segunda-feira, 29 de julho de 2013

O Caminho da Beleza 37 - XVIII Domingo do Tempo Comum


O Caminho da Beleza 37
Leituras para a travessia da vida


A beleza é a grande necessidade do homem; é a raiz da qual brota o tronco de nossa paz e os frutos da nossa esperança. A beleza é também reveladora de Deus porque, como Ele, a obra bela é pura gratuidade, convite à liberdade e arranca do egoísmo” (Bento XVI, Barcelona, 2010).

Quando recebia tuas palavras, eu as devorava; tua palavra era o meu prazer e minha íntima alegria” (Jr 15, 16).

“Não deixe cair a profecia” (D. Hélder Câmara, 1999, dias antes de sua passagem).

XVIII Domingo do Tempo Comum                        04.08.2013
Ecl 1, 2; 2, 21-23              Cl 3, 1-5.9-11                      Lc 12, 13-21


ESCUTAR


“Vaidade das vaidades! Tudo é vaidade” (Ecl 1, 2).

“Pois vós morrestes e a vossa vida está escondida, com Cristo, em Deus” (Cl 3, 3).

“Atenção! Tomais cuidado contra todo tipo de ganância, porque, mesmo que alguém tenha muitas coisas, a vida de um homem não consiste na abundância de bens” (Lc 12, 15).


MEDITAR

“Eu tenho mais apreço pelo desprendimento do que pelo amor. Em primeiro lugar, porque o melhor do amor é que ele me força a amar a Deus, enquanto o desprendimento força Deus a me amar” (Mestre Eckhart).

“Esquecer de si e passar por cima das regras habituais regidas pelo ‘respeito humano’, esse tipo de autocensura social que paralisa, para apostar tudo, para tudo arriscar, até mesmo nossa lógica habitual, deslocada pela força de nossa fé no outro – eis o começo de outra vida, de uma cura” (Françoise Dolto).


ORAR


Que sentido tem a vida? É a pergunta que perpassa os textos deste domingo. O provisório da vida, a finitude da existência são as certezas únicas que temos. E ainda acreditamos que as posses materiais conseguem acrescentar um segundo a mais nas nossas vidas. Paulo exortava: “O amor ao dinheiro é a raiz de todos os males” (1 Tm 6, 10) e Tomás de Aquino dava o retoque final: “A avareza reside no coração e seus frutos são a inquietude, a violência, o perjúrio, a fraude, a corrupção e a traição”. Nada muda no decorrer do mundo e resistimos em aprender: “Um homem que trabalhou com inteligência, competência e sucesso vê-se obrigado a deixar tudo em herança a outro que em nada colaborou”. O dinheiro é sempre a extensão das nossas crenças e atitudes e medimos a vida das pessoas pelo dinheiro que entra e pelo que sai. Para a alma do capitalista, quem não acumula bens não tem nenhum valor e nem poder e, no entanto, para o Evangelho aquele que acumulou riquezas perdeu a vida. A regra de ouro do Cristo em relação ao dinheiro é não acumular, mas repartir: “Não acumuleis riquezas na terra, onde roem a traça e o caruncho, onde os ladrões arrombam e roubam” (Mt 6, 19) e mais uma vez Tomás de Aquino completa: “O homem avarento endurece o seu coração para evitar que, movido pela compaixão, venha ajudar alguém à custa de suas posses e de seus bens”. O coração endurecido transforma a vida numa sucessão interminável de mesquinharias e sovinices e acredita que todo homem tem seu preço e que, por esta razão, o dinheiro pode comprar tudo: da consciência pessoal à vida cotidiana. Algumas pessoas sofrem porque não têm o que herdar, outras sonham com uma herança que possa resolver seus problemas, mas a vida tem nos ensinado que é justamente no acerto de contas da herança que a ganância e a ambição aparecem com suas garras devoradoras que destroem a suposta harmonia familiar. A ganância não conhece limites e condena o que deseja riquezas a utilizar todos os meios ao seu alcance para saciar a sua ambição de ser o mais rico possível. Tudo o que fazemos por ambição acaba em destruição e morte: “Não temas se alguém enriquece e aumenta o fausto de sua casa, pois ao morrer não levará nada e seu fausto não descerá com ele ao seu túmulo” (Sl 48, 17). A cobiça empobrece o homem e o torna desumano e o converte num cego desprovido de uma única luz capaz de clarear a sua noite inevitável. Meditemos o provérbio árabe: “Não tente e nem se esforce para mostrar as estrelas a um cego: ele não as pode ver”.


CONTEMPLAR

Morte do avarento, Hieronymus Bosch, c. 1500, óleo sobre madeira, 92,6 x 30,8 cm, Galeria Nacional de Arte, Washington (D.C.), Estados Unidos.

segunda-feira, 22 de julho de 2013

O Caminho da Beleza 36 - XVII Domingo do Tempo Comum


O Caminho da Beleza 36
Leituras para a travessia da vida


A beleza é a grande necessidade do homem; é a raiz da qual brota o tronco de nossa paz e os frutos da nossa esperança. A beleza é também reveladora de Deus porque, como Ele, a obra bela é pura gratuidade, convite à liberdade e arranca do egoísmo” (Bento XVI, Barcelona, 2010).

Quando recebia tuas palavras, eu as devorava; tua palavra era o meu prazer e minha íntima alegria” (Jr 15, 16).

“Não deixe cair a profecia” (D. Hélder Câmara, 1999, dias antes de sua passagem).


XVII Domingo do Tempo Comum              28.07.2013
Gn 18, 20-32                     Cl 2, 12-14               Lc 11, 1-13


ESCUTAR

“Estou sendo atrevido em falar a meu Senhor, eu que sou pó e cinza” (Gn 18, 27).

“Com Cristo fostes sepultados no batismo; com ele também fostes ressuscitados por meio da fé no poder de Deus, que ressuscitou a Cristo dentre os mortos” (Cl 2, 12).

“Portanto, eu vos digo, pedi e recebereis; procurai e encontrareis; batei e vos será aberto. Pois quem pede recebe; quem procura encontra; e, para quem bate, se abrirá” (Lc 11, 9-10).


MEDITAR

 “Não era o ar movido pela voz que chegava aos ouvidos do profeta, mas Deus que falava em seu íntimo” (São Jerônimo, comentando a sabedoria do profeta Isaías).

A oração é o secreto absoluto. É totalmente oposta à publicidade. Quem ora já não conhece a si mesmo, mas somente a Deus a quem invoca (Dietrich Bonhoeffer).


ORAR

Duas cenas ficam gravadas na memória: a estupenda negociação entre Abraão e Deus e o colóquio noturno entre o indivíduo inoportuno e o amigo despertado de sobressalto à meia noite. Uma oração de intercessão e a outra de petição e ambas sob o signo da insistência, da coragem, da confiança e, inclusive, do enfrentamento. Ambas são escutadas. Até então, as culpas de um ou de poucos eram pagas por toda a coletividade e agora Abraão se bate com humildade, mas com decisão, para que a inocência de uma minoria seja motivo de perdão para todos os outros pecadores. Abraão descobre que no Senhor encontra-se uma justiça disposta a dar espaço ao perdão e que, em Deus, a vontade de salvar prevalece sobre a de castigar. No Evangelho, a oração é um apelo não ao juiz da terra, mas a um Deus que é Pai. Cristo autoriza a nos dirigirmos a Deus como Pai, esta palavra-chave que abre de par em par todas as portas, inclusive as mais inacessíveis e legitima as aspirações as mais impossíveis. Não se trata de colocar na balança o peso dos justos, mas a nossa condição de filhos e filhas. Podemos pedir ousadamente e, ao mesmo tempo, neste pedido nos comprometemos. No Pai Nosso escutamos o que Deus espera de nós, ou seja, exatamente as mesmas coisas que pedimos a Ele. O Pai nos escuta, mas não nos tempos e nos modos fixados por nós. Podemos estar seguros que “o Pai do céu dará o Espírito Santo aos que o pedirem” e o Espírito Santo é o princípio da liberdade e da imprevisibilidade. O Pai nos escuta, certamente, mas do seu modo que é a generosidade infinita de um pai e não do nosso modo que é sempre redutivo e restritivo. Nós cristãos, devemos preferir sempre um Deus que nos surpreenda a um Deus que nos satisfaça e contente, pois devemos confiar mais em suas respostas do que em nossas perguntas, mais nos seus dons do que em nossos pedidos. A oração ensinada por Jesus deve nos conduzir a um silêncio de escuta do nosso ser que vibra em sintonia com a humildade da entrega – “Seja feita a tua vontade”, e com a permanente insistência – “Mas livrai-nos do Mal”.


CONTEMPLAR

Be (ser), Barbara Kruger, 1985, foto-litografia offset e serigrafia em folha de papel, 52.0 x 52.0 cm, Newark, New Jersey, Estados Unidos.

segunda-feira, 15 de julho de 2013

O Caminho da Beleza 35 - XVI Domingo do Tempo Comum


O Caminho da Beleza 35
Leituras para a travessia da vida

A beleza é a grande necessidade do homem; é a raiz da qual brota o tronco de nossa paz e os frutos da nossa esperança. A beleza é também reveladora de Deus porque, como Ele, a obra bela é pura gratuidade, convite à liberdade e arranca do egoísmo” (Bento XVI, Barcelona, 2010).

Quando recebia tuas palavras, eu as devorava; tua palavra era o meu prazer e minha íntima alegria” (Jr 15, 16).

“Não deixe cair a profecia” (D. Hélder Câmara, 1999, dias antes de sua passagem).

XVI Domingo do Tempo Comum                21.07.2013
Gn 18, 1-10             Cl 1, 24-28              Lc 10, 38-42


ESCUTAR

Voltarei, sem falta, no ano que vem, por este tempo, e Sara, tua mulher, já terá um filho” (Gn 18, 10).


“Alegro-me de tudo o que já sofri por vós e procuro completar na minha própria carne o que falta das tribulações de Cristo, em solidariedade com o seu corpo, isto é, a Igreja” (Cl 1, 24).

“Marta, Marta! Tu te preocupas e andas agitada por muitas coisas. Porém uma só coisa é necessária. Maria escolheu a melhor parte e esta não lhe será tirada” (Lc 10, 41).


MEDITAR

“Muitos homens religiosos, à força de observâncias e renúncias, se tornam duros de coração. Porque se tratam de observâncias e renúncias que apontam justamente ao coração. E em lugar de fazê-lo bondoso, o endurecem, o secam e o fazem indiferente ao que passa na vida” (José M. Castillo).

“Mesmo nos momentos mais trágicos, o cristão não tem outro direito senão o de criar alegria. Dele é exigida permanentemente a arte de transfigurar as horas mortas, as ações medíocres, a monotonia cotidiana. Seu dever é resgatar toda a sua participação na náusea do mundo” (Emmanuel Mounier).

ORAR


A hospitalidade é um dos sinais de fidelidade ao mandamento do amor sem fronteiras. Aquele-que-chega é sempre uma presença misteriosa e pode mudar, radicalmente, a nossa vida. A hospitalidade verdadeira é sempre acompanhada com frutos de fecundidade, basta escutarmos o que o hóspede tem a nos dizer. A hospitalidade cristã tem sua expressão mais no mistério eucarístico: os que recebem o pão divino descobrem que, na realidade, são recebidos pela Trindade amorosa que neles faz a sua morada. A hospitalidade rompe o anonimato e o isolamento, pois nela somos e existimos para alguém e para uma comunidade. A palavra de Jesus é dada gratuitamente desde que estejamos disponíveis para escutá-la e cumpri-la. Escutar a palavra de Jesus é acolher a mensagem de envio para o serviço ao outro. O evangelista mostra Jesus soberano na sua liberdade ao abolir a exclusão sócio-religiosa e ser recebido na casa de duas mulheres. Marta fica atribulada em hospedar o Mestre que sempre chegava sem aviso prévio e acompanhado de muita gente. Maria, no entanto, transgride duplamente: primeiro, deixa de lado o papel tradicional da mulher ao não ajudar a sua irmã na acolhida aos hóspedes; segundo, senta-se aos pés de Jesus, como os discípulos sentavam-se, nos banquetes, aos pés de seus mestres. O erro de Marta é um erro de perspectiva. O de não entender que a chegada do Cristo significa, principalmente, a grande ocasião que não se pode perder e, consequentemente, a necessidade de sacrificar o importante pelo urgente. Devemos sempre nos perguntar quem está no centro da casa: o Senhor ou Marta. Ao nos dedicarmos às coisas do Senhor, esquecemos da acolhida profunda e silenciosa da sua palavra, como fez Marta, que viu a si mesma. Mestre Eckhart escrevia: “Quanto menos alguém procurar a si mesmo no ser amado tanto mais o prazer de se unir a ele”. O afã cotidiano deste mundo pode abafar a escuta e nos fazer sucumbir nas preocupações diárias. E Jesus alerta: “A cada dia basta a sua preocupação”. A hospitalidade nos conduz às aragens do sagrado, pois “graças à hospitalidade alguns, sem o saber, acolheram anjos” (Hb 13, 2). A hospitalidade nos liberta do narcisismo, de olharmos somente para nós, pois quanto mais temos necessidade de espelhos tanto mais Deus passa a vida a quebrá-los.


CONTEMPLAR

Santa Trindade (A Hospitalidade de Abraão), anônimo, ícone de meados do século XVI, escola de Novgorod, Rússia.

segunda-feira, 8 de julho de 2013

O Caminho da Beleza 34 - XV Domingo do Tempo Comum


O Caminho da Beleza 34
Leituras para a travessia da vida


A beleza é a grande necessidade do homem; é a raiz da qual brota o tronco de nossa paz e os frutos da nossa esperança. A beleza é também reveladora de Deus porque, como Ele, a obra bela é pura gratuidade, convite à liberdade e arranca do egoísmo” (Bento XVI, Barcelona, 2010).

Quando recebia tuas palavras, eu as devorava; tua palavra era o meu prazer e minha íntima alegria” (Jr 15, 16).

“Não deixe cair a profecia” (D. Hélder Câmara, 1999, dias antes de sua passagem).


XV Domingo do Tempo Comum                  14.07.2013
Dt 30, 10-14                       Cl 1, 15-20               Lc 10, 25-37


ESCUTAR

“Esta palavra está bem ao teu alcance, está em tua boca e em teu coração, para que a possas cumprir” (Dt 30, 14).

“Deus quis habitar Nele com toda a sua plenitude e por ele reconciliar consigo todos os seres, os que estão na terra e no céu, realizando a paz pelo sangue da sua cruz” (Cl 1, 19-20).

“Vai e faze a mesma coisa!” (Lc 10, 37).


MEDITAR

“Sem Cristo não conheceríamos Deus, não poderíamos invocá-lo nem vir a ele. Sem Cristo também não conheceríamos o irmão nem poderíamos encontrá-lo. O caminho está bloqueado pelo próprio eu. Cristo desobstruiu o caminho que leva a Deus e ao irmão” (Dietrich Bonhoeffer).

“Isso é a experiência religiosa: o estupor de encontrar alguém que está nos esperando. A partir desse momento, para mim, Deus é o que está um passo à frente. Você o está buscando, mas ele o busca primeiro. Queremos encontrá-lo, mas ele nos encontra primeiro” (Papa Francisco).


ORAR

Cristo é o revelador do rosto escondido, inacessível do Senhor e do seu desígnio de amor para a humanidade. Este desígnio permanece fechado para duas categorias de pessoas: os doutos que se limitam a um conhecimento intelectual e os justos praticantes que demonstram sua incapacidade de reconhecer o próximo ao se deparar com ele. O doutor da Lei é um pedante: pretende discutir, justificar seu próprio saber diante de Jesus, definir o conceito exato de próximo e determinar com precisão os limites do amor. Jesus não entra nesta armadilha ardilosa e nem se deixa enredar num debate interminável, apenas aponta ao interlocutor que lhe falta traduzir o saber em fazer, pois dois verbos faltam em seu vocabulário: ir e fazer. Na parábola tanto o sacerdote como o levita viram o homem caído e seguiram “adiante pelo outro lado”. Os dois especialistas da religião pretendiam atingir a Deus e, por esta razão, passaram ao largo do outro, que necessitava de auxílio, pois para eles era um obstáculo que os impediria de chegar mais rápido a Deus. O sacerdote, para realizar o seu programa religioso, não admite correr o risco de se atrasar caso fosse atender às necessidades do homem espancado e quase morto. Seu itinerário espiritual não tolera atrasos, desvios, distrações e imprevistos. Seus deveres legais são mais importantes que o coração, a humanidade e a ternura. Não podemos nos enredar na cilada da grande ilusão: a de que podemos chegar a Deus passando ao largo, por cima do próximo, e de que podemos encontrar a Deus sem ter necessidade de encontrar o irmão. Não podemos nos ocupar das coisas de Deus sem nos darmos conta de que o que interessa a Ele são as necessidades dos homens e mulheres, seus filhos e filhas. Jesus é incisivo ao revelar que não existe nenhum “outro lado” do caminho que possa conduzir a Deus. O sacerdote e o levita chegaram sem obstáculos até o final da estrada, mas faltaram ao encontro. O samaritano não deu mais do que dois passos, mas na direção exata e encontrou Deus.  Amar o próximo é amar o Deus que existe nele e o papa Bento XVI nos exorta: “Amor a Deus e amor ao próximo se fundem entre si: no mais humilde e pequenino encontramos o próprio Jesus e em Jesus encontramos Deus” (Deus Caritas Est, 5). Com todos os riscos possíveis devemos sempre nos indagar: “O que acontecerá a este homem se eu não parar para ajudá-lo?”. As estradas da vida são malditas não somente porque escondem bandidos, corruptos, mentirosos e hipócritas. As estradas da nossa vida serão malditas quando revelarem a ausência de amor que é o nome da indiferença. Que não sejamos nem como o sacerdote e nem como o levita, mas sobretudo que não sejamos os assaltantes que aviltam a dignidade humana em nome do seu poder civil e religioso e cujas vidas são um constante escarro na face de Deus.


CONTEMPLAR

O Bom Samaritano, Cláudio Pastro, in: Parábolas, São Paulo, Paulinas, Brasil, 2002.

segunda-feira, 1 de julho de 2013

O Caminho da Beleza 33 - XIV Domingo do Tempo Comum


O Caminho da Beleza 33
Leituras para a travessia da vida

A beleza é a grande necessidade do homem; é a raiz da qual brota o tronco de nossa paz e os frutos da nossa esperança. A beleza é também reveladora de Deus porque, como Ele, a obra bela é pura gratuidade, convite à liberdade e arranca do egoísmo” (Bento XVI, Barcelona, 2010).

Quando recebia tuas palavras, eu as devorava; tua palavra era o meu prazer e minha íntima alegria” (Jr 15, 16).

“Não deixe cair a profecia” (D. Hélder Câmara, 1999, dias antes de sua passagem).


XIV Domingo do Tempo Comum              07.07.2013
Is 66, 10-14                        Gl 6, 14-18                          Lc 10, 1-12


ESCUTAR

“Sereis amamentados, carregados ao colo e acariciados sobre os joelhos. Como uma mãe que acaricia o filho, assim eu vos consolarei; e sereis consolados em Jerusalém” (Is 66, 12-13).

“Pois nem a circuncisão nem a incircuncisão têm valor; o que conta é a criação nova” (Gl 6, 15).

“O Senhor escolheu outros setenta e dois discípulos e os enviou dois a dois na sua frente, a toda cidade e lugar aonde ele próprio devia ir” (Lc 10, 1).


MEDITAR

Vocatus atque non vocatus, Deus aderit [Chamado ou não chamado, Deus estará presente] (Frase na porta de entrada da casa de Carl Jung).

Há espaço para tudo numa única vida. Para acreditar em Deus e para um fim miserável... é uma questão de se viver a vida de minuto a minuto, acolhendo, além disso, o sofrimento (Etty Hillesum, Diários 1941-42).


ORAR

Não há vocação sem missão, pois a vocação está em razão da missão: aquele que é chamado é sempre enviado. A missão diz respeito a todos e não somente a alguns especialistas: toda a comunidade eclesial é missionária e todos os batizados são responsáveis pelo anúncio da Boa Nova. Neste anúncio existe uma palavra de alegria e de paz e no outro extremo está a Cruz de Cristo. Os que sofrem recebem as consolações maternais de Deus. A participação no mistério pascal evita que o cristão ceda ao triunfalismo ou ao desânimo diante dos fracassos. A fecundidade da Palavra não se verifica nem pelo êxito nem pelo fracasso, mas por germinar e crescer no terreno árido do Calvário. Em sua primeira homilia como papa, criticando as benesses e o carreirismo na Igreja, Francisco nos adverte: “Quando caminhamos sem a Cruz, quando edificamos sem a Cruz e quando confessamos um Cristo sem Cruz, não somos discípulos do Senhor: somos mundanos, somos Bispos, Padres, Cardeais, Papas, mas não discípulos do Senhor” (14.03.2013). A fonte da missão está na oração e não num projeto humano, pois a missão é graça e dom e nenhum apóstolo é forjado em laboratórios especializados. O vínculo pessoal com o Cristo é vital, pois sem a oração a missão se converte em profissão. O teólogo Urs von Balthasar escrevia: “Uma coisa é certa: ninguém pode se entregar ao amor de Deus por decepção de um amor humano. Não se pode, por não se amar ninguém e nem a nada, acreditar que se ama a Deus”. A missão está sob o signo da fraqueza, da mansidão e de uma entrega sem reservas e sem pretensões. A única força do cristão é uma palavra que pode ser recusada, burlada e hostilizada e se ela não estiver penetrada pelo amor de Cristo, a missão se transforma em conquista. A missão é marcada pela pobreza e pela gentileza: “Não deixeis de saudar ninguém pelo caminho”. O apóstolo sabe que o evangelho não passa por meio das reverências sociais, sorrisos formais e discursos de circunstâncias. É preciso sacudir o pó dos aplausos, dos entusiasmos emotivos, das adesões de conveniência para que surja a essência do Evangelho. Se a missão não assume este estilo de pobreza se transforma em empresa, propaganda e espetáculo. Nestes tempos ardilosos de sucesso e eficácia, não devemos nos preocupar com o êxito da nossa missão, pois Jesus nos preveniu que o sucesso não está incluído nela: “Sereis expulsos da sinagoga. Chegará um tempo quando quem vos matar pensará oferecer um culto a Deus” (Jo 16, 2).


CONTEMPLAR

Os frutos, Patrice Delaby, 2012, óleo sobre tela, Pas-de-Calais, França.