O Caminho da
Beleza 20
Leituras
para a travessia da vida
“O conceito
de sabedoria é aquele que reúne harmonicamente diversos aspectos: conhecimento,
amor, contemplação do belo e, também, ao mesmo tempo, uma ‘comunhão com a
verdade’ e uma ‘verdade que cria comunhão’, ‘uma beleza que atrai e apaixona’” (Francisco).
“Quando recebia
tuas palavras, eu as devorava; tua palavra era o meu prazer e minha íntima
alegria” (Jr 15, 16).
“Não deixe
cair a profecia” (D. Hélder Câmara,
1999, dias antes de sua passagem).
V Domingo da Quaresma
06.04.2014
Ez 37, 12-14 Rm 8, 8-11 Jo 11, 1-45
Ez 37, 12-14 Rm 8, 8-11 Jo 11, 1-45
ESCUTAR
“Porei em vós o meu espírito, para
que vivais, e vos colocarei em vossa terra. Então sabereis que eu, o Senhor,
digo e faço – oráculo do Senhor” (Ez 37, 14).
“E se o Espírito daquele que
ressuscitou Jesus dentre os mortos mora em vós, então aquele que ressuscitou
Jesus Cristo dentre os mortos vivificará também vossos corpos mortais por meio
do seu Espírito que mora em vós” (Rm 8, 11).
“Então Jesus disse: Eu sou a
ressurreição e a vida. Quem crê em mim, mesmo que morra viverá. E todo aquele
que vive e crê em mim não morrerá jamais. Crês isso?” (Jo 11, 25-26).
MEDITAR
“Tudo o que é votado à morte vem
terminar na minha vida; tudo o que se torna outono encalha na praia da minha
primavera; tudo o que se desfaz em podridão vem nutrir as minhas flores” (Hans
Urs von Balthasar).
“Deus somente sabe o túmulo dos
tempos e Ele aí bate. Ele fala e o que já está sepultado se levanta, sai da
sombra e avança para Ele, pois a morte se retirou diante do Deus da Páscoa” (Patrice
de la Tour du Pin).
ORAR
Lázaro representa toda a humanidade
sepultada e atada aos nós da morte que Jesus, por terna compaixão, salvará ao
se entregar livremente por amor. Ressuscitar é desatar os nós que nos prendem à
realidade cruel de uma sociedade civil e religiosa sustentada pela ganância e
pela competição; de uma sociedade que incentiva a promiscuidade do amor; de uma
política que tolera e incentiva a corrupção; de igrejas que abandonam o seu papel
profético e fazem todas as concessões para esposarem os privilégios do poder. Jesus
não é um dos ressuscitados. Jesus é a
Ressurreição! A travessia cristã é uma contradição permanente: temos a certeza
da morte, mas vivemos esta certeza na imprevisibilidade do quando e do como. Para um
cristão, em espírito e verdade, morrer é aprender a se lançar no abismo das
entranhas do Amor onde começou a Vida. Na sua mística do viver, a Igreja de
Jesus confronta os poderes políticos e religiosos e os coloca em xeque sobre a
dimensão espiritual de suas vidas. A fidelidade de Deus é mais forte do que a
morte. Ele soprará seu Espírito para fazer viver o seu povo e abrirá os túmulos
da desesperança. A escolha é nossa: podemos nos fechar sobre nós mesmos num
movimento auto-destruidor e suicida ou acolher o transbordamento da
ressurreição dada por Deus que é vida em plenitude. Vivemos
tempos sombrios em que “nossos olhos se ressecaram, nossa esperança se
extinguiu” (Ez 37, 11). Jesus testemunha que para Ele o mais importante é
vencer a morte do que afastar a doença. Amar, para o Cristo, não é arrancar do
leito, mas dos Infernos, pois o que prepara para nós, lázaros da existência,
não é um remédio para nossas enfermidades, mas a glória da Ressurreição (cf.
Pedro Chrysólogo, Sermão 63).
Meditemos esta frase desconcertante de Jesus: “Lázaro está morto. Mas por causa
de vós, alegro-me por não ter estado lá, para que creiais”. E Aquele que chorou
a morte do amigo nos fez saber para todo o sempre de que era necessária esta
morte, daquele que amava, para que a nossa fé sepultada com Lázaro
ressuscitasse com Ele para a glória bendita de Deus. Somos chamados à liberdade
do Espírito, basta ouvirmos no mais íntimo de nós e arriscar na travessia o
apelo de Jesus que ecoará até o fim dos tempos: “Desatai-o e deixai-o
caminhar!”.
CONTEMPLAR
Sem título, 1900,
desenho de Käte Kollwitz, Museu Käte Kollwitz, Berlim, Alemanha.