segunda-feira, 13 de julho de 2020

O Caminho da Beleza 35 - XVI Domingo do Tempo Comum


A palavra de Deus é viva e eficaz e mais cortante que espada de dois gumes (Hb 4, 12).

XVI Domingo do tempo Comum                 19.07.2020
Sb 12, 13.16-19                  Rm 8, 26-27                       Mt 13, 24-43


ESCUTAR

Tua força é o princípio da justiça, e o ser dono de todos te faz perdoar a todos (Sb 12, 16).

Ainda que não saibamos pedir como é devido, o próprio Espírito intercede por nós com gemidos inefáveis (Rm 8, 26).

O reinado de Deus se parece com o fermento: Uma mulher o toma, mistura-o com três medidas de massa, até que tudo fermente (Mt 13, 33).


MEDITAR

Abram-me todas as janelas!
Arranquem-me todas as portas!
Puxem a casa toda para cima de mim!
Quero viver em liberdade no ar,
Quero ter gestos fora do meu corpo,
Quero correr como a chuva pelas paredes abaixo,
Quero ser pisado nas estradas largas como as pedras,
Quero ir, como as coisas pesadas, para o fundo dos mares,
Com uma voluptuosidade que já está longe de mim!

Não quero fechos nas portas!
Não quero fechaduras nos cofres!
Quero intercalar-me, imiscuir-me, ser levado,
Quero que me façam pertença doída de qualquer outro,
Que me despejem dos caixotes,
Que me atirem aos mares,
Que me vão buscar a casa com fins obscenos,
Só para não estar sempre aqui sentado e quieto,
Só para não estar simplesmente escrevendo estes versos!

Não quero intervalos no mundo!...
Quero voar e cair de muito alto!
Ser arremessado como uma granada!
Ir parar a... Ser levado até...
Abstrato auge no fim de mim e de tudo!

(Fernando Pessoa, 1888-1935, Portugal)


ORAR

  Da mesma forma que o fermento comunica sua força à massa da farinha, vós transformareis o mundo inteiro. Não me retruquem: “Que poderemos fazer, nós que somos doze, atirados no meio de uma grande multidão?” O que fará precisamente ressaltar o brilho de vosso poder é enfrentardes a multidão sem jamais recuar. O levedo faz fermentar a massa quando o aproximamos da farinha, ou melhor ainda, quando o misturamos nela completamente. Assim também o Salvador não diz que a mulher “depositou” o fermento, mas que ela o “ocultou” na farinha. Da mesma forma, vós também, quando vos mesclardes, quando vos unirdes estreitamente a vossos perseguidores, vós triunfareis. O fermento, desaparecendo totalmente na massa, não perde nela a sua força; ao contrário, ele a comunica pouco a pouco. Ocorrerá o mesmo na pregação evangélica. Por consequência, disse Jesus, se vos destinei a numerosas provas, não fiqueis assustados. Pois é desta maneira que brilhará vosso poder e que triunfareis. É o Cristo que dá ao fermento seu poder: ele mistura na multidão os que têm fé nele, para que comuniquemos uns aos outros nossos conhecimentos. Que não reprovemos, portanto, o pequeno número de seus discípulos, porque o poder da pregação é grande. E quando fermentada a massa, ela não demora, por sua vez, a se tornar, ela própria, fermento. A centelha transforma em brasa os pedaços de lenha sobre os quais ela cai. Esses pedaços comunicam a chama aos outros; acontece o mesmo com a pregação evangélica. Entretanto, o Senhor fala não de fogo, mas de fermento. Por que isso? É porque o fogo não faz tudo: a madeira também faz uma parte do trabalho! Aqui, ao contrário, o fermento faz tudo por si próprio. Mas se doze homens são suficientes para fazer erguer a terra inteira, como somos maus, nós que, a despeito de nosso número considerável, não conseguimos abrir os olhos dos que estão ainda cegos, quando tal número deveria ser suficiente para a conversão de milhões de mundos! Mas esses doze, vós dizeis, eram os Apóstolos! E daí? Não estavam nas mesmas condições que nós? Não partilhavam nossa sorte? Não exerciam atividades? Eram, pois, anjos descidos do céu? Vós dizeis que faziam milagres, mas até quando falaremos de seus milagres para esconder nossa preguiça? Não são seus milagres que fazem a sua glória. De onde vem então a grandeza dos Apóstolos? Do desprezo às riquezas, do seu desdenho pela glória vã, de sua renúncia a todos os bens do século. Vós quereis tornardes iguais aos Apóstolos? Nada vos impede: pratiqueis somente as virtudes deles e não tereis nada a invejar. Desapeguemo-nos, portanto, de todas as coisas da terra e nos consagremos ao Cristo, a fim de nos tornar iguais aos Apóstolos, pela graça e pelo amor de nosso Senhor Jesus Cristo, em toda sua glória e poder, pelos séculos e séculos. Amém.

(João Crisóstomo, c. 347-407, Antioquia)


CONTEMPLAR

Um menino na multidão, 2019, Morávia, Libéria, Jonathan Banks (1971-), Reino Unido, foto do ano do Siena International Photo Awards.




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