segunda-feira, 25 de agosto de 2014

O Caminho da Beleza 41 - XXII Domingo do Tempo Comum

O Caminho da Beleza 41
Leituras para a travessia da vida


“O conceito de sabedoria é aquele que reúne harmonicamente diversos aspectos: conhecimento, amor, contemplação do belo e, também, ao mesmo tempo, uma ‘comunhão com a verdade’ e uma ‘verdade que cria comunhão’, ‘uma beleza que atrai e apaixona’” (Francisco).

Quando recebia tuas palavras, eu as devorava; tua palavra era o meu prazer e minha íntima alegria” (Jr 15, 16).

“Não deixe cair a profecia” (D. Hélder Câmara, 1999, dias antes de sua passagem).



XXII Domingo do Tempo Comum              31.08.2014
Jr 20, 7-9                Rm 12, 1-2              Mt 16, 21-27


ESCUTAR

“Seduziste-me, Senhor, e deixei-me seduzir” (Jr 20, 7).

“Não vos conformeis com o mundo, mas transformai-vos, renovando vossa maneira de pensar e de julgar” (Rm 12, 2).

“De fato, que adianta ao homem ganhar o mundo inteiro, mas perder a sua vida?” (Mt 16, 26).


MEDITAR

“Um coração puro é um coração vazio, um coração que não tem medo de perder sua própria personalidade. O homem não pode permanecer na ponta dos pés e se cansa de vestir máscaras. O coração puro não tem técnicas, não pode ser classificado. É a vida que nos ensina, e o coração puro se deixa esvaziar pela vida. O perder liberta” (Raimon Panikkar).

“Deus não me dá sossego. É meu aguilhão. Morde meu calcanhar como serpente, faz-se verbo, carne, caco de vidro, pedra contra a qual sangra minha cabeça. Eu não tenho descanso neste amor. Eu não posso dormir sob a luz do seu olho que me fixa. Quero de novo o ventre de minha mãe, sua mão espalmada contra o umbigo estufado, me escondendo de Deus” (Adélia Prado).


ORAR

O profeta Jeremias coloca a descoberto suas feridas. Não suspira, grita; não se resigna e não inventa bons sentimentos. Protesta violentamente e desafoga a sua raiva. Reza no limite da blasfêmia sem se sentir culpado por sua debilidade, mas acusa Deus de prepotência: “Não quero mais lembrar-me disso nem falar mais em nome Dele”. Jeremias não diz que foi fascinado, mas seduzido por Deus e está desiludido, amargurado e desesperado porque a admiração inicial acabara: “Quando recebia tuas palavras, eu as devorava, tua palavra era meu prazer e minha íntima alegria” (Jr 15, 16). O profeta se deu conta que a Palavra de Deus o confrontou com a surdez alheia. Poderia ter sido menos coerente, menos apaixonado, ter-se limitado a uma mera e ordinária administração. Poderia ter pregado as suas palavras e não as do Senhor e assim agradado a seus ouvintes sem se tornar “fonte de vergonha e chacota o dia inteiro”. Jeremias está em crise por viver, até as últimas consequências, as exigências implacáveis da sua vocação profética. Está em crise por excesso de fidelidade. Tenta se libertar do Senhor, mas se dá conta de que era impossível, pois Deus havia tomado posse de sua pessoa como um fogo de uma paixão incontrolável e irremediável. Jesus também apresenta um projeto de vida indigesto para os que querem segui-Lo: renunciar a si mesmo, tomar a sua cruz e perder a vida como Ele mesmo quando decidiu ir para Jerusalém sabendo que iria sofrer muito. Pedro expressa o seu desacordo e pensa como todos ao desejar uma situação de vida tranquilizadora, perspectivas triunfalistas e amplas concessões à ambição pessoal e de poder. De repente, não mais que de repente, baixa da sua condição de bem-aventurado para Satanás. A pedra que deveria ser de coesão e unidade se torna pedra de tropeço. A comunidade eclesial sempre corre o perigo se seguir a Cristo, falar Dele, mas continuar pensando em si mesma. Jeremias e Pedro nos garantem que seguir os desígnios do Senhor nunca será um destino confortável. Quem segue Jesus tem, muitas vezes, a sensação de estar perdendo a vida por uma utopia que nunca será realizada; de que está perdendo os melhores anos e gastando as energias por uma causa inglória. Devemos gravar em nossos corações a disponibilidade total para servir o Senhor em nossos irmãos e irmãs ainda que tenhamos que dizer, após termos feito tudo o que nos mandaram: “somos servos inúteis, cumprimos nosso dever” (Lc 17, 10).


CONTEMPLAR

Pietà (detalhe), William Adolphe Bouguereau, 1876, óleo sobre tela, 230 cm x 148 cm, Dallas Museum of Art, Dallas, Texas, Estados Unidos.






Um comentário:

  1. No exercício diário da confiança no Pai, resulta que Dele não nos afastamos.
    Um abraço afetuoso aos Manos.
    Felipe Wouk

    ResponderExcluir