Muitos pensam de modo
diferente, sentem de modo diferente. Procuram Deus ou encontram Deus de muitos
modos. Nesta multidão, nesta variedade de religiões, só há uma certeza que
temos para todos: somos todos filhos de Deus. Que o diálogo sincero entre homens
e mulheres de diferentes religiões produza frutos de paz e de justiça.
(Papa Francisco, 2016)
Não temos um só Pai? Não nos
criou um mesmo Deus? Por que trabalhamos tão perfidamente uns contra os outros?
(Ml 2, 10)
XXX Domingo do Tempo Comum 29.10.2017
Ex 22, 20-26 1 Ts 1, 5-10 Mt 22, 34-40
ESCUTAR
Não
façais mal algum à viúva nem ao órfão. Se os maltratardes, gritarão por mim e
eu ouvirei o seu clamor (Ex 22, 21-22).
Irmãos,
sabeis de que maneira procedemos entre vós, para o vosso bem (1 Ts 1, 5).
“Mestre,
qual é o maior mandamento da lei?” (Mt 22, 36).
MEDITAR
Que
pode uma criatura senão,
entre
criaturas, amar?
amar
e esquecer,
amar
e malamar,
amar,
desamar, amar?
sempre,
e até de olhos vidrados, amar?
Que
pode, pergunto, o ser amoroso,
sozinho,
em rotação universal, senão
rodar
também, e amar?
amar
o que o mar traz à praia,
o
que ele sepulta, e o que, na brisa marinha,
é
sal, ou precisão de amor, ou simples ânsia?
Amar
solenemente as palmas do deserto,
o
que é entrega ou adoração expectante,
e
amar o inóspito, o áspero,
um
vaso sem flor, um chão de ferro,
e
o peito inerte, e a rua vista em sonho, e uma ave de rapina.
Este
o nosso destino: amor sem conta,
distribuído
pelas coisas pérfidas ou nulas,
doação
ilimitada a uma completa ingratidão,
e
na concha vazia do amor a procura medrosa,
paciente,
de mais e mais amor.
Amar
a nossa falta mesma de amor, e na secura nossa
amar
a água implícita, e o beijo tácito, e a sede infinita.
(Carlos
Drummond de Andrade, Amar).
ORAR
Jesus fez uma única operação aritmética na vida:
os dez mandamentos haviam se transformado em seiscentos e treze preceitos dos
quais trezentos e sessenta e cinco começavam com Não – um por dia – e os outros duzentos e quarenta e oito com um
imperativo Deves. Jesus não se perde
neste emaranhado selvático de prescrições, filigranas ou detalhes
insignificantes, pedantes e ridículos. Provocado por um doutor da Lei,
acostumado às sutilezas e sofismas, Jesus soma, divide, multiplica, diminui e chega
ao resultado desejado: Dois que são Um. Amor a Deus e Amor ao próximo são a
mesma coisa e formam um único bloco. Somos nós, que atomizados por tantos
casuísmos clericais, multiplicamos em leis todos os nossos interesses,
tormentos, remorsos e acusações implacáveis. Conseguimos colocar algo que não
está no Evangelho, nem no centro e nem na periferia. A operação simplificada de
Jesus nos resulta indigesta e evitamos aceitar o essencial e testemunhá-lo.
Nesta selva de números, aterroriza-nos descobrir apenas dois rostos: o do
irmão, tantos rostos que formam um só, e o rosto de Deus. Jesus não nos entrega
estatísticas, mas rostos e presenças. Somos nós, por ignorância ou covardia,
que separamos e fazemos pirotecnias acerca do primado de Deus e da atenção e
cuidado ao próximo. Pensamos que somos religiosos quando oramos, quando
recebemos os sacramentos e quando entramos pela porta da frente das igrejas. No
entanto, para Jesus seremos religiosos quando lutarmos por uma sociedade mais
justa e nos interessarmos pelos imigrantes, pelos desprezados. Quando rompermos
a solidão dos anciãos e superamos os preconceitos que marginalizam e demonizam
nossos irmãos e irmãs. Jesus não nos obriga a olhar um código e nem a decorar
prescrições minuciosas. Ele arranca todos os códigos de nossas mãos e nos
obriga a descobrir os rostos. O essencial não está escrito nas páginas de um
texto porque o essencial sempre teve, tem e terá um rosto e uma única
explicação possível: a do amor. Que possamos um dia testemunhar o que já foi
testemunhado um dia: “Vede como se amam e como estão dispostos a morrer uns
pelos outros” (Tertuliano, século III DC).
CONTEMPLAR
Crianças em balanços, 1996, Richard Kalvar (1944-), Magnum
Photos, Nova Iorque, Estados Unidos.
AMEI!!
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