II Domingo da Páscoa 03.04.2016
At 5, 12-16 Ap
1, 9-13.17-19 Jo 20, 19-31
ESCUTAR
Chegavam a
transportar para as praças os doentes em camas e macas, a fim de que, quando
Pedro passasse, pelo menos a sua sombra tocasse alguns deles (At 5, 15).
“Não tenhas
medo. Eu sou o primeiro e o último, aquele que vive” (Ap 1, 17-18).
‘Bem-aventurados
os que creram sem terem visto!” (Jo 20, 29).
MEDITAR
Um pequeno
passo, no meio de grandes limitações humanas, pode ser mais agradável a Deus do
que uma vida exteriormente correta de quem passa os seus dias sem enfrentar
grandes dificuldades (Francisco, Evangelii
Gaudium, 44).
ORAR
A aparição do Cristo no livro do Apocalipse não é para a morte, mas para
a vida: Ele é o Vivente, a fonte da vida. Ele não está confinado ao passado,
mas é o Cristo hoje e sempre: “Estive morto, mas agora estou vivo para sempre e
tenho as chaves da morte”. Como disse o Papa Francisco na sua homilia da
Vigília Pascal: “Jesus é o ‘hoje’ eterno de Deus”. O Ressuscitado caminha com a
Igreja também no meio das trevas e das tempestades as mais violentas. A Igreja
antes de ser um lugar de culto, de doutrina, de moral e da própria religião é,
essencialmente, o lugar da fé no Cristo ressuscitado. O evangelista revela
justamente esse elemento vital para a comunidade eclesial: o crescimento na fé.
Não só Tomé, mas também os outros discípulos têm dificuldade para crer. O
evangelista concentra em Tomé esta resistência à fé, porque a fé não é fruto de
uma fácil exaltação. Toda fé madura é carregada de dúvidas e isso é bom! Toda
comunidade eclesial, de todos os lugares e tempos, chega progressivamente, em
meio a dúvidas, perplexidades, proscrições, ao grito de fé de Tomé: “Meu Senhor
e meu Deus”. Este homem, que duvida e questiona, é o primeiro a confessar a
divindade de Jesus. Crescer na fé não significa se submeter a adestramentos
catequéticos, mas compreender que ser Católico é estar preparado para dizer que
nós não possuímos todas as respostas. O teólogo Walter Kasper disse que a
Igreja teria muito mais autoridade se alguma vezes dissesse com mais
frequência: “Eu não sei”. A comunidade eclesial deve, prioritariamente, acolher
os que buscam, questionam, lutam, se debatem nas incertezas e perseguem, aos
tropeções, um raio de luz. É uma busca dolorosa que pode ser mais autêntica que
a posse de uma certeza que provoca a acomodação e a esclerose. Na comunidade
eclesial, há espaço para os que chegam primeiro, mas, sobretudo, para os
retardatários como Tomé. A comunidade eclesial deve manter suas portas
escancaradas para todos e nunca mais fechadas para preservar os que se
consideram “perfeitos na fé”. A advertência nos é, cotidianamente, lançada:
“Crês que Deus existe? Muito bem! Também os demônios creem e tremem de medo”
(Tg 2, 19). Meditemos as palavras da teóloga alemã Dorothee Sölle no seu poema Credo: “Eu creio em deus que não criou
um mundo imutável, algo incapaz de se modificar, que não governa de acordo com
leis que permanecem invioladas (...) eu creio em deus que deseja conflito na
vida e quer que nós transformemos o status
quo, pelo nosso trabalho, por nossas políticas [e por nossos sonhos]”.
CONTEMPLAR
Marcha pela Paz, Washington, 1967,
Marc Riboud (1923-), França. Foto tirada em frente ao Pentágono numa manifestação
contra a guerra do Vietnã, em março de 1967.