segunda-feira, 2 de outubro de 2017

O Caminho da Beleza 46 - XXVII Domingo do Tempo Comum

Muitos pensam de modo diferente, sentem de modo diferente. Procuram Deus ou encontram Deus de muitos modos. Nesta multidão, nesta variedade de religiões, só há uma certeza que temos para todos: somos todos filhos de Deus. Que o diálogo sincero entre homens e mulheres de diferentes religiões produza frutos de paz e de justiça.
(Papa Francisco, 2016)

Não temos um só Pai? Não nos criou um mesmo Deus? Por que trabalhamos tão perfidamente uns contra os outros?
(Ml 2, 10)

XXVII Domingo do Tempo Comum                       08.10.2017
Is 5, 1-7                    Fl 4, 6-9                   Mt 21, 33-43


ESCUTAR

Eu esperava deles frutos de justiça – e eis injustiça; esperava obras de bondade – e eis iniquidade (Is 5, 7).

Irmãos, ocupai-vos com tudo o que é verdadeiro, respeitável, justo, puro, amável, honroso, tudo o que é virtude (Fl 4, 8).

“O reino de Deus vos será tirado e será entregue a um povo que produzirá frutos” (Mt 21, 43).


MEDITAR

Uma pessoa má pode fazer dez mil vezes mais dano do que uma fera, por que nós podemos usar nossa razão para tramar muitos males diversos.

(São Tomás de Aquino)


ORAR

A lição mais visível dos textos desta liturgia é o abuso do comportamento de “proprietário” que muitas vezes temos em nossas igrejas. Cuidamos da vinha, a defendemos, reivindicamos direitos e privilégios, mas nos esquecemos do essencial: produzir frutos. As estruturas estão em função dos frutos e não podem substituí-los. A vinha não pode ser ornamental. Ela não nos pertence e nem os frutos são para o nosso proveito. As igrejas não podem se contentar em possuir a verdade, a salvação, as obras, as instituições. O fazer da Igreja é produzir os frutos do Reino: justiça, liberdade, misericórdia, fraternidade, perdão e paz. A vinha está arrendada para nós para que produza frutos, caso contrário, o Senhor “arrendará a vinha a outros vinhateiros que lhe entregarão os frutos no tempo certo”. Jesus não nos pede nada de excepcional, mas sugere, no Espírito, o possível que devemos produzir e o impossível que temos que esperar do Pai. O maior pecado é querer produzir frutos que não são os da vinha, mas feitos à nossa maneira. Jesus chama isto de farisaísmo: querer se apossar da religião para interpretá-la ao nosso bel prazer e conveniência e para que ela produza falsos frutos como o conformismo das práticas, os sentimentos de segurança e os privilégios religiosos. O desafio é transformar o nosso pequeno lote arrendado numa fraternidade que seja a expressão do Reino. O Reino de Deus não pertence às igrejas, nem às hierarquias religiosas e nem é propriedade dos canonistas e moralistas de plantão. O Reino de Deus está nas comunidades eclesiais que produzem frutos de justiça, compaixão e defesa dos mais necessitados. A tragédia que pode suceder ao cristianismo de hoje e de sempre é que sufoquemos as vozes dos profetas, que nos coloquemos como os únicos donos da vinha do Pai e que dela expulsemos o Filho e aprisionemos o seu Espírito. O evangelista é rigoroso: se as igrejas não responderem às esperanças que o Senhor nelas colocou, Ele abrirá novos caminhos de salvação em povos que produzam frutos. O teólogo mais importante do século XX, o jesuíta von Balthasar, afirmava que a Igreja, ao invés de louvar e adorar a Deus, corre atrás de três deuses estranhos: a missa como autossatisfação da comunidade; a oração como higiene da alma e o dogmatismo que lhe traz segurança. No entanto, Paulo alertava; “Eu receio que, assim como a serpente seduziu Eva com astúcia, vosso modo de pensar se vicie abandonando a sinceridade e a fidelidade a Cristo” (2 Cor 11, 3). Quem quiser entender que entenda!


CONTEMPLAR

Mercado velho pegando fogo, 2010, Port-au-Prince, Haiti, Ricardo Venturi (1966-), Agência Contrasto, Roma, Itália.





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