O Caminho da Beleza 27
Leituras para a travessia da vida
“A beleza é a grande necessidade do homem; é a raiz da qual brota o tronco de nossa paz e os frutos da nossa esperança. A beleza é também reveladora de Deus porque, como Ele, a obra bela é pura gratuidade, convite à liberdade e arranca do egoísmo” (Bento XVI, Barcelona, 2010).
“Quando recebia tuas palavras, eu as devorava; tua palavra era o meu prazer e minha íntima alegria” (Jr 15, 16).
V Domingo da Páscoa 22.05.2011
At 6, 1-7 1 Pd 2, 4-9 Jo 14, 1-12
ESCUTAR
“Eles foram apresentados aos apóstolos, que oraram e impuseram as mãos sobre eles. Entretanto, a palavra do Senhor se espalhava” (At 6, 6).
“Para os que não crêem, ‘a pedra que os construtores rejeitaram tornou-se a pedra angular, pedra de tropeço e rocha que faz cair’. Nela tropeçam os que não acolhem a palavra; esse é o destino deles” (1 Pd 2, 7-8).
“Na casa de meu Pai há muitas moradas. Se assim não fosse, eu vos teria dito. Vou preparar um lugar para vós e, quando eu tiver ido preparar-vos um lugar, voltarei e vos levarei comigo, a fim de que, onde eu estiver, estejais também vós. Eu sou o caminho, a verdade e a vida” (Jo 14, 2-3.6).
MEDITAR
“Deus, invisível revela-se por causa do seu muito amor, falando aos homens como a amigos e conversando com ele, para convidá-los a estarem com ele no seu convívio. A verdade profunda a respeito de Deus e da salvação humana brilha em Cristo, que é, ao mesmo tempo, mediador e plenitude da revelação” (Dei Verbum, 2).
“Deus torna cada um de nós capaz de escutar e responder à Palavra divina. O homem é criado na Palavra e vive nela; e não se pode compreender a si mesmo, se não se abre a este diálogo. A Palavra de Deus revela a natureza filial e relacional da nossa vida. Por graça, somos verdadeiramente chamados a configurar-nos com Cristo, o Filho do Pai, e a ser transformados n’Ele” (Verbum Domini, 22).
ORAR
Desde a criação da humanidade por Deus, os homens conhecem as dificuldades para lhe fazer uma morada. Na liturgia de hoje, não são os homens que procuram uma morada para Deus, mas Deus que lhes abre a sua morada e revela que somos todos suas moradas plurais e diversas: “Se alguém me ama, guardará a minha Palavra: meu Pai o amará e nós viremos e faremos nele a nossa morada” (Jo 14, 23). As casas da Palestina eram de pequenas dimensões e, por esta razão, o evangelista usa a imagem das “muitas moradas” para que saibamos que há lugar para todos na casa do Pai. A morada do Pai é o seu próprio Filho, pois no Cristo, Jesus e o Verbo de Deus se fazem um só e conhecer o Pai é crer, que no Cristo, Deus e o homem são um só: “Quem me viu, viu o Pai”. Reconhecer o Pai no seu Filho Jesus é descobrir que Deus habita em cada um dos homens e mulheres. Nestes tempos de perversidade e intolerância, devemos acolher a todos como moradas de Deus, com a certeza de que Dele emana o amor que nos faz amar uns aos outros. O Evangelho apresenta o Cristo se revelando como o Caminho, a Verdade e a Vida e isto significa que só atravessaremos o Caminho para chegarmos à plenitude da Vida se formos capazes de viver em Verdade e sermos mediados por ela. Jesus enfatiza que entre o Caminho e a Vida existe a Verdade e esta nos libertará (Jo 8, 32). As três leituras de hoje nos apontam as marcas essenciais da Igreja de Jesus: uma Igreja da visibilidade e da transparência, sem discriminação; uma Igreja de construtores com as pedras desprezadas, mas vivas; uma Igreja aberta para compreender e se tornar capaz de mostrar ao mundo um outro caminho. A tradição da Igreja apresenta os conselhos evangélicos da pobreza, obediência e castidade como expressões da vida em comunhão com Deus e, mais do que nunca, a Igreja de Jesus é chamada a dar testemunho destes mesmos conselhos. O da pobreza, como uma contestação de todas as relações baseadas sobre os poderes do ter; o da obediência, como um questionamento lúcido das tentações de dominação e imposição da vontade que habitam o mais íntimo dos corações; e o da castidade, como uma transfiguração dos afetos, numa interrogação sobre a morte e sobre os vínculos com a vida, empenhando-nos em construir um destino comum, mesmo que possamos, num desapego existencial, morrer sem deixar nenhuma descendência. Jesus nos garante várias moradas na casa do Pai e que Ele vai preparar um lugar para nós. Jesus não remete os reencontros com os discípulos para o fim dos tempos, mas os faz saber, no seu discurso de despedida, que é a sua morte próxima que abrirá a todos a casa do Pai, pois a morte é passagem para a Vida. Diante desta promessa do Ressuscitado, só nos resta viver intensamente este instante emprestado a que chamamos vida (Cecília Meireles), pois “o futuro se encontra na inutilidade do hoje” (Bernardo de Claraval).
CONTEMPLAR
Trindade, Lorenzo Lotto, 1523-24, óleo sobre tela, 170 x 115 cm, Igreja Sant'Alessandro della Croce, Bergamo, Itália.
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