segunda-feira, 17 de dezembro de 2018

O Caminho da Beleza 04 - IV Domingo do Advento


Já não quero dicionários consultados em vão. Quero só a palavra que nunca estará neles nem se pode inventar. Que resumiria o mundo e o substituiria. Mais sol do que o sol dentro do qual vivêssemos todos em comunhão, mudos, saboreando-a.

(Carlos Drummond de Andrade)


IV Domingo do Advento                      23.12.2018
Mq 5, 1-4                 Hb 10, 5-10            Lc 1, 39-45


ESCUTAR

“Tu, Belém de Éfrata, pequenina entre os mil povoados de Judá, de ti há de sair aquele que dominará em Israel” (Mq 5, 1).

Irmãos, ao entrar no mundo, Cristo afirma: “Tu não quiseste vítima nem oferenda, mas formaste-me um corpo” (Hb 10, 5).

Quando Isabel ouviu a saudação de Maria, a criança pulou no seu ventre, e Isabel ficou cheia do Espírito Santo (Lc 1, 41).


MEDITAR

Sim, a Visitação faz saltar os versículos: a mulher livre coloca, por inteiro, o Texto em marcha! Há na Sabedoria, diz a Escritura, um espírito de mobilidade, e esta mulher é toda ela a mais sábia, uma vez que nela, nessa hora, a Sabedoria está entranhada, na qual todo ser recebe vida, ser e movimento. Virgo mobilis (Virgem em movimento).

(François Cassingena-Trévedy, 1959-, França)


ORAR

            Os exegetas observaram que, narrando-nos o episódio da visita de Maria a Isabel, Lucas se inspirou num texto do Antigo testamento que nos descreve a marcha da arca da aliança rumo ao Templo de Jerusalém (2 Sm 6, 1-13). A arca em que Javé habita é transportada a Jerusalém. À sua passagem, Davi dança e salta de alegria. E, antes que chegue a arca a Obed-Edom, nas montanhas de Judá, grita Davi: “Como pode acontecer que venha a mim a arca do Senhor?”. A aproximação com a cena da Visitação é impressionante. São as mesmas palavras. Numa e noutra, trata-se de subir a montanha de Judá; como Davi salta diante da arca, João salta diante de Maria; e as palavras com que Isabel saúda Maria são as mesmas com que Davi saúda a arca. Vê-se a profundeza teologal que essa aproximação feita por Lucas, entre os episódios, dá à Visitação. O que era a arca na Antiga Aliança, o lugar em que Javé habitava com seu povo, é Maria na Nova Aliança, pois nela é que habita o Verbo. Quando Maria visita Isabel, as promessas são cumpridas e Deus visita seu povo. Já é o Verbo encarnado que, presente em Maria, faz saltar João, como um novo Davi, no seio de sua mãe. A Visitação, a santificação de João, são as primeiras manifestações da encarnação. Já é o Verbo que opera. Já são as primeiras manifestações da graça.

(Jean Daniélou, 1905-1974, França)


CONTEMPLAR

Filhas de pescadores na vila de Horcones, 1957, Sergio Larraín (1931-2012), Magnum Photos, Chile.




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