quinta-feira, 14 de abril de 2022

O Caminho da Beleza 21 - Páscoa da Ressurreição

A palavra de Deus é viva e eficaz e mais cortante que espada de dois gumes (Hb 4, 12).

Páscoa da Ressurreição                     

At 10, 34.37-43                 Cl 3, 1-4                   Jo 20, 1-9

 

ESCUTAR

“Vós sabeis o que aconteceu em toda a Judeia, a começar pela Galileia, depois do batismo pregado por João: como Jesus de Nazaré foi ungido por Deus com o Espírito Santo e com poder” (At 10, 37).

“Irmãos, se ressuscitastes com Cristo, esforçai-vos por alcançar as coisas do alto, onde está Cristo, sentado à direita de Deus; aspirai às coisas celestes e não às coisas terrestres” (Cl 3, 1-2).

“De fato, eles ainda não tinham compreendido a Escritura, segundo a qual Ele devia ressuscitar dos mortos” (Jo 20, 9).

 

MEDITAR

Os problemas, as preocupações de todos os dias nos compelem a nos curvar sobre nós mesmos, na tristeza, na amargura... e aí está a morte. Não procuramos aí Aquele que está vivo! (Francisco).

Não há saídas milagrosas. Não há respostas claras. Não há caminhos feitos. Não haverá nunca deste lado da morte, uma definitiva paz. Viver é arriscar-se, abrir caminhos às escuras (D. Pedro Casaldáliga).

 

ORAR

       Este domingo da Ressurreição é um convite para rompermos os limites dos nossos grupos, cenáculos, movimentos, para que nos misturemos às pessoas comuns, unamos nossas vozes com os anônimos e com os desafinados. É sabermos viver como um mortal comum, mas na liberdade do Ressuscitado. Hoje, basta de polêmicas e excomunhão; de intolerâncias e discriminações; de rasuras e miopias. Hoje, aconteceu algo novo e devemos disponibilizar esta novidade para todos. Deixemos, por um instante apenas, de sermos estorvos, obstáculos e impedimentos. Removamos a pesada pedra do nosso coração e deixemos o sol entrar na caverna obscura em que tramamos nossas dissimulações cotidianas. Hoje, devemos anunciar e não doutrinar; devemos testemunhar e não inventar moralismos que impedem o contágio da alegria e da luz. Hoje, devemos ser capazes de firmar um compromisso de fraternidade e de paz. Neste domingo, é preciso não trapacear com a fé, não blefar com a esperança e, muito menos, enganar e mentir sobre o amor. O Ressuscitado oferece a todos as possibilidades de uma vida verdadeira ao aniquilar as mentiras em que chafurdamos nossa existência: proclamamos religião e pensamos em dinheiro; dizemos igreja e digladiamos com unhas e dentes por carreiras bem sucedidas; anunciamos serviço e buscamos privilégios; arrotamos moralidades e somos doutores em escapatórias e evasões sutis. Hoje, é preciso resgatar o pudor perdido e deixarmos de sequestrar o coração por interesses espúrios e sem escrúpulos. Hoje, o Cristo ressuscitou nu, transfigurado em amor e luz: “Pedro viu as faixas de linho deitadas no chão e o pano que tinha estado sobre a cabeça de Jesus, não posto com as faixas, mas enrolado num lugar à parte”. Hoje, somos chamados a nos colocar em movimento, a ser companheiros de aventura para criar novos mundos, para gerar novos homens e mulheres e não continuarmos a ser os guardiões imóveis e estéreis de túmulos vazios; de arquivos cheios de pó, de códigos bolorentos e de pilhas de papéis mofados. Não podemos buscar o Ressuscitado onde Ele não está: nas batalhas, nas guerras, nas corrupções, nos ritos sonolentos ou estridentes, nas litanias vazias e nas liturgias mumificadas. O Cristo não está entre os mortos ainda que caminhem, se ajoelhem e deem esmolas poucas do muito que lhes sobra. Neste domingo, ao menos uma vez ao ano, devemos abrir nossos ouvidos para escutar o falar da vida, da paz, do perdão mais forte do que a vingança, do amor que derrota a indiferença e da luz que coloca em crise as tramas das trevas. Hoje, o desvario das mulheres só existe para os que desejam que o Cristo permaneça no sepulcro para legitimar a resignação de viver encerrados em seus medos. Hoje, agora e sempre, devemos tatuar como um grito em nossos corpos a estupefação desafiadora: “Por que procurais entre os mortos Aquele que está vivo? Não está aqui, ressuscitou” (Lc 24, 5).

(Manos da Terna Solidão)

 

CONTEMPLAR

Anastasis, 2003, Arcabas (Jean-Marie Pirot) (1926-), óleo sobre tela, ouro fino 23 quilates, 1,62 m x 1,35 m, Saint-Pierre-de-Chartreuse, França.




 

Nenhum comentário:

Postar um comentário