A palavra de Deus é viva e eficaz e mais cortante que espada de
dois gumes (Hb 4, 12).
Santíssima Trindade
Pr 8, 22-31 Rm
5, 1-5 Jo 16, 12-15
ESCUTAR
“Assim fala a sabedoria
de Deus: O Senhor me possuiu como primícias de seus caminhos, antes de suas
obras mais antigas; desde a eternidade fui constituída, desde o princípio,
antes das origens da terra” (Pv 8, 22-23).
A tribulação gera a
constância, a constância leva a uma virtude provada, a virtude provada
desabrocha em esperança (Rm 5, 3-4).
“Tenho ainda
muita coisa a dizer-vos, mas não sois capazes de as compreender agora. Quando,
porém, vier o Espírito da verdade, ele vos conduzirá à plena verdade” (Jo 16,
12-13).
MEDITAR
“Alguns de nós acreditam que Deus
é Todo-Poderoso e que pode fazer tudo, e que Deus é Todo-Sabedoria e sabe como
fazer tudo. Mas que Deus é Todo-Amoroso e quer amar tudo, aqui nós nos
contemos. E essa ignorância atrapalha a maioria dos amantes de Deus, como eu
vejo (...) Deus quer ser pensado como nosso Amante” (Julian de Norwich).
“O amor é o único ímpeto que é
suficientemente avassalador para nos forçar a deixar o confortável abrigo da
nossa individualidade bem protegida, a pôr de lado a concha inexpugnável da
autossuficiência e rastejar nus para a zona do perigo, lá para a frente, para o
cadinho em que a individualidade se purifica para aparecer a personalidade”
(Mark Patrick Hederman, OSB)
ORAR
Neste
domingo é preciso nos deixar envolver pelo ritmo terno deste dinamismo de amor
no qual se concretiza o mistério: 1+1= 3. A
reciprocidade entre o Eu
do Pai e o Tu do Filho
gera o Espírito de Liberdade e de Amor que nos faz comungar da intimidade entre
o Pai e o Filho: “Tudo o que o Pai possui é meu. Por isso, disse que o
que ele receberá e vos anunciará é meu”.
A Trindade nos desvela e comunica o ilimitado deste amor gerado, pois “o amor de Deus foi derramado em nossos
corações pelo Espírito Santo que nos foi dado”. A plena revelação da sabedoria de Deus é estar junto aos homens e
mulheres no sofrimento e na doação até o fim para que possamos conhecer e
enfrentar “as tramas do mundo”,
pois a sabedoria penetra tudo como “um reflexo da luz eterna, espelho
nítido da atividade de Deus e imagem de sua bondade” (Sb 7, 26). O mundo é a morada da Trindade, pois Deus no
mundo e o mundo em Deus são a transfiguração
do mundo pelo Espírito. Basta a nós
sermos dóceis a esta dança trinitária que nos envolve e nos conduz. Basta
deixar que ela abra nossos olhos, aponte-nos o caminho a seguir, acompanhe-nos
com seus conselhos para que não aconteça de endurecermos a cabeça e o coração,
insistindo em caminhar em sentido contrário ao que nos mostra a Trindade (cf.
Sl 32). Somos chamados à explosão de Vida que emerge desta comunhão pessoal, trinitária e nupcial. A vida na
Trindade nos faz conhecer o ódio – a falta de amor – que é o pecado com o Filho; a cegueira – a negação da fé – que é o pecado contra o Espírito; o desespero que é o pecado contra o Pai
pela recusa do Infinito e pela escolha de se viver na asfixia do que é finito, limitado e sem
horizontes. Paulo nos garante que o
Espírito intercede em nosso
favor, a todo tempo e a todo instante, pois circulando visceralmente nas nossas veias ama e se entrega à sua comunidade
eclesial, como o amado se entrega à sua amada: “Beija-me com os beijos
da sua boca” (Ct 1, 1). Jamais
poderemos esquecer que é no silêncio de sua plenitude amorosa e do seu gozo
infinito que o Pai, revelado
pelo Filho, escuta o Espírito
Santo “interceder em nosso favor
com gemidos inefáveis” (Rm 8, 26). A
dança da Trindade é como o êxtase
dos noivos ao se entregarem, em mútua oferenda, para a realização plena de suas
núpcias. Neste exato momento, único e intransferível, a vida ordinária se esgota, transformando-se no mistério
extraordinário de ser e existir.
(Manos da Terna Solidão)
CONTEMPLAR
S. Título, 1977, affiche do Thèâtre de la
Ville, Paris, França.
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