O Caminho da Beleza 45
Leituras para a
travessia da vida
“O conceito de sabedoria é aquele que reúne harmonicamente
diversos aspectos: conhecimento, amor, contemplação do belo e, também, ao mesmo
tempo, uma ‘comunhão com a verdade’ e uma ‘verdade que cria comunhão’, ‘uma
beleza que atrai e apaixona’” (Francisco).
“Quando recebia tuas palavras, eu as devorava; tua palavra era o meu
prazer e minha íntima alegria” (Jr 15, 16).
“Não deixe cair a profecia” (D. Hélder Câmara,
1999, dias antes de sua passagem).
XXVII Domingo do Tempo Comum 04.10.2015
Gn 2, 18-24 Hb 2, 9-11 Mc 10, 2-16
ESCUTAR
O
Senhor Deus disse: “Não é bom que o homem esteja só. Vou dar-lhe uma auxiliar
semelhante a ele” (Gn 2, 18).
Pois
tanto Jesus, o santificador, quanto os santificados são descendentes do mesmo
ancestral; por essa razão, ele não se envergonha de os chamar irmãos (Hb 2,
11).
“Foi
por causa da dureza do vosso coração que Moisés vos escreveu esse mandamento” (Mc
10, 5).
MEDITAR
O
amor cresce através do amor. O amor é “divino”, porque vem de Deus e nos une a
Deus e, através desse processo unificador, transforma-nos num Nós, que supera
nossas divisões e nos faz ser um só, até que, no fim, Deus seja “tudo em todos”
(Bento XVI).
Então Ele olhou para mim,
o meio-dia de Seus olhos estava sobre mim, e disse: “Tens muitos amantes e
todavia só Eu te amo. Os outros homens amam a si mesmos em tua intimidade. Eu
amo-te por ti mesma. Outros homens veem em ti a beleza que desvanecerá mais
cedo que seus próprios anos. Mas Eu vejo em ti a beleza que não desvanecerá... Só
Eu amo o que é invisível em ti” (Diálogo entre Jesus e Miriam de Mijdel, Kalil
Gibran).
ORAR
O Senhor constata que existe uma única coisa que
não é nem bela e nem boa no jardim do Éden: a solidão do homem. Não pode
existir verdadeira felicidade quando se está só. Nossa humanidade somente se
realiza plenamente e se manifesta completamente em relação com outro ser. A
sexualidade, na Bíblia, não está reduzida à reprodução, mas se manifesta na
felicidade que brota da relação com o outro. A união não está no acasalamento
dos corpos, mas na intimidade do dom entre as pessoas. O primeiro canto de amor
da humanidade é a declaração de Adão para Eva: “É osso dos meus ossos e carne
da minha carne”. O homem e a mulher portam os átomos que constituem a molécula
da divindade que neles existe. A sexualidade é fonte de alegria e de prazer. “O
próprio Criador estabeleceu que nesta função de geração os esposos sentissem
prazer e satisfação do corpo e do espírito. Portanto, os esposos não fazem nada
de mal em procurar este prazer e gozá-lo” (Pio XII, discurso de 29.10.1951). O
evangelho revela que a poesia amorosa das origens se apagou e em seu lugar
surgiram áridas e meticulosas normas jurídicas. Fomos acometidos, nestes
séculos, de uma poderosa esclerocardia, uma dureza de coração, que nos tornou
cegos para a amplitude dos encontros e da vida. Jesus não pretende salvar o
matrimonio em crise, recorrendo a normas jurídicas e nem encontrar soluções
tranquilizadoras entre as dobraduras de um código moral. Jesus nos propõe a
visão da manhã da Criação: o desígnio do Senhor de felicidade para os homens e
mulheres. O recurso à lei é típico da dureza do coração e as vozes que dela
brotam são as vetustas vozes da prudência, do cálculo, da astúcia e dos
costumes. São vozes que, com seu peso de morte, afogam os gritos e sussurros
daquela primeira manhã em que descobrimos que não estamos sós. No tempo de Jesus,
o direito ao divórcio estava exclusivamente do lado do homem. Era abominável,
diante do Senhor, o marido da divorciada voltar a se casar com ela, pois estava
contaminada (Dt 24, 1-4). A questão era de pureza ritual e não de
indissolubilidade matrimonial. A pergunta dos fariseus era sobre a desigualdade
de direitos entre o homem e a mulher, uma vez que, para eles e para a cultura
da época, os privilégios dos homens eram ilimitados. Jesus não tolera isto e
argumenta pela igualdade dos direitos ao enfatizar o desígnio original de Deus:
O homem e a mulher “não são dois, mas uma só carne”. Ele se fundem numa unidade
e numa perfeita igualdade em dignidade e direitos.
CONTEMPLAR
Adão e
Eva com a flor, 1910, Vladimir Baranoff-Rossiné (1888-1944), óleo
sobre tela, 50 x 75 cm, Coleção de Arte de Hannover, Alemanha. Clicar na imagem para ampliar.