terça-feira, 22 de março de 2016

O Caminho da Beleza 19 - Domingo da Páscoa na Ressurreição do Senhor

Domingo da Páscoa na Ressurreição do Senhor                     27.03.2016
At 10, 3.37-43                    Cl 3, 1-4                   Jo 20, 1-9


ESCUTAR

“Deus estava com ele” (At 10, 38).

Quando Cristo, vossa vida, aparecer em seu triunfo, então vós aparecereis também com ele, revestidos de glória (Cl 3, 4).

Entrou também o outro discípulo, que tinha chegado primeiro ao túmulo. Ele viu e acreditou (Jo 20, 8).


MEDITAR

Os problemas, as preocupações de todos os dias nos compelem a nos curvar sobre nós mesmos, na tristeza, na amargura... e aí está a morte. Não procuramos aí Aquele que está vivo! (Francisco, Homilia, Roma, 30 de março de 2013).



ORAR

Neste domingo da Ressurreição, é sempre bom lembrar que a vida humana é marcada por dois temas essenciais: o amor e a morte e com eles a indagação que nos atemoriza cotidianamente: o poder da morte poderá vencer o amor? A morte é sempre imprevisível, brusca e agressiva. Ela separa seres que se amam e cobre de dor, perda e luto os nossos corações. No entanto, a natureza fica impassível diante do nosso desespero: a terra continua a girar, a lua a cumprir o seu ciclo, as estrelas a brilhar e o sol a se levantar e a se pôr, marcando as luzes e as trevas. O evangelho nos faz saber que o medo, que deixa acabrunhadas as mulheres ao caminho do túmulo, as faz pensar na lógica da violência e do aniquilamento que, até hoje, continua a prevalecer, banalizando a vida. Apesar de tudo, acreditam na fidelidade do seu amor pelo Mestre, sustentadas por José de Arimatéia que, lealmente, disponibilizou o seu próprio túmulo para o Crucificado que nunca teve nem mesmo uma pedra para reclinar a sua cabeça (cf. Lc 9, 58). As mulheres se dirigem ao túmulo nesta manhã para ungir o morto sem saber que Ele está mais Vivo que todos os carrascos, assassinos e os que sobreviveram poupados pelas suas omissões e conivências. O túmulo é sempre o símbolo de “nenhuma parte”, pois é sempre um domicílio apátrida. Madalena sabe que se é assustador procurar o seu Bem Amado crucificado e reduzido a nada, mais vão ainda é procurar a vida no reino dos mortos. Mas sabe também que precisa continuar a caminhar ao encontro do outro, pois só assim o Senhor virá ao nosso encontro. E virá sempre precedido da exclamação: “Não temais!” e “Alegrai-vos!”. Mesmo face à morte, a vida está assegurada para os que se amam e são amantes da ternura e da entrega recíproca capazes de fazê-los cantar como o poema bíblico: “O amor é forte como a morte” (Cantares) e por esta razão a vida não termina em si mesma e se desvela como o começo da eternidade. A luz da Páscoa dissipa as trevas do mundo para que vivamos em abundância, com as medidas transbordantes de amor e de gozo e, desta forma, vençamos a morte. Neste domingo, não temos mais nada para temer, pois a nossa vida está escondida em Deus e devemos nos alegrar com a certeza de que nenhuma palavra de Jesus se perdeu, nem foi esquecida e, muito menos, sufocada e que isto jamais acontecerá na travessia deste mundo para a eternidade, apesar do pretenso poder das instituições civis e religiosas. O sacrifício de Isaac – “Deus ri” – é associado com o de Jesus. Mas, como o riso exorciza o medo, o Ressuscitado nos conclama: “Não temais!” e “Alegrai-vos!”. Doravante é inútil procurar entre os mortos Aquele que está Vivo, pois a Ressurreição nada mais é do que uma grande gargalhada de Deus ao vencer a morte, a última inimiga.


CONTEMPLAR
           

Menino Tucano - Pari, Cachoeira – AM, s.d., Araquém Alcântara (1951-), Brasil.



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