Já não quero dicionários
consultados em vão. Quero só a palavra que nunca estará neles nem se pode
inventar. Que resumiria o mundo e o substituiria. Mais sol do que o sol dentro
do qual vivêssemos todos em comunhão, mudos, saboreando-a.
(Carlos Drummond de
Andrade)
XVIII Domingo do Tempo Comum 04.08.2019
Ecl 1, 2; 2, 21-23 Cl
3, 1-5.9-11 Lc 12,
13-21
ESCUTAR
“Vaidade
das vaidades! Tudo é vaidade” (Ecl 1, 2).
Vós
morrestes e a vossa vida está escondida, com Cristo, em Deus (Cl 3, 3).
“Tomai
cuidado contra todo tipo de ganância, porque, mesmo que alguém tenha muitas
coisas, a vida de um homem não consiste na abundância de bens” (Lc 12, 15).
MEDITAR
O
dinheiro é o esterco do demônio.
(Basílio
Magno, 330-379, Cesareia, Turquia)
ORAR
“O que tu acumulaste,
de quem será?” Jesus faz a distinção no evangelho entre ser e ter. O ser é
a vida e a existência do homem, o ter são as possessões grandes ou pequenas que
lhe permitem seguir vivendo. A advertência de Jesus consiste simplesmente em
que o homem não deve converter o meio em fim, nem identificar o significado de
seu ser com o aumento de seus meios. O absurdo desta identificação salta à
vista quando se considera não só a morte do homem, mas sim o que este deve
responder de sua vida diante de Deus. Mesmo que isto não esteja, todavia, claro
no paralelo veterotestamentário e mesmo que Jesus coloque a pergunta: “O que tu
acumulaste (quando morrer), de quem será?”, esta questão não é central para
ele, mas sim esta outra: “Não amontoeis tesouros na terra, onde a traça e o
caruncho roem... Amontoai tesouros no céu “ (Mt 6, 19s). Portanto, sabemos que
diante de Deus o importante não será a quantidade do ter, mas a qualidade do
ser (cf. 1 Cor 3, 11-15). Isto se faz evidente sobretudo mediante a palavra
“si”. O que quer ter amontoa riquezas “para si”; o que tem um ser de grande
valor renuncia a este “para si” e pensa em seu ser junto a Deus. Deus é o
tesouro. “Onde está teu tesouro, aí está teu coração” (Mt 6, 21). Se Deus é
nosso tesouro, então devemos estar intimamente convencidos de que a riqueza
infinita de Deus consiste na sua entrega e auto-alienação, isto é, no contrário
da vontade de ter... Devemos “dar morte” a todas as formas da vontade de ter
enumeradas pelo apóstolo e que não são senão diversas variantes da concupiscência,
por causa do ser em Cristo; e esta morte é na verdade um nascimento: um
“revestir-nos de uma nova condição”, um chegar a ser homens novos. Nesta nova
condição desaparecem as divisões que limitam o ser do homem na terra (“escravos
ou livres”), enquanto todo o valioso que temos em nossa singularidade
(Paulo o chama carisma) contribui para a formação da plenitude definitiva de
Cristo (Ef 4, 11-16).
(Hans Urs Von Balthasar, 1905-1988, Suíça)
CONTEMPLAR
Superação, 2018, Honeyisland
(www.flickr.com/photos/honeyisland),
Curitiba, Brasil.