A palavra de
Deus é viva e eficaz e mais cortante que espada de dois gumes (Hb 4, 12).
XXVII Domingo do Tempo Comum 04.10.2020
Is
5, 1-7 Fl 4, 6-9 Mt 21, 33-43
ESCUTAR
Eu
esperava deles frutos de justiça – e eis injustiça; esperava obras de bondade –
e eis iniquidade (Is 5, 7).
Ocupai-vos
com tudo o que é verdadeiro, respeitável, justo, puro, amável, honroso, tudo o
que é virtude ou de qualquer modo mereça louvor (Fl 4, 8).
“Este é o
herdeiro. Vinde, vamos matá-lo e tomar posse de sua herança!” (Mt 21, 38).
MEDITAR
Eu
me espanto tanto com a palavra das pessoas.
Elas
dizem tudo tão claramente:
Isso
significa e quer dizer prisão, imbecil,
Isso
começa ali e termina ali.
Seu
juízo me causa medo, sua zombaria!
Elas
sabem absolutamente de tudo, do que foi e do que será.
Nenhuma
montanha as surpreende mais;
Seu
jardim e seus bens se avizinham a Deus.
Eu
as adverti, me defenderei! Não se aproximem!
Eu
escuto tão graciosamente as coisas cantarem.
Vocês
as tocam: ei-las rijas e mudas.
Vocês
me matam tudo.
(Rainer
Maria Rilke, 1875-1926, República Theca)
ORAR
É preciso muita arte para preparar
esta vinha do Senhor a fim de produzir plenamente o que é justo de se esperar
dela. Seria preciso que nossas palavras fossem tão leves quanto o vento que faz
tremular as folhas da vinha vivificando-as com sua terna respiração; seria
preciso que nosso olhar fosse tão caloroso e tão claro como o sol do meio dia
que transmite aos frutos por amadurecer a energia necessária ao seu crescimento
e lhes confere o seu perfume ao tempo da colheita; seria preciso que nossas
mãos fossem tão ternas como a chuva da manhã e tão refrescantes como o orvalho
sobre as folhas. Assim deveríamos nos ajudar mutuamente para que “a vinha do
Senhor amadurecesse”. Por que então é tão difícil? Poderíamos pensar que os
trabalhadores da vinha fossem egoístas, invejosos e ávidos pelo ganho. Visto do
exterior, é bem o reflexo de nosso comportamento, como toda história humana
aliás. Mas nossa verdadeira motivação é frequentemente mais complicada. Nós
temos, em regra geral, a arte de mascarar nossos desejos de poder e de posse
como “responsabilidades”, o que lhes confere uma certa chancela de moral.
Jesus, seguramente, nos chama a confiar no outro, como uma harpa com a qual ele
saberá fazer vibrar as cordas para retirar delas um canto. Mas há uma forma
mortal de prender o outro pela mão. E raramente é por má vontade, mas por puro
medo que nós o esmagamos, o tormentamos e o diminuímos. Multiplicamos preceitos
e cuidados, como se soubéssemos absolutamente de tudo, mas não fazemos mais do
que destruir suas aspirações, suas esperanças e suas expectativas. Por fim, nada
de milagre, élan e fantasia. Regulamentando assim a vinha do espírito,
acreditamos que temos completamente tudo na mão. Mas o que nós “possuímos” é na
realidade a morte. A apropriação das coisas equivale a pilhar a semente divina,
em lugar de deixá-la crescer tranquilamente. Resta a esperança de que Jesus não
será morto em vão e de que poderemos um dia escapar, de uma maneira ou outra,
ao círculo vicioso da destruição e do remorso. O paradoxo consiste sempre em
que cada vez que alguém se torna mais livre, mais ele faz despertar no outro os
sentimentos de medo. E, todavia, Deus continua a se por ao lado da liberdade e
da beleza de nossa alma. Nos últimos dias, ele nos interrogará sobre a maneira
pela qual teremos nos ajudado mutuamente a viver, sobre a doçura que teremos
partilhado, em outras palavras, ele nos questionará em que medida teremos
matado ou acolhido em nós a vida de Jesus.
(Eugen
Drewermann, 1940-, Alemanha)
CONTEMPLAR
“Ela
morreu fugindo”, 2020, jaguatirica do pantanal vítima das chamas,
Poconé, Mato Grosso, João Paulo Guimarães, Repórter Brasil, Brasil.
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