segunda-feira, 28 de setembro de 2020

O Caminho da Beleza 46 - XXVII Domingo do Tempo Comum

A palavra de Deus é viva e eficaz e mais cortante que espada de dois gumes (Hb 4, 12).


XXVII Domingo do Tempo Comum                       04.10.2020

Is 5, 1-7                    Fl 4, 6-9                   Mt 21, 33-43

 

ESCUTAR

Eu esperava deles frutos de justiça – e eis injustiça; esperava obras de bondade – e eis iniquidade (Is 5, 7).

Ocupai-vos com tudo o que é verdadeiro, respeitável, justo, puro, amável, honroso, tudo o que é virtude ou de qualquer modo mereça louvor (Fl 4, 8).

“Este é o herdeiro. Vinde, vamos matá-lo e tomar posse de sua herança!” (Mt 21, 38).

 

MEDITAR

Eu me espanto tanto com a palavra das pessoas.

Elas dizem tudo tão claramente:

Isso significa e quer dizer prisão, imbecil,

Isso começa ali e termina ali.

 

Seu juízo me causa medo, sua zombaria!

Elas sabem absolutamente de tudo, do que foi e do que será.

Nenhuma montanha as surpreende mais;

Seu jardim e seus bens se avizinham a Deus.

 

Eu as adverti, me defenderei! Não se aproximem!

Eu escuto tão graciosamente as coisas cantarem.

Vocês as tocam: ei-las rijas e mudas.

Vocês me matam tudo.

 

(Rainer Maria Rilke, 1875-1926, República Theca)

 

ORAR

            É preciso muita arte para preparar esta vinha do Senhor a fim de produzir plenamente o que é justo de se esperar dela. Seria preciso que nossas palavras fossem tão leves quanto o vento que faz tremular as folhas da vinha vivificando-as com sua terna respiração; seria preciso que nosso olhar fosse tão caloroso e tão claro como o sol do meio dia que transmite aos frutos por amadurecer a energia necessária ao seu crescimento e lhes confere o seu perfume ao tempo da colheita; seria preciso que nossas mãos fossem tão ternas como a chuva da manhã e tão refrescantes como o orvalho sobre as folhas. Assim deveríamos nos ajudar mutuamente para que “a vinha do Senhor amadurecesse”. Por que então é tão difícil? Poderíamos pensar que os trabalhadores da vinha fossem egoístas, invejosos e ávidos pelo ganho. Visto do exterior, é bem o reflexo de nosso comportamento, como toda história humana aliás. Mas nossa verdadeira motivação é frequentemente mais complicada. Nós temos, em regra geral, a arte de mascarar nossos desejos de poder e de posse como “responsabilidades”, o que lhes confere uma certa chancela de moral. Jesus, seguramente, nos chama a confiar no outro, como uma harpa com a qual ele saberá fazer vibrar as cordas para retirar delas um canto. Mas há uma forma mortal de prender o outro pela mão. E raramente é por má vontade, mas por puro medo que nós o esmagamos, o tormentamos e o diminuímos. Multiplicamos preceitos e cuidados, como se soubéssemos absolutamente de tudo, mas não fazemos mais do que destruir suas aspirações, suas esperanças e suas expectativas. Por fim, nada de milagre, élan e fantasia. Regulamentando assim a vinha do espírito, acreditamos que temos completamente tudo na mão. Mas o que nós “possuímos” é na realidade a morte. A apropriação das coisas equivale a pilhar a semente divina, em lugar de deixá-la crescer tranquilamente. Resta a esperança de que Jesus não será morto em vão e de que poderemos um dia escapar, de uma maneira ou outra, ao círculo vicioso da destruição e do remorso. O paradoxo consiste sempre em que cada vez que alguém se torna mais livre, mais ele faz despertar no outro os sentimentos de medo. E, todavia, Deus continua a se por ao lado da liberdade e da beleza de nossa alma. Nos últimos dias, ele nos interrogará sobre a maneira pela qual teremos nos ajudado mutuamente a viver, sobre a doçura que teremos partilhado, em outras palavras, ele nos questionará em que medida teremos matado ou acolhido em nós a vida de Jesus.

(Eugen Drewermann, 1940-, Alemanha)

 

CONTEMPLAR

“Ela morreu fugindo”, 2020, jaguatirica do pantanal vítima das chamas, Poconé, Mato Grosso, João Paulo Guimarães, Repórter Brasil, Brasil.




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