o. Na boca era doce como
mel, mas, quando o engoli, meu estômago tornou-se amargo (Ap 10, 10).
II Domingo do Advento
Is 11, 1-10 Rm
15, 4-9 Mt 3, 1-12
ESCUTAR
“Ele não julgará pelas aparências que vê nem decidirá
somente por ouvir dizer; mas trará justiça para os humildes e uma ordem justa
para os homens pacíficos; fustigará a terra com a força da sua palavra e
destruirá o mau com o sopro dos lábios” (Is 11, 3-4).
“Assim, tendo como que um só coração e a uma só voz,
glorificareis o Deus e Pai do Senhor nosso, Jesus Cristo. Por isso, acolhei-vos
uns aos outros, como também Cristo vos acolheu, para a glória de Deus” (Rm 15,
6-7).
“‘Esta é a voz daquele que grita no deserto: preparai
o caminho do Senhor, endireitai suas veredas!’ (...) O machado já está na raiz
das árvores, e toda árvore que não der bom fruto será cortada e jogada no fogo”
(Mt 3, 3.10).
MEDITAR
Não há nada de melhor no mundo do que estas amizades
maravilhosas que Deus desperta e que são como o reflexo da gratuidade e da
generosidade do seu amor (Jacques Maritain).
Parti sem o mapa da estrada para descobrir Deus,
sabendo que Ele está no caminho e não no fim desta mesma estrada (Madeleine
Delbrêl).
ORAR
Converter-se é dar uma meia-volta sobre nós mesmos e retomar o início do caminho. Para isto, é necessário que uma palavra nos seja dirigida por alguém, por um outro. Este acontecimento, de uma voz que “grita no deserto”, é o início de uma vinda que desvela que “o reino de Deus está próximo”. O próprio Deus faz a sua irrupção na história da Humanidade e nos abre um outro futuro para além do implacável ciclo da violência; suscita a esperança de que a vinda de um Deus que se faz misericórdia é, de agora em diante, mais forte do que a sabedoria dos poderosos. A Boa Nova é a de que se antes vivíamos “à sombra da morte” (Lc 1, 79), agora e para sempre sucede a Vida partilhada “em superabundância” (Jo 10, 10). A primeira vez que o Anúncio ecoou no mundo, fizemos tudo para abafá-lo: João foi decapitado na prisão e Jesus ultrajado e crucificado. Os tempos da Igreja, os nossos tempos, não serão diferentes, pois “o servo não é maior que o seu Senhor. Se me perseguiram, também a vós perseguirão” (Jo 15, 20). O deserto é o lugar em que pregamos para nada e que ninguém vem para ouvir. Entretanto, o deserto é também o lugar em que se reencontra Deus se nos dignarmos a ir até o “nosso deserto”, pois Deus só se deixa encontrar pelos que se despojam. O anúncio do Evangelho exige o grito e o sussurro: a palavra forte e a palavra íntima. O grito é o da cólera de Deus para nos lembrar do seu amor e nos abrir os céus. O grito de Deus é um sinal de urgência. A voz em sussurro é sempre pessoal e única. Ela nos lembra que devemos adequar as nossas vidas ao Evangelho e não o contrário. O Evangelho já decidiu por nós e basta apenas que anunciemos as palavras do Cristo com a nossa voz e com a nossa prática fraterna, pois Deus nos fala pelo testemunho de seu Filho e somente a palavra encarnada pode conferir veracidade ao que proclamamos. João Batista lembra que é por nossas palavras que o Verbo é anunciado: anunciamos o Cristo com Suas palavras colocadas em nossas palavras. Se falarmos o deserto florescerá; se calarmos continuará a secar e a se tornar mais árido. Basta uma voz e o deserto não será mais um deserto, pois o Senhor nos pede que Lhe emprestemos os nossos ouvidos, mas que também Lhe emprestemos as nossas vozes. Façamos nossa a oração de Charles de Foucauld: “Ó Jesus, fazer a vontade de vosso Pai, agir em vista dele foi o vosso alimento e do que vivestes. Seja este também o nosso pão e a nossa vida: agir continuamente para Vós, para Vós viver, para a Vossa vontade e para a Vossa glória. Eis a nossa vida, o nosso pão cotidiano e o nosso viver a cada instante que poderá ser o último, ó meu Senhor e meu Deus”.
(Manos da Terna Solidão/Pe. Paulo Botas, mts e Pe. Eduardo Spiller, mts)
CONTEMPLAR
Virgem, o menino Jesus e São João, o Batista, William-Adolphe Bouguereau,
1875, óleo sobre tela, 122 x 200,5 cm, Coleção Particular, França.
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