A palavra de Deus é viva e eficaz e mais cortante que espada de
dois gumes (Hb 4, 12).
II Domingo da Páscoa
At 5, 12-16 Ap
1, 9-13.17-19 Jo 20, 19-31
ESCUTAR
Chegavam a transportar para as praças
os doentes em camas e macas, a fim de que, quando Pedro passasse, pelo menos a
sua sombra tocasse alguns deles (At 5, 15).
“Não tenhas medo. Eu sou o primeiro e
o último, aquele que vive” (Ap 17-18).
“Acreditaste porque me viste?
Bem-aventurados os que creram sem terem visto!” (Jo 20, 29).
MEDITAR
A vida cristã não é sobre acreditar
em credos e ser obediente a regras divinas; é sobre viver, amar e ser. A
Ressurreição vem quando somos livres para dar nossas vidas a fora, livres para
amar além das fronteiras de nossos medos, livres não apenas para sermos nós
mesmos, mas para conferir poder a todos os outros de serem plenamente eles mesmos
nessa nossa rica, diferenciada e multifacetada humanidade. Aqui o preconceito
morre. Aqui a totalidade é provada. Aqui a ressurreição torna-se real.
(John Shelby Spong, 1931-, Estados
Unidos)
ORAR
A aparição do Cristo no
livro do Apocalipse não é para a morte, mas para a vida: Ele é o Vivente, a
fonte da vida. Ele não está confinado ao passado, mas é o Cristo hoje e sempre:
“Estive morto, mas agora estou vivo para sempre e tenho as chaves da morte”.
Como disse o Papa Francisco na sua homilia da Vigília Pascal: “Jesus é o ‘hoje’
eterno de Deus”. O Ressuscitado caminha com a Igreja também no meio das trevas
e das tempestades as mais violentas. A Igreja antes de ser um lugar de culto,
de doutrina, de moral e da própria religião é, essencialmente, o lugar da fé no
Cristo ressuscitado. O evangelista revela justamente esse elemento vital para a
comunidade eclesial: o crescimento na fé. Não só Tomé, mas também os outros
discípulos têm dificuldade para crer. O evangelista concentra em Tomé esta
resistência à fé, porque a fé não é fruto de uma fácil exaltação. Toda fé
madura é carregada de dúvidas e isso é bom! Toda comunidade eclesial, de todos
os lugares e tempos, chega progressivamente, em meio a dúvidas, perplexidades,
proscrições, ao grito de fé de Tomé: “Meu Senhor e meu Deus”. Este homem, que
duvida e questiona, é o primeiro a confessar a divindade de Jesus. Crescer na
fé não significa se submeter a adestramentos catequéticos, mas compreender que
ser Católico é estar preparado para dizer que nós não possuímos todas as
respostas. O teólogo e cardeal Walter Kasper disse que a Igreja teria muito
mais autoridade se alguma vezes dissesse com mais frequência: “Eu não sei”. A
comunidade eclesial deve, prioritariamente, acolher os que buscam, questionam,
lutam, se debatem nas incertezas e perseguem, aos tropeções, um raio de luz. É
uma busca dolorosa que pode ser mais autêntica que a posse de uma certeza que
provoca a acomodação e a esclerose. Na comunidade eclesial, há espaço para os que
chegam primeiro, mas, sobretudo, para os retardatários como Tomé. A comunidade
eclesial deve manter suas portas escancaradas para todos e nunca mais fechadas
para preservar os que se consideram “perfeitos na fé”. A advertência nos é,
cotidianamente, lançada: “Crês que Deus existe? Muito bem! Também os demônios
creem e tremem de medo” (Tg 2, 19). Meditemos as palavras da teóloga alemã
Dorothee Sölle no seu poema Credo:
“Eu creio em deus que não criou um mundo imutável, algo incapaz de se
modificar, que não governa de acordo com leis que permanecem invioladas (...)
eu creio em deus que deseja conflito na vida e quer que nós transformemos o status quo, pelo nosso trabalho, por
nossas políticas [e por nossos sonhos]”.
(Manos da Terna Solidão)
CONTEMPLAR
A Incredulidade de São
Tomé, 1601-1602, Michelangelo Merisi da Caravaggio (1571-1610), óleo sobre tela, 107 cm x 146 cm,
Sanssouci, Potsdam, Alemanha.
Senhor, eu quero ter fé.
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