segunda-feira, 14 de dezembro de 2020

O Caminho da Beleza 04 - IV Domingo do Advento

        Mantinha-se firme, como se visse o Invisível! (Hb 11, 27)


IV Domingo do Advento                      20.12.2020

2 Sm 7, 1-5.8-12.14.16                Rm 16, 25-27                     Lc 1, 26-38

 

ESCUTAR

“Vai e faze tudo o que diz o teu coração, pois o Senhor está contigo” (2 Sm 7, 5).

Glória seja dada àquele que tem o poder de vos confirmar na fidelidade ao meu Evangelho (Rm 16, 25).

Maria perguntou ao anjo: “Como acontecerá isso se eu não conheço homem algum?” (Lc 1, 34).

 

MEDITAR

Eu me anunciei

Eu afirmei minha voz

Não temi questionar

 

Eu resisti

Dei meu sim

Olhando diretamente nos olhos do anjo

(qualquer escrava poderia ter sido espancada ou violentada por menos)

Não houve sujeição aqui

Nada me foi arrancado

Tudo foi oferecido


Aqui estou

Olha-me

Ouça


(Elizabeth Schüssler Fiorenza, 1938-, Romênia)

 

ORAR

    Embora o diálogo entre Maria e o anjo não tenha ocorrido na realidade, sendo composto por Lucas seguindo um esquema dado no Antigo Testamento, as palavras que Lucas põe na boca de Maria tem um conteúdo teológico autêntico. Na realidade, deveria chamar a atenção de qualquer um a forma, diríamos, não católica de argumentar utilizada por Maria. Para ela, a mensagem do anjo acerca da concepção do Filho de Deus é inconcebível porque ela não conhece varão. Para ela, o copular com um homem é requisito necessário para o prometido nascimento do filho de Davi. Ambas as coisas constituem um todo indivisível para ela, enquanto para a dogmática católica sucede justamente o contrário: a copulação com um homem e o nascimento de um filho divino se excluem. Se pudéssemos tomar como histórico o relato sobre a Anunciação, haveria que reconhecer a Maria mais inteligência teológica do que dois mil anos de teologia católica acerca do parto virginal, isto é, de teologia ginecológica da cegonha. Em sua pergunta, Maria já expressou com clareza o que então chegou a ser opinião entre tantos, compartilhada pela maioria dos teólogos, mas que os bispos católicos não têm compreendido ainda em nossos dias e menos ainda João Paulo II: que, na opinião de Maria, a filiação divina de Jesus e uma filiação natural de Jesus não se excluem. Maria pensa, sobretudo, que um não é possível sem o outro. Em sua pergunta, ela poderia ter considerado presentes acontecimentos (legendários) da Bíblia judaica nos quais se produziu também uma concepção mediante a intervenção criadora de Deus sem que fosse excluída em tais casos a cooperação procriadora de um varão. Mediante tal intervenção de Deus, nasceu-lhes, por exemplo, à nonagenária Sara e ao centenário Abraão, seu filho Isaac (Gn 17, 17); e mediante uma intervenção de Deus a estéril Rebeca deu à luz a seus Esaú e Jacó (Gn 25, 21). O judaísmo desconhecia por completo a ideia de um parto virginal e tampouco esperou tal parto para o futuro Messias. Ao contrário, sua esperança tinha por objeto um Messias que seria um homem nascido de homens. Por conseguinte, se Maria tivesse querido relacionar de algum modo a mensagem do anjo com o Messias esperado pelos judeus, deveria ter pensado totalmente o oposto a um parto virginal porque tal parto contradizia de forma diametral a esperança judia.


(Uta Ranke-Heinemann, 1927-, Alemanha)

 

CONTEMPLAR

Mãe migrante, 1936, Nipomo, Califórnia, Dorothea Lange (1895-1965), Estados Unidos.




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