Já não quero dicionários
consultados em vão. Quero só a palavra que nunca estará neles nem se pode
inventar. Que resumiria o mundo e o substituiria. Mais sol do que o sol dentro
do qual vivêssemos todos em comunhão, mudos, saboreando-a.
(Carlos Drummond de
Andrade)
IV Domingo do Advento 23.12.2018
Mq 5, 1-4 Hb 10, 5-10 Lc
1, 39-45
ESCUTAR
“Tu, Belém de Éfrata, pequenina entre
os mil povoados de Judá, de ti há de sair aquele que dominará em Israel” (Mq 5,
1).
Irmãos, ao entrar no mundo, Cristo
afirma: “Tu não quiseste vítima nem oferenda, mas formaste-me um corpo” (Hb 10,
5).
Quando Isabel ouviu a saudação de
Maria, a criança pulou no seu ventre, e Isabel ficou cheia do Espírito Santo
(Lc 1, 41).
MEDITAR
Sim, a Visitação faz saltar os
versículos: a mulher livre coloca, por inteiro, o Texto em marcha! Há na
Sabedoria, diz a Escritura, um espírito
de mobilidade, e esta mulher é toda ela a mais sábia, uma vez que nela,
nessa hora, a Sabedoria está entranhada, na qual todo ser recebe vida, ser e movimento. Virgo mobilis (Virgem em movimento).
(François Cassingena-Trévedy, 1959-,
França)
ORAR
Os
exegetas observaram que, narrando-nos o episódio da visita de Maria a Isabel,
Lucas se inspirou num texto do Antigo testamento que nos descreve a marcha da
arca da aliança rumo ao Templo de Jerusalém (2 Sm 6, 1-13). A arca em que Javé
habita é transportada a Jerusalém. À sua passagem, Davi dança e salta de
alegria. E, antes que chegue a arca a Obed-Edom, nas montanhas de Judá, grita
Davi: “Como pode acontecer que venha a mim a arca do Senhor?”. A aproximação
com a cena da Visitação é impressionante. São as mesmas palavras. Numa e
noutra, trata-se de subir a montanha de Judá; como Davi salta diante da arca,
João salta diante de Maria; e as palavras com que Isabel saúda Maria são as
mesmas com que Davi saúda a arca. Vê-se a profundeza teologal que essa
aproximação feita por Lucas, entre os episódios, dá à Visitação. O que era a
arca na Antiga Aliança, o lugar em que Javé habitava com seu povo, é Maria na
Nova Aliança, pois nela é que habita o Verbo. Quando Maria visita Isabel, as
promessas são cumpridas e Deus visita seu povo. Já é o Verbo encarnado que,
presente em Maria, faz saltar João, como um novo Davi, no seio de sua mãe. A
Visitação, a santificação de João, são as primeiras manifestações da
encarnação. Já é o Verbo que opera. Já são as primeiras manifestações da graça.
(Jean Daniélou, 1905-1974, França)
CONTEMPLAR
Filhas de pescadores na vila de Horcones, 1957, Sergio Larraín (1931-2012),
Magnum Photos, Chile.
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