Já não quero dicionários
consultados em vão. Quero só a palavra que nunca estará neles nem se pode
inventar. Que resumiria o mundo e o substituiria. Mais sol do que o sol dentro
do qual vivêssemos todos em comunhão, mudos, saboreando-a.
(Carlos Drummond de
Andrade)
XVI Domingo do Tempo Comum 21.07.2019
Gn 18, 1-10 Cl
1, 24-28 Lc 10, 38-42
ESCUTAR
“Meu
Senhor, se ganhei tua amizade, peço-te que não prossigas viagem sem parar junto
a mim, teu servo. Mandarei trazer um pouco de água para vos lavar os pés, e
descansareis debaixo da árvore” (Gn 18, 3-4).
Alegro-me
de tudo o que já sofri por vós e procuro completar na minha própria carne o que
falta das tribulações de Cristo (Cl 1, 24).
Sua irmã,
chamada Maria, sentou-se aos pés do Senhor e escutava a sua palavra (Lc 10,
39).
MEDITAR
Quem são
os que honram a Deus? São os que deixaram totalmente a si mesmos e, de modo
algum, nada buscam do que é seu em nenhuma coisa, seja o que for, grande ou
pequeno; não veem nada abaixo nem acima de si, nem ao seu lado nem em si
mesmos; que não procuram bem, honra, conforto, prazer, utilidade, nem
interioridade, nem santidade, nenhuma recompensa nem mesmo reino dos céus e que
se tornaram exteriores a tudo isso, a tudo que é seu. Dessas pessoas Deus
recebe honra. E elas honram a Deus, no sentido próprio, dando a Deus o que é de
Deus.
(Mâitre Eckhart,
Alemanha, 1260-1328)
ORAR
É preciso notar que a repreensão do
Cristo vem após a frase de Marta: “Não te importas de minha irmã me deixar
servir só?” Aí está a “chave” que nos permitirá compreender a atitude do
Cristo. Com efeito, o que distingue o comportamento de Marta do de Abraão, é
que este se dá todo inteiro ao acolhimento, enquanto que Marta serve, mas se vê
a si mesma no serviço. A diferença é bem pequena: um apenas serve; o outro
serve e toma consciência do seu serviço... Para Abraão, o preparo da refeição
não é senão o meio de acolher o outro; para Marta, o serviço se transforma numa
oportunidade para julgar aquela que não serve. É mais sutil ainda: em
realidade, Marta não julga verdadeiramente sua irmã, todavia endereça a si
mesma a frase que visa a Maria: “Tu que não serves, me permites ver-me a
servir, contemplar minha generosidade...” Finalmente, este serviço, esta
acolhida generosa é desviada de seu fim. Não é mais um dom, porém uma volta
sobre si mesma, uma tomada de consciência de sua própria generosidade. O mal
está na raiz. Como não lembrar aqui a palavra terrível de um velho a uma
religiosa que cuidava dele: “Minha irmã, quando cessareis de vos servir de mim
como uma escada para o céu?” Diariamente podemos descobrir a verdade contida nesta
repreensão. Somos capazes de quebrar o espelho no qual diariamente contemplamos
com prazer o crescimento da nossa santidade. Cremos amar, entretanto, muitas
vezes não fazemos senão admirar nosso amor. Pensamos doar-nos quando nos
apossamos deste dom. Simulamos servir ao outro e nos utilizamos habilmente como
um meio para sermos servidos: “Infelizes dos pastores que se apascentam a eles
mesmos” (Ez 34, 2). Como Narciso, estamos constantemente debruçados sobre lagos
onde nos refletimos, e se jogamos uma pedra que destrói a imagem, não o fazemos
senão para ter a alegria de ver a imagem reaparecer mais límpida do que antes. Mas
a revelação do coração do homem e a revelação do Senhor estão intimamente
misturadas: se o homem tem necessidade de espelhos, Ele passa a vida a quebrá-los.
(Jean-Baptiste
Dumortier, França)
CONTEMPLAR
Amor de irmãs, 2017, Ewa
Cwikla, Países Baixos. A pedido da autora, acessar a imagem diretamente em https://500px.com/photo/239277055/sister-love-by-ewa-cwikla?ctx_page=4&from=user&user_id=431926
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