A palavra de Deus é viva e eficaz e mais cortante que espada de
dois gumes (Hb 4, 12).
Páscoa da Ressurreição
At 10, 34.37-43 Cl 3, 1-4 Jo
20, 1-9
ESCUTAR
“Vós sabeis o
que aconteceu em toda a Judeia, a começar pela Galileia, depois do batismo
pregado por João: como Jesus de Nazaré foi ungido por Deus com o Espírito Santo
e com poder” (At 10, 37).
“Irmãos, se
ressuscitastes com Cristo, esforçai-vos por alcançar as coisas do alto, onde
está Cristo, sentado à direita de Deus; aspirai às coisas celestes e não às
coisas terrestres” (Cl 3, 1-2).
“De fato, eles
ainda não tinham compreendido a Escritura, segundo a qual Ele devia ressuscitar
dos mortos” (Jo 20, 9).
MEDITAR
Os problemas, as preocupações de todos os dias nos
compelem a nos curvar sobre nós mesmos, na tristeza, na amargura... e aí está a
morte. Não procuramos aí Aquele que está vivo! (Francisco).
Não há saídas
milagrosas. Não há respostas claras. Não há caminhos feitos. Não haverá nunca
deste lado da morte, uma definitiva paz. Viver é arriscar-se, abrir caminhos às
escuras (D. Pedro Casaldáliga).
ORAR
Este domingo da Ressurreição é um convite para rompermos os limites dos
nossos grupos, cenáculos, movimentos, para que nos misturemos às pessoas
comuns, unamos nossas vozes com os anônimos e com os desafinados. É sabermos
viver como um mortal comum, mas na liberdade do Ressuscitado. Hoje, basta de
polêmicas e excomunhão; de intolerâncias e discriminações; de rasuras e
miopias. Hoje, aconteceu algo novo e devemos disponibilizar esta novidade para
todos. Deixemos, por um instante apenas, de sermos estorvos, obstáculos e
impedimentos. Removamos a pesada pedra do nosso coração e deixemos o sol entrar
na caverna obscura em que tramamos nossas dissimulações cotidianas. Hoje,
devemos anunciar e não doutrinar; devemos testemunhar e não inventar moralismos
que impedem o contágio da alegria e da luz. Hoje, devemos ser capazes de firmar
um compromisso de fraternidade e de paz. Neste domingo, é preciso não trapacear
com a fé, não blefar com a esperança e, muito menos, enganar e mentir sobre o
amor. O Ressuscitado oferece a todos as possibilidades de uma vida verdadeira
ao aniquilar as mentiras em que chafurdamos nossa existência: proclamamos religião e pensamos em dinheiro; dizemos
igreja e digladiamos com unhas e
dentes por carreiras bem sucedidas; anunciamos serviço e buscamos privilégios; arrotamos moralidades e somos doutores em escapatórias e evasões sutis. Hoje,
é preciso resgatar o pudor perdido e deixarmos de sequestrar o coração por
interesses espúrios e sem escrúpulos. Hoje, o Cristo ressuscitou nu,
transfigurado em amor e luz: “Pedro viu as faixas de linho deitadas no chão e o
pano que tinha estado sobre a cabeça de Jesus, não posto com as faixas, mas
enrolado num lugar à parte”. Hoje, somos chamados a nos colocar em movimento, a
ser companheiros de aventura para criar novos mundos, para gerar novos homens e
mulheres e não continuarmos a ser os guardiões imóveis e estéreis de túmulos
vazios; de arquivos cheios de pó, de códigos bolorentos e de pilhas de papéis
mofados. Não podemos buscar o Ressuscitado onde Ele não está: nas batalhas, nas
guerras, nas corrupções, nos ritos sonolentos ou estridentes, nas litanias
vazias e nas liturgias mumificadas. O Cristo não está entre os mortos ainda que
caminhem, se ajoelhem e deem esmolas poucas do muito que lhes sobra. Neste
domingo, ao menos uma vez ao ano, devemos abrir nossos ouvidos para escutar o
falar da vida, da paz, do perdão mais forte do que a vingança, do amor que
derrota a indiferença e da luz que coloca em crise as tramas das trevas. Hoje,
o desvario das mulheres só existe para os que desejam que o Cristo permaneça no
sepulcro para legitimar a resignação de viver encerrados em seus medos. Hoje,
agora e sempre, devemos tatuar como um grito em nossos corpos a estupefação
desafiadora: “Por que procurais entre os mortos Aquele que está vivo? Não está
aqui, ressuscitou” (Lc 24, 5).
(Manos da Terna Solidão)
CONTEMPLAR
Anastasis, 2003,
Arcabas (Jean-Marie Pirot) (1926-), óleo sobre tela, ouro fino 23 quilates,
1,62 m x 1,35 m, Saint-Pierre-de-Chartreuse, França.
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