Mantinha-se
firme, como se visse o Invisível! (Hb 11, 27)
Sagrada Família de Jesus, Maria e José 27.12.20
Eclo 3, 3-7.14-17 Cl 3, 12-21 Lc
2, 22-40
ESCUTAR
Meu filho, ampara o teu pai na velhice e não lhe causes desgosto enquanto ele vive... a caridade feita a teu pai não será esquecida (Eclo 3, 14.15).
Amai-vos uns aos outros, pois o amor é o vínculo da perfeição (Cl 3, 14).
“Este menino vai ser causa tanto de queda como de reerguimento para muitos em Israel. Ele será um sinal de contradição (Lc 2, 34).
MEDITAR
O SEU SANTO NOME
Não facilite com a palavra amor.
Não a jogue no espaço, bolha de sabão.
Não se inebrie com o seu engalanado som.
Não a empregue sem razão acima de toda
razão (e é raro).
Não brinque, não experimente, não cometa a
loucura sem remissão
de espalhar aos quatro ventos do mundo essa
palavra
que é toda sigilo e nudez, perfeição e
exílio na Terra.
Não a pronuncie.
(Carlos Drummond de Andrade, 1902-1987, Brasil)
ORAR
Simeão
entra em cena, movido pelo Espírito (nomeado por três vezes). E é o Espírito
que inspira em Simeão as palavras que revelam o mistério desse pequeno menino:
“meus olhos viram tua salvação”. Simeão esperava a consolação de
Israel, Ana (e muitos outros, se compreendo bem) esperava a libertação
de Jerusalém... Todos os dois, visivelmente, estão cumulados. Ora, as
palavras “consolação de Israel” e “libertação de Jerusalém” eram as que se
empregavam no Primeiro Testamento à propósito do Messias. O papel do Messias,
justamente, será o de trazer a salvação definitiva, a consolação, a libertação.
Lucas está a nos dizer, por palavras veladas – veladas talvez para nós, mas
muito claras para os familiares do Primeiro Testamento – que esta criança é o
Messias que se esperava. As palavras de Simeão já o dizem: “Agora, Senhor,
podes deixar teu servo ir em paz, segundo tua palavra. Porque meus olhos viram
tua salvação, que preparastes diante de todos os povos; luz para iluminar as
nações pagãs e glória do teu povo, Israel”; e as da profetiza Ana vem
confirmar: como diz Lucas, “Ela proclamava louvores a Deus e falava do
menino a todos os que esperavam a libertação de Jerusalém”. Todo o Antigo
Testamento é a história desta longa e paciente preparação por Deus da salvação
da humanidade. E trata-se sim da “salvação da humanidade” e não apenas do povo
de Israel. A glória de Israel, justamente, é a de não ter sido eleito para si
só, mas para a humanidade inteira. À medida que a história avançava, o Antigo
Testamento descobria cada vez mais que o desígnio da salvação de Deus contempla
toda a humanidade. Outra surpresa, não a única, neste episódio: Lucas não nos
apresenta Jesus com os traços de um rei filho de Davi, como havia feito nos
relatos da Anunciação e da Natividade, por exemplo. As assertivas sobre Belém,
sobre o trono de Davi seu pai, sobre um reino que não terá fim... eram
igualmente alusões à realeza do Messias. Aqui, Lucas escolheu nos revelar um
outro aspecto do mistério do Messias: o Messias-Servo; e, visivelmente,
escrevendo essas linhas, o evangelista está impregnado pelos cantos do Servo
contidos no livro de Isaías. “Te tomei ao lado e te destinei a ser a aliança
do povo, a ser a luz das nações” (Is 42) ou “Te destinei a ser a luz das
nações a fim de que minha salvação esteja presente até os confins da terra”
(Is 49). A segunda parte da declaração de Simeão ressalta uma outra
característica do Messias: “teu filho provocará tanto a queda como o
reerguimento de muitos em Israel. Ele será um sinal de contradição”. É uma
alusão à pedra de tropeço para os descrentes de que fala Isaías (8, 14-15)
transformada, ao contrário, em pedra de fundação (pedra angular) para os que
acreditam (Is 28, 16). Consolação de Israel, libertação de Jerusalém, pedra
angular... este menino é mesmo o Messias que se esperava, ou seja, aquele que
traz a Salvação. Como diz ainda Isaías (canto 53): “Por ele se cumprirá a
vontade do Senhor”. Pois, depois de Abraão, sabe-se que a vontade do Senhor
é a salvação para todas as famílias da terra.
(Marie-Noëlle Thabut, 1939-, França).
CONTEMPLAR
Velha mulher, 2019, Wei Chang Kuo, fotografia do ano do Monochrome Photography Awards 2019, categoria profissional, Taiwan.
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