O Caminho da Beleza 06
Leituras para a travessia da vida
“A
beleza é a grande necessidade do homem; é a raiz da qual brota o tronco de
nossa paz e os frutos da nossa esperança. A beleza é também reveladora de Deus
porque, como Ele, a obra bela é pura gratuidade, convite à liberdade e arranca
do egoísmo” (Bento XVI, Barcelona, 2010).
“Quando
recebia tuas palavras, eu as devorava; tua palavra era o meu prazer e minha
íntima alegria” (Jr 15, 16).
“Não
deixe cair a profecia” (D.
Hélder Câmara, 1999, dias antes de sua passagem).
Sagrada Família 30.12.2012
Eclo 3, 3-7.14-17 Cl 3, 12-21 Lc 2, 41-52
ESCUTAR
“Quem respeita o seu pai, terá vida longa, e quem obedece ao pai é o
consolo da sua mãe” (Eclo 3, 7).
“Vós sois amados por Deus, sois os seus santos eleitos. Por isso,
revesti-vos de sincera misericórdia, bondade, humildade, mansidão e paciência,
suportando-vos uns aos outros e perdoando-vos mutuamente, se um tiver queixa
contra o outro” (Cl 3, 12-13).
“Jesus respondeu: ‘Por que me procuráveis? Não sabeis que devo estar
na casa de meu Pai’. Eles, porém, não compreenderam as palavras que lhes
dissera” (Lc 2, 49).
MEDITAR
“Sim, tu me deste muito. Mas eu te peço muito mais. Não venho a ti só
por um gole d’água. Quero a fonte. Não venho para que me levem apenas até a
porta. Quero ir até a sala do Senhor. Não venho apenas para receber o dom do
amor. Desejo o próprio Amante” (R. Tagore).
“Deus diz: ‘Eu sou a bondade soberana de todas as coisas. Eu sou o que
faz você amar. Eu sou o que faz você durar e desejar. Eu sou isto – o
cumprimento sem fim de todos os desejos’” (Julian de Norwich).
ORAR
Na tradição do Antigo Testamento a família era
constituída para procriação e repousava sobre uma estrutura patriarcal de
parentesco cujo principal cuidado era a perpetuação de uma linhagem. A família de Jesus é uma reviravolta
nesta tradição. Maria, como rezava a tradição, havia sido “prometida a um homem
chamado José, da família de Davi” (Lc 1, 27), mas o Arcanjo Gabriel lhe anuncia
algo absolutamente revolucionário: a nova
família será constituída a partir de afinidades eletivas e escolhas
amorosas. José, em sonho, ouviu a palavra do anjo e a respondeu acolhendo a
jovem e a criança que ela carregava no ventre, ainda que não fosse o autor
desta gravidez e nem o genitor deste filho. José confia e se coloca disponível:
"José não tenhas medo de acolher Maria como tua esposa, pois o que ela
concebeu é obra do Espírito Santo”. Uma mulher plena do Espírito de Deus não
pode e nunca poderá ser submissa. Maria, em vigília, ouve a palavra do anjo e,
apesar de temerosa e perturbada confia e se coloca à disposição do desígnio de
Deus. Ouvir a palavra, responder com um sim
incondicional e estar absolutamente disponível são os novos pilares desta
nova estrutura familiar na qual o amor recíproco e o crer sustentam a
comunidade cristã e cada família nas
suas plurais formas de existir. José e Maria ensinam – ele em estado de sono e
ela em estado vigília – que devemos estar sempre, consciente ou
inconscientemente, disponíveis para escutar e acolher a palavra de Deus. Não podemos
nos confundir: existe um abismo entre sermos pais e genitores. Um homem e uma
mulher precisam de alguns segundos para se tornar genitores e são estes que vêm
seus filhos como propriedade particular, preocupados em fazer crescer o
patrimônio familiar e em continuar o sobrenome da família. Na família de Deus,
gerada a partir de Maria, José e Jesus, ser pai, mãe e filho é uma aventura de
outra natureza. É uma escolha amorosa, uma afinidade eletiva e um compromisso
de entrega para educar e conduzir os seus filhos e filhas para opções de
liberdade que poderão gerar mais vida e mais desejos. Para a mentalidade
retrógada dos que se reduziram à família nuclear burguesa tudo escandaliza nesta
Santa Família. A família de Deus se concretiza de uma forma extraordinária aos
padrões convencionais sacralizados: José, um homem sem mulher; Maria, uma
virgem sem esposo e Jesus, uma criança sem pai. Deus revela, para todo o
sempre, que o mais importante é a adoção pelo coração, o centro da vida. A
revelação perturbadora é a de que só existem pais adotivos que superam a sua
condição de genitores biológicos quando há a atitude radical da disponibilidade
de dar a sua vida pelos que amam. Esta, segundo Jesus, é a maior prova de amor.
Cada filho é portador de um mistério. Existe nele uma vocação pessoal, única,
que nunca se repete e que jamais poderá ser sacrificada aos nossos projetos
egoístas, às nossas ambições utilitaristas. Cada componente da família
representa uma realidade consagrada que deve ser respeitada e valorizada.
Nenhuma postura arbitrária contrária à dignidade e à liberdade deve profanar
essa sacralidade que é própria da pessoa. A Sagrada Família nos ensina que
devemos viver e preparar os nossos filhos para a imprevisibilidade de Deus.
Somente o exercício da oração e do silêncio poderá trazer, como trouxe aos pais
de Jesus, a inteligência da carne, do coração e do espírito. E, neste silêncio,
poderemos descobrir, como afirma Paulo, que “somos cidadãos do céu” (Fl 3, 20).
A família de Deus é cósmica e nela se cumpre a Sua promessa: “Eis que farei
novas todas as coisas e renovarei o universo!” (Ap 21, 5).
CONTEMPLAR
A Santa Família, ícone com base na pintura a óleo de Francisco
Argüello, s. d., 25 x 30 cm, Ícones do Atelier Notre-Dame, Paris, França.