A palavra de
Deus é viva e eficaz e mais cortante que espada de dois gumes (Hb 4, 12).
Batismo do Senhor 12.01.2020
Is 42, 1-4.6-7 At
10, 34-38 Mt 3,
13-17
ESCUTAR
“Eis o meu servo – eu o recebo; eis o meu
eleito – nele se compraz minha alma” (Is 42, 1).
“Ele
andou por toda parte, fazendo o bem e curando a todos” (At 10, 38).
O céu se
abriu e Jesus viu o Espírito de Deus descendo como pomba e vindo pousar sobre
ele (Mt 3, 16).
MEDITAR
Como nos enganamos fugindo do amor!
Como o desconhecemos, talvez com receio de
enfrentar
sua espada coruscante, seu formidável
poder de penetrar o sangue e nele imprimir
uma orquídea de fogo e lágrimas.
Entretanto, ele chegou de manso e me envolveu
em doçura e celeste amavios.
Não queimava, não siderava; sorria.
Mal entendi, tonto que fui, esse sorriso.
Feri-me pelas próprias mãos, não pelo amor
que trazias para mim e que teus dedos confirmavam
ao se juntarem aos meus, na infantil procura do
Outro
o Outro que eu me supunha, o Outro que te
imaginava,
quando – por esperteza do amor – senti que éramos
um só.
(Carlos Drummond de Andrade, 1902-1987, Brasil)
ORAR
Na consciência religiosa universal,
as águas são percebidas às vezes como fazendo morrer e como fazendo viver. Elas
são as águas da morte, o abismo onde os seres desaparecem e morrem – e as águas
da vida que dão o nascimento, fertilizam e regeneram. O simbolismo da água é,
portanto, ambivalente: não há vida sem água; no ventre de sua mãe, a criança
cresce nas águas. Na Bíblia, o mundo saiu do caos original, essencialmente
úmido, porque Deus separa as águas do alto das águas de baixo e, da massa das
águas, seca-o, para fazer surgir a vida. Essas mesmas águas são também as do dilúvio
destruidor de toda vida e as das nossas inundações. Mas o dilúvio é também o
relato de uma nova criação e de uma regeneração. Não há nos evangelhos nenhuma
cena onde Jesus tenha “instituído” alguma coisa que fosse nomeada como batismo.
Aliás os ritos de ablução pela água e o termo batismo já existiam nos meios
judaicos da época. É dessa forma que João, o profeta do deserto, batizava no
Jordão um “batismo de penitência para a remissão dos pecados”. Tudo começa com
o batismo de Jesus por João, o Batista, no Jordão. Porque Jesus “transforma”,
por uma operação propriamente “cristã” o batismo da água em batismo da água e
do Espírito. O Espírito mesmo intervém sob o símbolo de uma pomba, o que evoca
a criação original onde, segundo o Genesis, o Espírito pairava sobre as águas. É
desse batismo vitorioso do Cristo nas águas da morte que as águas batismais
cristãs tiram sua origem. Porque esse batismo é uma parábola de sua Paixão:
descendo nas águas da morte, ressurgiu na Ressurreição. Jesus, que chamou sua
morte próxima um “batismo” ou um “cálice” que devia beber, irá para sua paixão.
E é assim que o batismo da água se torna para ele um batismo de sangue. Por
isso o Evangelho de Mateus se conclui sob a ordem batismal: “Ide, de todas as
nações fazei discípulos, batizando-os em nome do Pai, do Filho e do Espírito
Santo”.
(Bernard
Sesboüé, 1929-, França)
CONTEMPLAR
S.
Título, 2014, praia da Carmem, México, Amanda Cotton, Monochrome
Photography Awards, 2014, Estados Unidos/Reino Unido.
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