A palavra de Deus é viva e eficaz e mais cortante que espada de
dois gumes (Hb 4, 12).
III Domingo do Advento
Sf 3, 14-18 Fl
4, 4-7 Lc 3, 10-18
ESCUTAR
“O Senhor, teu Deus, está no meio de ti, o valente guerreiro que te salva; ele exultará de alegria por ti, movido por amor; exultará por ti, entre louvores, como nos dias de festa” (Sf 3, 17-18).
“Alegrai-vos sempre no Senhor; eu repito, alegrai-vos. Que a vossa bondade seja conhecida de todos os homens! O Senhor está próximo!” (Fl 4, 4).
“Eu vos batizo com água, mas virá aquele que é mais forte do que eu. Eu não sou digno de desamarrar a correia de suas sandálias. Ele vos batizará no Espírito Santo e no fogo” (Lc 3, 16).
MEDITAR
O Evangelho convida-nos sempre a abraçar o risco do encontro com o rosto do outro, com a sua presença física que interpela, com os seus sofrimentos e suas reivindicações, com a sua alegria contagiosa permanecendo lado a lado. A verdadeira fé no Filho de Deus feito carne é inseparável do dom de si mesmo, da pertença à comunidade, do serviço, da reconciliação com a carne dos outros. Na sua encarnação, o Filho de Deus convidou-nos à revolução da ternura (Francisco, Evangelii Gaudium, 88, 2013).
“Não é preciso mostrar as faltas do outro com o dedo sujo” (Provérbio italiano).
ORAR
A dinâmica da vida cristã se realiza
na resposta a uma tríplice vocação: a da esperança, a da conversão do olhar e a
da alegria. Temos uma vocação à alegria ainda que tentem nos incutir que a
felicidade está proibida e que devemos suportar, nesta terra, um “vale de
lágrimas”. A alegria da comunidade eclesial é a melhor prova da existência de
Deus, ou pelo menos, uma suspeita desta existência. O cristão deve aprender a
praticar a ascese da felicidade, a penitência do sorriso e o cilício da
serenidade. Esta alegria é conquistada quando saímos de nós mesmos, do nosso
egoísmo e nos abrimos a Deus para acolher os seus desígnios em nossa vida. E
esta acolhida não implica numa dimensão intimista, mas numa abertura ao mundo
inteiro. Quando o “valente guerreiro que te salva” (Sf 3, 17) está no meio de
nós, podemos começar do zero e inventar outra história: dizer sim a Deus e ao próximo. João, o
Batista, revela que o sinal da descoberta da presença do próximo está na nossa
capacidade de partilhar: “Quem tiver duas túnicas, dê uma a quem não tem; e
quem tiver comida, faça o mesmo!”. A regra de ouro dos sinais do Reino está na
justiça e não na extorsão; na recusa da violência, da mentira e da busca insana
do proveito próprio com o prejuízo dos outros. João proclama a conversão como
descoberta do próximo e esta descoberta como elemento essencial da nossa
alegria. O Cristo reitera que só sendo um ser-em-comunhão é que poderemos
atingir a felicidade. A alegria cristã é marcada pela afabilidade, esta
capacidade de não fazer dramas por ninharias; de aniquilar toda a ansiedade e
inquietude e de exorcizar toda a angústia: “Não vos preocupeis!”. A alegria é a
nossa capacidade de dar graças e para o cristão ser significa ser na alegria.
Temos que ser sinais de alegria neste mundo necessitado de tréguas e de
repouso; neste mundo em desânimo e depressivo onde o acumular é a chave mestra
do viver e os caminhos se tornaram tortuosos pela cobiça e pela ambição. Este
Menino é a luz do mundo e temos que resplandecer esta luz para que não seja
apagada pelo vento do orgulho e da soberba. É a humildade profética que nos
liberta para o anúncio de Cristo a todos os povos e nações: “Eu não sou digno
de desamarrar a correia de suas sandálias”. A manjedoura desvela que a casa do
Senhor é o lugar dos abraços, da partilha e da comunhão. É o lugar onde todos,
sem discriminação, podem e devem saciar-se da ternura do Pai. E nela somos
convidados a entrar em todas as horas do dia e todos os dias do ano, dizendo:
“Alegrai-vos sempre no Senhor; eu repito, alegrai-vos”.
(Manos da Terna Solidão)
CONTEMPLAR
Madona com a criança – Apresentação aos
magos do Oriente, Arcabas (Jean-Marie Pirot), s.d., 80 x 80 cm, óleo sobre
tela, coleção particular, Costa de Santo André, França.
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