sexta-feira, 25 de dezembro de 2020

O Caminho da Beleza 06 - Sagrada Família de Jesus, Maria e José

    Mantinha-se firme, como se visse o Invisível! (Hb 11, 27)

Sagrada Família de Jesus, Maria e José              27.12.20

Eclo 3, 3-7.14-17               Cl 3, 12-21               Lc 2, 22-40

 

ESCUTAR

Meu filho, ampara o teu pai na velhice e não lhe causes desgosto enquanto ele vive... a caridade feita a teu pai não será esquecida (Eclo 3, 14.15).

Amai-vos uns aos outros, pois o amor é o vínculo da perfeição (Cl 3, 14).

“Este menino vai ser causa tanto de queda como de reerguimento para muitos em Israel. Ele será um sinal de contradição (Lc 2, 34).

 

MEDITAR


O SEU SANTO NOME

Não facilite com a palavra amor.

Não a jogue no espaço, bolha de sabão.

Não se inebrie com o seu engalanado som.

Não a empregue sem razão acima de toda razão (e é raro).

Não brinque, não experimente, não cometa a loucura sem remissão

de espalhar aos quatro ventos do mundo essa palavra

que é toda sigilo e nudez, perfeição e exílio na Terra.

Não a pronuncie.

(Carlos Drummond de Andrade, 1902-1987, Brasil)

 

ORAR

      Simeão entra em cena, movido pelo Espírito (nomeado por três vezes). E é o Espírito que inspira em Simeão as palavras que revelam o mistério desse pequeno menino: “meus olhos viram tua salvação”. Simeão esperava a consolação de Israel, Ana (e muitos outros, se compreendo bem) esperava a libertação de Jerusalém... Todos os dois, visivelmente, estão cumulados. Ora, as palavras “consolação de Israel” e “libertação de Jerusalém” eram as que se empregavam no Primeiro Testamento à propósito do Messias. O papel do Messias, justamente, será o de trazer a salvação definitiva, a consolação, a libertação. Lucas está a nos dizer, por palavras veladas – veladas talvez para nós, mas muito claras para os familiares do Primeiro Testamento – que esta criança é o Messias que se esperava. As palavras de Simeão já o dizem: “Agora, Senhor, podes deixar teu servo ir em paz, segundo tua palavra. Porque meus olhos viram tua salvação, que preparastes diante de todos os povos; luz para iluminar as nações pagãs e glória do teu povo, Israel”; e as da profetiza Ana vem confirmar: como diz Lucas, “Ela proclamava louvores a Deus e falava do menino a todos os que esperavam a libertação de Jerusalém”. Todo o Antigo Testamento é a história desta longa e paciente preparação por Deus da salvação da humanidade. E trata-se sim da “salvação da humanidade” e não apenas do povo de Israel. A glória de Israel, justamente, é a de não ter sido eleito para si só, mas para a humanidade inteira. À medida que a história avançava, o Antigo Testamento descobria cada vez mais que o desígnio da salvação de Deus contempla toda a humanidade. Outra surpresa, não a única, neste episódio: Lucas não nos apresenta Jesus com os traços de um rei filho de Davi, como havia feito nos relatos da Anunciação e da Natividade, por exemplo. As assertivas sobre Belém, sobre o trono de Davi seu pai, sobre um reino que não terá fim... eram igualmente alusões à realeza do Messias. Aqui, Lucas escolheu nos revelar um outro aspecto do mistério do Messias: o Messias-Servo; e, visivelmente, escrevendo essas linhas, o evangelista está impregnado pelos cantos do Servo contidos no livro de Isaías. “Te tomei ao lado e te destinei a ser a aliança do povo, a ser a luz das nações” (Is 42) ou “Te destinei a ser a luz das nações a fim de que minha salvação esteja presente até os confins da terra” (Is 49). A segunda parte da declaração de Simeão ressalta uma outra característica do Messias: “teu filho provocará tanto a queda como o reerguimento de muitos em Israel. Ele será um sinal de contradição”. É uma alusão à pedra de tropeço para os descrentes de que fala Isaías (8, 14-15) transformada, ao contrário, em pedra de fundação (pedra angular) para os que acreditam (Is 28, 16). Consolação de Israel, libertação de Jerusalém, pedra angular... este menino é mesmo o Messias que se esperava, ou seja, aquele que traz a Salvação. Como diz ainda Isaías (canto 53): “Por ele se cumprirá a vontade do Senhor”. Pois, depois de Abraão, sabe-se que a vontade do Senhor é a salvação para todas as famílias da terra.

(Marie-Noëlle Thabut, 1939-, França).

 

CONTEMPLAR

Velha mulher, 2019, Wei Chang Kuo, fotografia do ano do Monochrome Photography Awards 2019, categoria profissional, Taiwan.




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