segunda-feira, 6 de julho de 2020

O Caminho da Beleza 34 - XV Domingo do Tempo Comum


A palavra de Deus é viva e eficaz e mais cortante que espada de dois gumes (Hb 4, 12).

XV Domingo do Tempo Comum                  12.07.2020
Is 55, 10-11             Rm 8, 18-23                       Mt 13, 1-23


ESCUTAR

Assim será a minha palavra, que sai de minha boca: não voltará vazia para mim, mas realizará a minha vontade (Is 55, 11).

A humanidade inteira geme com dores de parto. E não somente ela; também nós, que possuímos as primícias do Espírito (Rm 8, 22-23).

Um semeador saiu a semear. Ao semear, algumas sementes caíram junto ao caminho, vieram os pássaros e as comeram. Outras caíram em terreno pedregoso... (Mt 13, 4).


MEDITAR

Cada homem experimenta seu destino no mundo. Deus se pinta a si mesmo em cada homem mostrando uma gama de traços e cores infinitos. Mas o faz sem apego, como um asceta que esquece sua aparência e descuida de seu corpo. Todos nos convertemos no que desejamos, somos livres ao fim e por isso distintos uns dos outros. O bem, o mal, suas zonas intermediárias: ao elegê-las, fica escrita já a página de nossas alegrias e sofrimentos.

(Tukaram, -1650, Índia)


ORAR

        Que terreno nós somos? Temos um coração que compreende... ou somos esse caminho árido no qual nos arrastamos, esse coração no qual se arrastam a sensibilidade, a afetividade, a generosidade? Temos ouvidos que escutam... ou somos esse solo pedregoso, esse deserto erodido, que não retém a chuva, esse ouvido duro que não conhece mais a Palavra? Temos olhos que veem... ou somos esse mirante abandonado às sarças, esse olho irritado, esse olhar emaranhado em que a luz não mais atravessa. Apesar de tudo, sabemos e Jesus nos anuncia, a Igreja nos confirma e os outros frequentemente nos falam quando confiam em nós, sabemos que há também em nós a terra boa... porém o resto também aí se encontra e às vezes parece ocupar todo o lugar, inútil negar isso. Então? Eu hesitaria logo em vos confiar que, ao meu ver, o SEMEADOR foi bem inábil... Semear assim inteiramente pelo ar, mesmo sobre o caminho, sobre a pedra e sobre os espinhos. Evidentemente, nunca semeei e não sei se poderia controlar esse gesto largo que é mais fácil de admirar do que imitar. Mas, enfim, João Crisóstomo permitiu-se a mesma reflexão. Eis o comentário que nos deu... “É razoável, indago, espalhar o grão sobre a pedra, no meio dos espinhos, ao longo do caminho?... Reprovar-se-ia com justiça o cultivador que o fizesse: a pedra não saberia se tornar terra, os espinhos não podem ser senão espinhos, o caminho não pode ser senão o caminho. Na ordem das coisas do espírito, não se dá assim: a pedra pode ser transformada em uma terra fértil, o caminho pode não ser pisado pelos passantes e se tornar um campo fecundo; os espinhos podem ser arrancados e permitir que uma boa semente, ao ser desvencilhada, frutifique.” Assim o caminho no qual nos arrastamos, o solo erodido, a sarça abandonada, podem tornar-se parábolas do Reino em construção... tão verdade como o coração é feito para compreender, os ouvidos para escutar, os olhos para ver. A semente que está morta no caminho, que foi rejeitada pelas pedras, sufocada pelos espinhos, mesmo esta semente pode SURGIR vitoriosa... a Palavra de Deus não é sem efeito (1ª leitura). As pedras, os espinhos e o caminho gemem também com o mesmo grito inefável que a terra boa na qual o grão caiu, para morrer ali, no desejo de ser fruto. Pois eis que um companheiro se juntou a nós em nossos caminhos ásperos... ele os lavrou e nós reconhecemos sua VOZ e nosso coração que era lento para compreender tornou-se todo iluminado, ali, no caminho. A Palavra voltou ao Pai enriquecida com nossa alegria. Ela nos dizia: Eu sou o caminho... O caminho também tem um coração: “Sigam-me!”. E ficamos sabendo que o alimento do caminho não é apenas para os pássaros, que há um pão inteiro preparado em cada etapa. É porque o caminho também é uma terra boa. Assim a estrada ao largo tomou o lugar das cerejeiras em flor. Lavrem esta estrada, as cerejeiras podem florir ali, o grão gemer novamente. Lavrem vosso coração, haverá pão para todos os nômades do amor... Sabemos que a pedra rejeitada se tornou pedra angular e que todos nós temos vocação de pedras vivas. É porque a pedra também pode ser terra boa: seja quando a cobrimos ou quando a pulverizamos... há até flores que se acomodam sobre a rocha. Deus não se inquieta com a rocha: ele a escrutina... e dela sai água e também sangue. E eis, enfim, que um estranho messias restabelece a língua aos espinhos. Ele lhe disse: Tu és Rei? Ele respondeu: Tu o dizes... mas meu Reino não é como esse mundo. E como para provar, ele se deixou coroar pelo mundo: coroado de espinhos. A Palavra voltou assim para o Pai, coroada de espinhos, enriquecida do nosso sofrimento, de nossas lutas, de nossa vitória pela esperança. Os espinhos não puderam sufocar esta Palavra. Ela ressurgiu, guerreira. Os espinhos podem revelar o grão: Lembre-se de mim em teu Reino! É porque os espinhos torcidos podem, eles próprios, tornar-se húmus. Não nos desesperancemos da nossa paisagem interior: Deus pode se acomodar em nossos ouvidos, em nossos olhos, em nosso coração, é preciso que aspiremos com todas as nossas forças à revelação do Filho de Deus. Bem mais do que um arado, ele pode restaurar a tudo. Tudo canta e clama de ALEGRIA! (Salmo 64).

(Christian de Chergé, 1937-1996, França)


CONTEMPLAR

Quieto, 2019, Ebru Sidar (1975-), Istambul, Turquia.




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