segunda-feira, 26 de outubro de 2015

O Caminho da Beleza 49 - Festa de Todos os Santos e Santas

O Caminho da Beleza 49
Leituras para a travessia da vida


“O conceito de sabedoria é aquele que reúne harmonicamente diversos aspectos: conhecimento, amor, contemplação do belo e, também, ao mesmo tempo, uma ‘comunhão com a verdade’ e uma ‘verdade que cria comunhão’, ‘uma beleza que atrai e apaixona’” (Francisco).

Quando recebia tuas palavras, eu as devorava; tua palavra era o meu prazer e minha íntima alegria” (Jr 15, 16).

“Não deixe cair a profecia” (D. Hélder Câmara, 1999, dias antes de sua passagem).


Festa de Todos os Santos e Santas              01.11.2015
Ap 7, 2-4.9-14                    1 Jo 3, 1-3                Mt 5, 1-12


ESCUTAR

“Esses são os que vieram da grande tribulação. Lavaram e alvejaram as suas roupas no sangue do Cordeiro” (Ap 7, 13).

Amados, desde já somos filhos de Deus, mas nem sequer se manifestou o que seremos! (1 Jo 3, 2).

“Bem-aventurados... Alegrai-vos e exultai, porque será grande a vossa recompensa nos céus” (Mt 7 5, 3).


MEDITAR

Deu-me Deus o seu gládio porque eu faça/A sua santa guerra./Sagrou-me seu em honra e em desgraça,/Às horas em que um frio vento passa/Por sobre a fria terra.

Pôs-me as mãos sobre os ombros e doirou-me/A fronte com o olhar;/E esta febre de Além, que me consome,/E este querer grandeza são seu nome/Dentro em mim a vibrar.

E eu vou, e a luz do gládio erguido dá/Em minha face calma./Cheio de Deus, não temo o que virá,/Pois, venha o que vier, nunca será/ Maior do que a minha alma. 
(Fernando Pessoa)


Ser santo é suportar o olhar de Deus (Hans Urs von Balthasar).


ORAR

A celebração de todos os santos e santas, para que seja verdadeira, deve agitar dentro de nós uma mistura de sentimentos: gratidão e remorso; admiração e raiva; orgulho e nostalgia; alegria e inquietude; paz e desconcerto. Os santos quando surgem no nosso horizonte são uma provocação, pois a verdadeira vocação, tantas vezes falida, na nossa vida é a santidade. O melhor escondido no nosso coração é a santidade. João nos fala do grande presente que o Pai nos deu, mas, atolados nas nossas vidas deficitárias, estamos mais preocupados em supervalorizar os fracassos, os erros e os infortúnios. A santidade não é feita de matérias extraordinárias e nem de fenômenos excepcionais. Ela é feita exclusivamente de amor. É o amor que faz os santos e santas, pois são os que não temem se deixarem amar. Se a santidade nos parece difícil e quase impossível é porque não temos a coragem de nos abandonarmos ao amor. O Senhor permanece desconhecido porque são muito conhecidas e difundidas as suas caricaturas. As bem-aventuranças são uma alegria concreta, duradoura e não um raio de momentos felizes que não se repetem. Elas jamais se dissolvem porque têm a mesma duração de Deus e Deus nunca retira a sua palavra. Temos apenas que nos aproximar da Palavra para ouvir e compreender o segredo da felicidade em Deus. Santos e santas são todos os que tiveram a coragem de dar esse passo, de abandonar a maneira habitual de interpretar a vida. A provocação desta festa de hoje é unir a vocação à santidade – que é a vocação de todos – com a vocação da alegria. Os santos e santas são os impacientes da alegria e na alegria aprendem a suportar o olhar amoroso de Deus. A pertença ou não ao Reino não se justifica pela adesão a verdades ortodoxas da fé, mas à prática ou não do amor. Um dia, vamos conhecer os verdadeiros santos de todas as religiões e de todos os ateísmos: os que viveram amando, no anonimato, sem nada esperar.


CONTEMPLAR

Rasgado (detalhe), Bruce Denny (1967-), escultura em bronze, Londres, Reino Unido (www.brucedenny.com).






segunda-feira, 19 de outubro de 2015

O Caminho da Beleza 48 - XXX Domingo do Tempo Comum

O Caminho da Beleza 48
Leituras para a travessia da vida


“O conceito de sabedoria é aquele que reúne harmonicamente diversos aspectos: conhecimento, amor, contemplação do belo e, também, ao mesmo tempo, uma ‘comunhão com a verdade’ e uma ‘verdade que cria comunhão’, ‘uma beleza que atrai e apaixona’” (Francisco).

Quando recebia tuas palavras, eu as devorava; tua palavra era o meu prazer e minha íntima alegria” (Jr 15, 16).

“Não deixe cair a profecia” (D. Hélder Câmara, 1999, dias antes de sua passagem).


XXX Domingo do Tempo Comum              25.10.2015
Jr 31, 7-9                 Hb 5, 1-6                 Mc 10, 46-52


ESCUTAR

“Salva, Senhor, teu povo, o resto de Israel” (Jr 31, 7).

Todo sumo sacerdote é tirado do meio dos homens e instituído em favor dos homens nas coisas que se referem a Deus, para oferecer dons e sacrifícios pelos pecados (Hb 5, 1).

Então Jesus lhe perguntou: “O que queres que eu te faça?” O cego respondeu: “Mestre, que eu veja!” (Mc 10, 51).


MEDITAR

Não é a idade o nosso problema. O nosso problema é a senectude e a atrofia da alma, não importa a idade cronológica. Nosso problema é que, educados em uma espiritualidade do silêncio e do sucesso, perdemos de vista a espiritualidade do risco (Joan Chittister, osb).

Aquele que sai de sua preguiça e de sua esterilidade espiritual para penetrar na ação interior viva; ele está decidido a ver se realizar o reino de Deus, ele tem a vontade de fixar sua natureza inconstante na decisão e na perseverança. Eis o que exprime o Amém (Romano Guardini).


ORAR

Jesus tem predileção pelos que emergem da multidão e superam todas as barreiras de proteção para estabelecer um contato direto com Ele. Bartimeu é um provocador, rompe o cerimonial e introduz um elemento que estava fora do programa. Age como o personagem da canção de Chico Buarque: “Morreu na contramão atrapalhando o tráfego”. Jesus para ao ouvir o seu grito e não continua mais o roteiro traçado. O grito do cego tem o poder de pará-Lo. Jesus diz: “Chamai-o”. Temos que reconhecer que somos nós, homens das igrejas que criamos barreiras protetoras e filtros seletivos. Ao invés de transmitir o convite controlamos, como fiscais, os documentos; fixamos as regras inflexíveis para o encontro que jamais será pessoal, mas burocrático e cheio de maneirices pré-estabelecidas. Não suportamos o grito que incomoda e tentamos domesticá-lo para que se torne mais circunspecto. Está na hora de aprendermos o alfabeto do grito que nos desestabiliza em nossas seguranças e programações. Decoramos ad nauseam as perguntas rituais, mas para o grito imprevisível nossas respostas são ridículas, pois para os gritos não existem respostas pré-fabricadas. Temos que romper as liturgias do medo e do decoro e, como Jesus, viver ao ar livre, caminhar o caminho das pessoas comuns, não temer os muitos gritos de socorro que brotam dos lugares pelos quais passamos e que, muitas vezes, fazemos não ouvir para que não atrapalhem a trajetória dos nossos passos. Jesus sempre acolhe os passos clandestinos de quem O busca e clama por sua misericórdia. Não fomos encarregados para sermos tutores da tranquilidade e da segurança de Jesus, pois Ele está no meio de nós, disponível para ser incomodado. Francisco reitera na sua exortação: “Saiamos, saiamos para oferecer a todos a vida de Jesus Cristo! Prefiro uma Igreja acidentada, ferida e enlameada por ter saído pelas estradas, a uma Igreja enferma pelo fechamento e a comodidade de se agarrar às próprias seguranças” (EG 49).


CONTEMPLAR

A família do homem cego, 1903, Pablo Picasso, óleo sobre tela, 37,5 x 27 cm, local desconhecido.




quinta-feira, 15 de outubro de 2015

Matersol, Manos da Terna Solidão, 16 anos de fundação




Manas e Manos queridos,

“O grão amontoado apodrece, espalhado frutifica” (São Domingos)

Com toda a Alegria e Ternura, hoje celebramos 16 anos da fundação da Comunidade dos Manos da Terna Solidão. Celebrada por Dom Irineu Danelon, SDB, Bispo Emérito da Diocese de Lins-SP, a fundação ocorreu a 15 de outubro de 1999, Festa de Santa Teresa D’Ávila, em Curitiba, no Mosteiro da Solitude da Madre Belém.

Nessa travessia – que sempre continuará – comungamos e partilhamos entre nós todos os afetos, testemunhos, verdades e lutas de cada um. Vingamos, definitivamente, que “O importante é nascer sempre de novo. O vento sopra onde quer e ouves a sua voz, mas não sabes de onde vem nem para onde vai. Assim acontece com todo aquele que nasceu do Espírito”(Jo 3.7).

Para encantar essa celebração, cliquem na imagem abaixo e contemplem a beleza da composição de Michel Colombier “Emmanuel”, interpretada pela violoncelista Kristina Cooper.







Na Alegria e Ternura do Cristo Morto e Ressuscitado e no Espírito de Jesus.

Deus esteja!
Manos da Terna Solidão
Pe. Paulo Botas, mts
Pe. Eduardo Spiller, mts

Imagem: A Santa Ceia, 2003, Arcabas (Jean-Marie Pirot), óleo sobre tela, 0,81 m x 0,65 m, Saint-Pierre-de-Chartreuse, França.

domingo, 11 de outubro de 2015

O Caminho da Beleza 47 - XXIX Domingo do Tempo Comum

O Caminho da Beleza 47
Leituras para a travessia da vida


“O conceito de sabedoria é aquele que reúne harmonicamente diversos aspectos: conhecimento, amor, contemplação do belo e, também, ao mesmo tempo, uma ‘comunhão com a verdade’ e uma ‘verdade que cria comunhão’, ‘uma beleza que atrai e apaixona’” (Francisco).

Quando recebia tuas palavras, eu as devorava; tua palavra era o meu prazer e minha íntima alegria” (Jr 15, 16).

“Não deixe cair a profecia” (D. Hélder Câmara, 1999, dias antes de sua passagem).


XXIX Domingo do Tempo Comum                18.10.2015
Is 53, 10-11             Hb 4, 14-16             Mc 10, 35-45


ESCUTAR

O Senhor quis macerá-lo com sofrimentos. Oferecendo sua vida em expiação, ele terá descendência duradoura e fará cumprir com êxito a vontade do Senhor (Is 53, 10).

Temos um sumo sacerdote capaz de se compadecer de nossas fraquezas, pois ele mesmo foi provado em tudo como nós, com exceção do pecado (Hb 4, 15).

“Quem quiser ser grande seja vosso servo; quem quiser ser o primeiro seja o escravo de todos” (Mc 10, 43).


MEDITAR

No Único não há mais mestre nem discípulo, mas todos são deuses (Evrágio Pôntico).

A gratuidade consiste acima de tudo em não levar em consideração nenhuma satisfação humana. A gratuidade lança a semente, sem esperar a aparição de qualquer fruto que seja; ela trabalha num Reino onde a única certeza é a da presença misteriosa do Cristo. Eis o que é a verdadeira gratuidade, ó Senhor: dar-me sem cálculo, ao serviço do coração do homem (Carlo Maria Martini).

ORAR

O pedido de Tiago e de João não é nem descaradamente egoísta e nem totalmente desinteressado. É uma mistura de entusiasmo e cálculo. Um ponto de vanglória, uma disponibilidade ao risco, mas com alguma garantia. Jesus não os repreende, mas se limita a purificar a sua visão. A pergunta de Tiago e João é a mecha que, até hoje, acende o debate sobre as precedências do discipulado. Jesus é o servo sofredor, o sumo sacerdote compassivo e o Filho do Homem que entrega a vida para o resgate de todos. A comunidade cristã é uma comunidade-sem-poder cuja autoridade vem da possibilidade de servir aos outros e não de dominá-los. Jesus exige de nós o equilíbrio delicado e tênue entre a autoridade, o serviço e a Cruz. A autoridade deve levar a Cruz enquanto serve. Jesus tem uma autêntica repugnância a todas as manifestações de ambição e de arrivismo entre os que O seguem. As intrigas entre as igrejas e o carreirismo muitas vezes se servem do Cristo como tapume do egoísmo e são abomináveis aos olhos do Senhor. O papa Francisco exorta: “Não quero uma Igreja preocupada com ser o centro e que acaba presa num emaranhado de obsessões e procedimentos. Mais do que o temor de falhar, espero que nos mova o medo de nos encerrarmos nas estruturas que nos dão uma falsa proteção, nas normas que nos transformam em juízes implacáveis, nos hábitos em que nos sentimos tranquilos, enquanto lá fora há uma multidão faminta e Jesus repete-nos sem cessar: ‘Dai-lhes vós mesmos de comer’ (Mc 6, 37)” (EG 49).


CONTEMPLAR


Servo sofredor, 2004, Marcella Paliekara, colagem e técnica mista, 9” x 11”, Wisconsin, Estados Unidos. Clique na imagem para ampliar.




quarta-feira, 7 de outubro de 2015

O Caminho da Beleza 46 - XXVIII Domingo do Tempo Comum

O Caminho da Beleza 46
Leituras para a travessia da vida


“O conceito de sabedoria é aquele que reúne harmonicamente diversos aspectos: conhecimento, amor, contemplação do belo e, também, ao mesmo tempo, uma ‘comunhão com a verdade’ e uma ‘verdade que cria comunhão’, ‘uma beleza que atrai e apaixona’” (Francisco).

Quando recebia tuas palavras, eu as devorava; tua palavra era o meu prazer e minha íntima alegria” (Jr 15, 16).

“Não deixe cair a profecia” (D. Hélder Câmara, 1999, dias antes de sua passagem).


XXVIII Domingo do Tempo Comum                     11.10.2015
Sb 7, 7-11                 Hb 4, 12-13             Mc 10, 17-30


ESCUTAR

“Orei, e foi-me dada a prudência; supliquei, e veio a mim o espírito da sabedoria” (Sb 7, 7).

A palavra de Deus é viva, eficaz e mais cortante do que qualquer espada de dois gumes (Hb 4, 12).

“É mais fácil um camelo passar pelo buraco de uma agulha do que um rico entrar no reino de Deus” (Mc 10, 25).


MEDITAR

O caminho para a fé passa pela obediência ao chamado de Cristo. Exige-se um passo decisivo, senão o chamado de Jesus ecoa no vácuo, e todo suposto discipulado, sem esse passo ao qual Jesus nos chama, transforma-se em falsa onda entusiástica (Dietrich Bonhoeffer).

A única possibilidade humana de converter um rico, consiste em despojá-lo de sua riqueza (Murilo Mendes).


ORAR

O evangelho de hoje nos convida a pensar de uma maneira nova e decisiva a própria vida. Os que muito possuem pensam numa única direção: defender, aumentar, consolidar e perpetuar a situação material em que se encontram. Para estes é quase impossível pensar a sua vida de outra maneira. No entanto, o livro da Sabedoria nos faz saber que “todo ouro é um punhado de areia e, diante dela, a prata será como lama”. A nossa salvação vem do não se defender, em aceitar ser ferido, dilacerado na nossa autosuficiência pela Palavra que “é mais cortante que qualquer espada de dois gumes”. Mais do que camuflar, é preciso ter a coragem de se colocar a descoberto diante dela. Jesus não ensina o desprezo dos bens terrestres, simplesmente nos adverte do perigo de nos deixarmos aprisionar em seu horizonte sufocante. A riqueza se converte num mal quando fecha o nosso coração numa prisão. Tanto quanto o dinheiro, o saber acumulado e guardado para si próprio se converte num mal quando nos obriga a pensar de uma maneira repetitiva, com os mesmos esquemas mentais e com os mesmos pensamentos sem jamais colocá-los em questão. Jesus critica a confiança cega que um rico deposita em sua riqueza, força e poder. Ele será acometido de uma tristeza mortal ainda que cumpra, no limite, todos os preceitos religiosos. O Cristo nos provoca a deixarmos de ser filhos e filhas na vocação falida da acumulação para que nos tornemos capazes do sinal cristão da alegria e da liberdade. O papa Francisco nos lembra: “Se as coisas, o dinheiro, a mundaneidade se tornam o centro da nossa vida, nos aprisionam, nos possuem, nós perdemos a nossa própria identidade de seres humanos: escutai bem, o rico do Evangelho não tem um nome, ele é simplesmente ‘um rico’” (Homilia, 29.9.2013). Podemos dizer que se Deus fosse capitalista, jamais teria se encarnado, teria fundado uma Sociedade Anônima para abrigar tudo o que é escuso, corrupto e competitivo sob os ares da filantropia, da ética e da moralidade.


CONTEMPLAR


Rico e Pobre, século XVII, autoria desconhecida, óleo sobre tela, in: http://siftingthepast.com/. Clique na imagem para ampliar.