O Caminho da Beleza 28
Leituras para a
travessia da vida
“O conceito de sabedoria é aquele que reúne harmonicamente
diversos aspectos: conhecimento, amor, contemplação do belo e, também, ao mesmo
tempo, uma ‘comunhão com a verdade’ e uma ‘verdade que cria comunhão’, ‘uma
beleza que atrai e apaixona’” (Francisco).
“Quando recebia tuas palavras, eu as devorava; tua palavra era o meu
prazer e minha íntima alegria” (Jr 15, 16).
“Não deixe cair a profecia” (D. Hélder Câmara,
1999, dias antes de sua passagem).
Ascensão do Senhor 01.06.2014
At 1,1-11 Ef 1, 17-23 Mt
28, 16-20
ESCUTAR
“João
batizou com água; vós, porém, sereis batizados com o Espírito Santo dentro de
poucos dias” (At 1,5).
“Ele
manifestou sua força em Cristo, quando o ressuscitou dos mortos e o fez
sentar-se à sua direita nos céus” (Ef 1,20).
“Eis
que eu estarei convosco todos os dias, até o fim do mundo ”(Mt 28, 20).
MEDITAR
“Importa
pouco que vocês estejam ainda incertos do caminho que o Senhor vos chama a
seguir; só importa isto: ter a certeza de que ele nos chama a realizar grandes
coisas na vida, se nós depositamos totalmente a nossa confiança nele” (Carlo
Maria Martini).
“Quando
se formar em nós o desejo de seguir Jesus não nos espantemos se Ele não no-lo
permitir, temporariamente ou sempre [...] Seguindo-O conforme o nosso desejo
não conseguiríamos talvez senão o nosso bem ou o de um número restrito de
pessoas. Com efeito, o Seu olhar alcança mais do que o nosso; Ele deseja, não
apenas o nosso bem, mas também o de todos” (Charles de Foucauld).
ORAR
Com a Ascensão começa o tempo da Igreja. A
novidade é que o Pai permanece conosco, pois não abandona a sua morada
terrestre assumida com a encarnação do seu Filho. A mesmice do movimento está
rompida. Não é mais chegada, permanência e partida, mas vinda e presença
continuada de diversas formas. A palavra chave, a partir de agora, é IDE e
PARTI. Não celebramos mais a partida do Mestre, mas a dos seus discípulos. O
“poder” dado a Jesus é transferido para os que devem assegurar sua Presença no
mundo. Somos convocados a fazer discípulos em todas as nações e não adestrá-las
com e pela uniformidade das nossas catequeses que desprezam a diversidade das
culturas. É mais do que necessário extirpar a visão equivocada em que fomos
criados e ao invés de dizer, “Deus está conosco”, proclamar, “Deus está convosco!”.
É uma cena de investidura: “Ide e fazei discípulos meus todos os povos”, ou
seja, tornai verdadeira a presença de Jesus no mundo por meio do amor fraterno
e comunitário. Nada nos resta dizer, mas apenas partir e agir para que a Boa
Nova comece sua aventura no mundo. Somos filhos e herdeiros de muitas partidas:
a de Abraão, a do Êxodo, de Maria até Isabel, a da fuga do Egito. Somos
parceiros numa Igreja caminhante em que devemos ser sinais da presença de Deus
no mundo e suscitar pelo testemunho silencioso o desejo de outros para o
encontro com o Cristo. Não se trata de multiplicar as viagens, mas dar
intensidade e visibilidade evangélica à própria existência. O grande risco,
como tem acontecido, é ficarmos olhando para o céu e, pasmados, não mergulharmos
para dentro de nós mesmos e encontrarmos o élan que nos faz partir
imediatamente. É preciso partir, ir ao encontro dos outros na sua diversidade e
pluralidade para descobrir num ponto qualquer do mundo, não um lugar “especial”
para transformá-lo em peregrinação, mas o lugar, as pessoas e os rostos nos quais
o Ressuscitado está presente na terra. Desde que ascendeu, Jesus tornou-se o
Ausente da história e somos convidados e desafiados a decifrar,
apaixonadamente, os seus traços, que nada tem de espetaculoso e pirotécnico,
pois “doravante nossa vida está escondida em Deus com o Cristo” (Col 3, 4). Podemos,
pelo tédio, desistir de caminhar. Podemos ainda cortar o caminho, queimar as
etapas porque ele nos parece longo e nos deixa impacientes. Devemos gravar em
nossas travessias que “a esperança não engana, porque o amor de Deus se infunde
em nosso coração pelo dom o Espírito Santo” (Rm 5, 5). Seguir os traços de
Jesus, mergulhar no seu mistério é, pouco a pouco, reconhecê-Lo na Palavra
anunciada, na fração do pão e na prática do amor fraterno para que tenhamos a
inabalável certeza de que Ele nos amou até o fim, até o extremo limite de Si
mesmo.
CONTEMPLAR
Ascensão, Eric
Gill, 1918, xilogravura, 140 x 89cm, Tate Gallery, Reino Unido.