Mantinha-se
firme, como se visse o Invisível! (Hb 11, 27)
IV Domingo do Advento 20.12.2020
2 Sm 7, 1-5.8-12.14.16 Rm 16, 25-27 Lc 1, 26-38
ESCUTAR
“Vai e faze tudo o que diz o teu coração, pois o Senhor está contigo” (2 Sm 7, 5).
Glória seja dada àquele que tem o poder de vos confirmar na fidelidade ao meu Evangelho (Rm 16, 25).
Maria perguntou ao anjo: “Como acontecerá isso se eu não conheço homem algum?” (Lc 1, 34).
MEDITAR
Eu me anunciei
Eu afirmei minha voz
Não temi questionar
Eu resisti
Dei meu sim
Olhando diretamente nos olhos do anjo
(qualquer escrava poderia ter sido
espancada ou violentada por menos)
Não houve sujeição aqui
Nada me foi arrancado
Tudo foi oferecido
Aqui estou
Olha-me
Ouça
(Elizabeth Schüssler Fiorenza, 1938-, Romênia)
ORAR
Embora
o diálogo entre Maria e o anjo não tenha ocorrido na realidade, sendo composto
por Lucas seguindo um esquema dado no Antigo Testamento, as palavras que Lucas
põe na boca de Maria tem um conteúdo teológico autêntico. Na realidade, deveria
chamar a atenção de qualquer um a forma, diríamos, não católica de argumentar
utilizada por Maria. Para ela, a mensagem do anjo acerca da concepção do Filho
de Deus é inconcebível porque ela não conhece varão. Para ela, o copular
com um homem é requisito necessário para o prometido nascimento do filho de
Davi. Ambas as coisas constituem um todo indivisível para ela, enquanto para a
dogmática católica sucede justamente o contrário: a copulação com um homem e o
nascimento de um filho divino se excluem. Se pudéssemos tomar como histórico o
relato sobre a Anunciação, haveria que reconhecer a Maria mais inteligência
teológica do que dois mil anos de teologia católica acerca do parto virginal,
isto é, de teologia ginecológica da cegonha. Em sua pergunta, Maria já
expressou com clareza o que então chegou a ser opinião entre tantos,
compartilhada pela maioria dos teólogos, mas que os bispos católicos não têm
compreendido ainda em nossos dias e menos ainda João Paulo II: que, na opinião
de Maria, a filiação divina de Jesus e uma filiação natural de Jesus não se
excluem. Maria pensa, sobretudo, que um não é possível sem o outro. Em sua
pergunta, ela poderia ter considerado presentes acontecimentos (legendários) da
Bíblia judaica nos quais se produziu também uma concepção mediante a intervenção
criadora de Deus sem que fosse excluída em tais casos a cooperação procriadora
de um varão. Mediante tal intervenção de Deus, nasceu-lhes, por exemplo, à
nonagenária Sara e ao centenário Abraão, seu filho Isaac (Gn 17, 17); e
mediante uma intervenção de Deus a estéril Rebeca deu à luz a seus Esaú e Jacó
(Gn 25, 21). O judaísmo desconhecia por completo a ideia de um parto virginal e
tampouco esperou tal parto para o futuro Messias. Ao contrário, sua esperança
tinha por objeto um Messias que seria um homem nascido de homens. Por
conseguinte, se Maria tivesse querido relacionar de algum modo a mensagem do
anjo com o Messias esperado pelos judeus, deveria ter pensado totalmente o
oposto a um parto virginal porque tal parto contradizia de forma diametral a
esperança judia.
(Uta Ranke-Heinemann, 1927-, Alemanha)
CONTEMPLAR
Mãe migrante, 1936, Nipomo, Califórnia, Dorothea Lange (1895-1965), Estados Unidos.
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