Os transbordamentos de amor acontecem
sobretudo nas encruzilhadas da vida, em momentos de abertura, fragilidade e
humildade, quando o oceano do amor de Deus arrebenta os diques da nossa
autossuficiência e permite, assim, uma nova imaginação do possível (Papa
Francisco).
XXIX Domingo do Tempo Comum 17.10.2021
Is
53, 10-11 Hb 4, 14-16 Mc 10, 35-45
ESCUTAR
O Senhor quis macerá-lo com sofrimentos (Is 53, 10).
Temos um sumo sacerdote eminente, que entrou no céu, Jesus, o Filho de Deus (Hb 4, 14).
“Vós sabeis que os chefes das nações as oprimem e os grandes as tiranizam. Mas, entre vós, não deve ser assim” (Mc 10, 42).
MEDITAR
Essa palavra do Cristo em que ele se proclama “servo” nos faz compreender que a paixão não deve ser entendida de modo dolorista. O caminho da cruz não é “sofrer”, mas, primeiro, “servir”. Há um crescendo: a primeira instrução convidava o discípulo a tomar a sua cruz, a arriscar a sua vida pelo Evangelho; depois, a ênfase era sobre a vida entre irmãos, sobre o espírito de serviço e a vida fraterna; agora, põe-se em destaque o motivo de tudo isso: é preciso seguir o Cristo-Servo, que serve até ao dom de sua vida pela multidão.
(Jean Delorme, 1920-2005, França)
ORAR
O problema capital que este evangelho coloca não é a rejeição
da soberba, mas a rejeição do poder. Para que os discípulos
entendam o que o Evangelho lhes pede, Jesus não coloca, como exemplo, que se
deve evitar aos orgulhosos, mas sim aos poderosos... O problema
que a Igreja tem com o Evangelho não está no possível orgulho, vaidade ou
soberba que podem ter alguns de seus membros, mas no poder que o “ministério
apostólico” exerce sobre os demais católicos.
Ao dizer isso, não se trata de afirmar que na Igreja não deve haver
presbíteros, bispos e Papa. O problema não está na existência do poder,
mas no exercício desse poder. Jesus não quer que os apóstolos (e seus
sucessores ou colaboradores) exerçam o poder como exercem os chefes políticos.
No entanto, resulta chocante que o texto evangélico em que Jesus proíbe isso,
de forma taxativa (Mt 20, 26; Mc 10, 43), não é citado uma vez sequer nos
principais documentos do Magistério da Igreja (Denzinger-Hünermann, pp. 1583
ss). Resulta inevitável pensar que o Magistério eclesiástico escolheu do
Evangelho o que justificava seu poder e sua forma de exercer o poder, ao mesmo
tempo em que marginalizou o que colocava o mais sério problema ao exercício do
poder eclesiástico. Os documentos eclesiásticos sobre o poder na Igreja não são
a última palavra sobre este assunto. A Igreja tem o direito e o dever de seguir
buscando o modo de exercer o poder que seja coerente com o Evangelho. Um poder
nunca baseado na submissão incondicional de uns (os leigos) para com os
outros (presbíteros, bispos, Papa), mas baseado no seguimento de Jesus,
o Senhor. Porque o seguimento gera, por si só e por si mesmo, exemplaridade e
felicidade. É urgente que a Igreja ofereça a este mundo (de tantos poderes
opressores) outro modelo de exercer a autoridade.
(José María Castillo, 1929-, Espanha)
CONTEMPLAR
Quarto de Dom Pedro Casaldáliga, 2014, Wilson Dias, Agência Brasil, Brasil.
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