Mantinha-se
firme, como se visse o Invisível! (Hb 11, 27)
Natal do Senhor 25.12.2020
Is 52,
7-10 Hb 1, 1-6 João 1, 1-18
ESCUTAR
Como são belos, andando sobre os montes, os pés de quem anuncia e prega a paz, de quem anuncia o bem e prega a salvação (Is 52, 7).
Este é o esplendor da glória do Pai, a expressão do seu ser (Hb 1, 3).
E a Palavra se fez carne e habitou entre nós (Jo 1, 14).
MEDITAR
Qual é a razão pela qual alguns veem e encontram e outros não? O que abre seus olhos e coração? O que falta aos que são indiferentes, aos que apontam a estrada, mas não se mexem? (...) Eles estão seguros da ideia que fazem do mundo e não se deixam inquietar no mais fundo de si mesmos pela aventura de um Deus que quer encontrá-los. Eles colocam mais confiança em si próprios do que Nele e não consideram possível que Deus seja grande a ponto de se fazer todo pequeno, de poder verdadeiramente se aproximar de nós. Falta a capacidade evangélica de serem crianças no coração, de se encantarem e de saírem de si para se colocar em rota sobre o caminho que a estrela indica, o caminho de Deus. Mas o Senhor tem o poder de nos tornar capazes de ver e de nos salvar.
ORAR
Se
esta festa de Natal traz em si uma nostalgia e tanta ternura e sentimentos que
nos comovem, é porque ela nos coloca diante dos olhos a figura da criança mais
frágil. Nela, nós vemos ao mesmo tempo a beleza, a inocência, a delicadeza da
existência, a proteção que reclama e o amor que pede de todos nós. Na verdade,
nós nos identificamos com esta infância e nos compadecemos de nós mesmos quando
uma tal figura de inocência nos é apresentada. Como se, secretamente, nos fosse
restituída a segurança da criança envolvida pelo amor do pai e da mãe. Como se
pudéssemos nos dar um instante de ilusão de sermos pequenas crianças na
segurança do amor original. E se achamos muitas vezes que o mundo é duro, é
porque há um enorme contraste entre esta nostalgia que nos habita e a
realidade. Gostaríamos muito que o mundo fosse como o amor de uma mãe por um
pequeno bebê. Gostaríamos muito de ficar seguros de que Deus nos cerca, como
diz a Escritura, como uma criança de colo carregada por seus pais. Eis o que
gostaríamos. E nos espantamos que o mundo não seja assim. E se uma pequena
lágrima surge no dia de natal, é por ter sonhado, no espaço de uma noite ou de
uma hora, que isso pudesse ser assim. Só que de fato o mundo permanece duro,
impiedoso e nós não somos mais bebês. E mesmo os bebês um dia desaparecem, pois
na vida é preciso também crescer. Tornar-se um adulto ou uma adulta significa
aceitar sua solidão, aceitar que o mundo não seja perfeito e que nossos sonhos
não sejam a realidade de cada dia. E a despeito disso, viver, viver bem, viver
sabendo por que se vive... Dizer que Deus se torna acessível no mistério de uma
pequena criança quer dizer que Deus se torna ainda mais invisível, ainda mais
inacreditável, ainda mais inconcebível. É no momento mesmo em que Deus se dá a
nós que nos parece ainda mais incompreensível que um tal dom nos seja feito. É
quando o amor nos atinge que ele se torna inconcebível. É quando ele se faz
próximo que nós queremos recuar, dizendo: “Isso não é verdade”. Isso quer
dizer, talvez, que só podemos nos aproximar de um tal mistério desorientando nossa
mente, perturbando nossa existência, com a condição de sermos nós próprios
transformados. Se Deus se entrega assim em nossas mãos, tal como uma criança
passiva entre os braços de seus pais – e esta frase não é blasfematória – isso
quer dizer que Deus, o Inconcebível, não está apenas à nossa frente, mas que
Aquele que está acima de nós se entregou a nós na figura de irmão. E só podemos
descobrir nosso irmão, tornando-nos, nós, seu irmão. Só descobrimos que alguém
nos ama quando consentimos em amá-lo. Só podemos reconhecer o mistério de Deus
que se esconde nesta criança entregue se aceitamos nos entregar a ele.
(Jean-Marie Lustiger, 1926-2007, França)
CONTEMPLAR
Ludavine, 2020, Sophie Harris-Taylor (1988-), da série Milk, Londres, Reino Unido.
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