quinta-feira, 14 de outubro de 2021

O Caminho da Beleza 48 - XXIX Domingo do Tempo Comum

Os transbordamentos de amor acontecem sobretudo nas encruzilhadas da vida, em momentos de abertura, fragilidade e humildade, quando o oceano do amor de Deus arrebenta os diques da nossa autossuficiência e permite, assim, uma nova imaginação do possível (Papa Francisco).

XXIX Domingo do Tempo Comum             17.10.2021

Is 53, 10-11             Hb 4, 14-16             Mc 10, 35-45

 

ESCUTAR

O Senhor quis macerá-lo com sofrimentos (Is 53, 10).

Temos um sumo sacerdote eminente, que entrou no céu, Jesus, o Filho de Deus (Hb 4, 14).

“Vós sabeis que os chefes das nações as oprimem e os grandes as tiranizam. Mas, entre vós, não deve ser assim” (Mc 10, 42).

 

MEDITAR

Essa palavra do Cristo em que ele se proclama “servo” nos faz compreender que a paixão não deve ser entendida de modo dolorista. O caminho da cruz não é “sofrer”, mas, primeiro, “servir”. Há um crescendo: a primeira instrução convidava o discípulo a tomar a sua cruz, a arriscar a sua vida pelo Evangelho; depois, a ênfase era sobre a vida entre irmãos, sobre o espírito de serviço e a vida fraterna; agora, põe-se em destaque o motivo de tudo isso: é preciso seguir o Cristo-Servo, que serve até ao dom de sua vida pela multidão.

(Jean Delorme, 1920-2005, França)

 

ORAR

        O problema capital que este evangelho coloca não é a rejeição da soberba, mas a rejeição do poder. Para que os discípulos entendam o que o Evangelho lhes pede, Jesus não coloca, como exemplo, que se deve evitar aos orgulhosos, mas sim aos poderosos... O problema que a Igreja tem com o Evangelho não está no possível orgulho, vaidade ou soberba que podem ter alguns de seus membros, mas no poder que o “ministério apostólico” exerce sobre os demais católicos.  Ao dizer isso, não se trata de afirmar que na Igreja não deve haver presbíteros, bispos e Papa. O problema não está na existência do poder, mas no exercício desse poder. Jesus não quer que os apóstolos (e seus sucessores ou colaboradores) exerçam o poder como exercem os chefes políticos. No entanto, resulta chocante que o texto evangélico em que Jesus proíbe isso, de forma taxativa (Mt 20, 26; Mc 10, 43), não é citado uma vez sequer nos principais documentos do Magistério da Igreja (Denzinger-Hünermann, pp. 1583 ss). Resulta inevitável pensar que o Magistério eclesiástico escolheu do Evangelho o que justificava seu poder e sua forma de exercer o poder, ao mesmo tempo em que marginalizou o que colocava o mais sério problema ao exercício do poder eclesiástico. Os documentos eclesiásticos sobre o poder na Igreja não são a última palavra sobre este assunto. A Igreja tem o direito e o dever de seguir buscando o modo de exercer o poder que seja coerente com o Evangelho. Um poder nunca baseado na submissão incondicional de uns (os leigos) para com os outros (presbíteros, bispos, Papa), mas baseado no seguimento de Jesus, o Senhor. Porque o seguimento gera, por si só e por si mesmo, exemplaridade e felicidade. É urgente que a Igreja ofereça a este mundo (de tantos poderes opressores) outro modelo de exercer a autoridade.

(José María Castillo, 1929-, Espanha)

 

CONTEMPLAR

Quarto de Dom Pedro Casaldáliga, 2014, Wilson Dias, Agência Brasil, Brasil.




 

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