segunda-feira, 12 de abril de 2021

O Caminho da Beleza 22 - III Domingo da Páscoa

Os transbordamentos de amor acontecem sobretudo nas encruzilhadas da vida, em momentos de abertura, fragilidade e humildade, quando o oceano do amor de Deus arrebenta os diques da nossa autossuficiência e permite, assim, uma nova imaginação do possível (Papa Francisco).

III Domingo da Páscoa            18.04.2021

At 3, 13-15.17-19               1 Jo 2, 1-5                Lc 24, 35-48

 

ESCUTAR

“Vós matastes o autor da vida, mas Deus o ressuscitou dos mortos, e disso nós somos testemunhas” (At 3, 15)

Quem diz: “Eu conheço a Deus”, mas não guarda os seus mandamentos, é mentiroso, e a verdade não está nele (1 Jo 2, 4).

Jesus apareceu no meio deles e lhes disse: “A paz esteja convosco!” Eles ficaram assustados e cheios de medo, pensando que estavam vendo um fantasma (Lc 24, 36-37).

 

MEDITAR

Enfim, no Amor eu me lanço,

Aí encontrando toda liberdade,

Noutro lugar, me vejo só;

É lá meu mais íntimo descanso,

É lá que estou rendido,

Ficando alegremente perdido.

(Jean-Joseph Surin, 1600-1665, França)

 

ORAR

       Jesus em carne e osso: haveria aí um outro caminho para abordar Jesus? Certamente, não. E, no entanto, depois da Páscoa, isto é, depois da morte e ressurreição de Jesus, alguma coisa aconteceu com esta carne. Não é mais o corpo de antes, familiar, reconhecível à primeira vista, mas frágil e ainda consagrado à morte. É agora o corpo do depois, um corpo em que ocorrem ao mesmo tempo a morte e o amor. Como todo homem, Jesus está inteiramente morto. Mas esta morte, pela primeiríssima vez, foi um ápice de amor. A morte, com efeito, só podia ser transformada por uma morte de homem de qualidade excepcional, uma morte que seria, pura e simplesmente, o encontro e a fusão de dois amores. Quais foram esses dois amores que se encontraram no corpo de Jesus? De início, o amor de Jesus propriamente. Até ali, seu corpo era um corpo para a morte, marcado por esta desde os princípios, como nosso corpo de hoje, e destinado à dissolução final. Jesus havia assumido esse corpo por amor a nós, e por ser capaz de ir até o fim desse amor, ingressando conosco em nossa morte, pois não há maior amor do que dar a sua vida. Em seguida, o outro amor, vindo ao encontro do seu, era o amor de seu Pai, que não podia abandonar seu Filho à corrupção, mas que devia acolhê-lo para lhe dar um corpo novo e uma vida nova. E eis a maneira pela qual, em sua morte pascal, o corpo de Jesus se torna o lugar crucial, onde a morte se acha dissipada pela vida, uma vez que nele dois amores se tocam face a face, num único e mesmo abraço: o amor do Filho doando-se até a morte e o amor do Pai salvando seu Filho da morte, o encontro de onde jorra a ressurreição. Tendo assim salvado seu Filho, Deus salva de um só vez seus outros filhos. Pois o que acontece com o corpo de Jesus acontece igualmente com o nosso próprio corpo, a nós que fomos batizados na morte e ressurreição de Jesus. Alguma coisa do corpo ressuscitado de Jesus, um simples grão, uma pequena, mas poderosa, semente, foi enterrada em nosso próprio corpo e ali trabalha misteriosamente. Há ali não apenas uma esperança de ressurreição futura, mas desde já, em nossos melhores momentos presentes, um admirável começo, um maravilhoso reflexo do corpo ressuscitado de Jesus.  Não é sempre fácil perceber isso. Pois a morte não é suprimida, nem o sofrimento dos corpos, nem os reveses no amor, nem o pecado. E, no entanto, por toda parte onde o corpo do homem e da mulher se acham engajados, uma esperança é dada de que, qualquer coisa que lhe aconteça e qualquer que seja sua miséria e decadência, na doença, na tortura e até na agonia, uma esperança é dada de que através dele um amor verdadeiro pode sempre vir à luz. Isso unicamente por causa do corpo ressuscitado de Jesus.

(André Louf, 1929-2010, Bélgica)

 

CONTEMPLAR

Amor, s.d.,  auto-retrato com meu querido marido, Laura Makabresku (1987-), Cracóvia, Polônia.





 

 

 

 

 

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