Já não quero dicionários
consultados em vão. Quero só a palavra que nunca estará neles nem se pode
inventar. Que resumiria o mundo e o substituiria. Mais sol do que o sol dentro
do qual vivêssemos todos em comunhão, mudos, saboreando-a.
(Carlos Drummond de
Andrade)
XV Domingo do Tempo Comum 14.07.2019
Dt 30, 10-14 Cl
1, 15-20 Lc 10, 25-37
ESCUTAR
“Esta palavra
está bem ao teu alcance, está em tua boca e em teu coração, para que a possas
cumprir” (Dt 30, 14).
Cristo é a
imagem do Deus invisível (Cl 1, 15).
“Um
sacerdote estava descendo por aquele caminho. Quando viu o homem, seguiu
adiante, pelo outro lado” (Lc 10, 31).
MEDITAR
Eu
imagino que o primeiro pensamento do sacerdote e do levita foi a pergunta: “Que
me acontecerá se eu me detenho para ajudar este homem?” O Bom Samaritano trocou
a pergunta: “Que acontecerá a este homem se eu não parar para ajudá-lo?”.
(Martin
Luther King, 1929-1968, Estados Unidos)
ORAR
Todas as estradas possuem dois
lados. E há sempre um “outro lado” à disposição, quando não se quer queimar os
olhos contemplando uma realidade “incômoda” demais e se quer conservar a
consciência tranquila. Para um cristão, porém, o problema reside em saber se o “outro
lado” é o lado certo. O lado mais cômodo pode ser também o lado errado.
Todavia, o sacerdote e o levita escolheram precisamente esse lado, desviaram
para o “outro lado” e foram em frente. A
gente sente vontade de correr atrás deles, puxá-los pela manga e perguntar: “Por
que não pararam? Vocês não viram aquele coitado?”. Sim. Viram-no. Mas tinham
motivos muito válidos para não parar. Um horário que deviam respeitar. Um regulamento
para ser observado. Coisas importantes para cuidar. Estavam com pressa, não
podiam perder tempo. A parada não estava contemplada na ordem do dia litúrgico.
Pode ser até que tenham decidido procurar a autoridade competente para fazer um
“vibrante protesto” por causa da falta de segurança daquela estrada. E, no
entanto, o desgraçado está morrendo. Sempre conseguimos inúmeras desculpas para
nos livrarmos dos empenhos que o amor nos impõe. O sangue mancha. Não quero ter
encrencas. Nesse negócio todo, não tenho nada com isso. Tenho que cuidar das
minhas coisas. Nem sei quem seja aquele sujeito. O problema é das autoridades.
Mas, mil “razões válidas”, diante de Deus, equivalem a estar errado. Aos olhos
de Deus somente quem para tem razão. Os que seguem direto para frente
estão errados. E a estrada continua sendo maldita. Não por causa dos bandidos.
Mas pela ausência de amor. Pelo “passar adiante” do sacerdote e do levita.
Culpados de fazer calar o coração. Com “válidas razões”. Não são os bandidos
que tornam a estrada terrível. É a indiferença dos bons.
(Alessandro
Pronzato, 1932-, Itália)
CONTEMPLAR
Viagem
perigosa, 2018, Jacob Ehrbahn (1970-), Dinamarca, Siena International Awards
Photo.
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